Promotor de Justiça Célio Fúrio confirmou investigação e fala em "estranha coincidência"
MPE investiga se Amaggi foi beneficiada com asfalto
O Ministério Público Estadual (MPE) instaurou um procedimento investigatório para apurar se a nova sede do Grupo André Maggi, de propriedade do ex-governador e atual senador Blairo Maggi (PR), foi beneficiada por uma obra de drenagem e pavimentação asfáltica que está sendo feita com recursos públicos da ordem de R$ 2,1 milhões.
A nova sede da Amaggi está em fase final de construção e localizada na Avenida Hélio Ribeiro, no bairro Jardim Eldorado, em Cuiabá.
A mesma avenida está sendo duplicada através da Secretaria de Estado de Transporte e Pavimentação Urbana (antiga Sinfra). A Constil Construções e Terraplanagem, com sede em Várzea Grande, venceu a licitação e executa a obra.
Os recursos (R$ 2.168.476,00) são oriundos de uma emenda parlamentar federal e englobam os serviços de drenagem e pavimentação asfáltica da avenida e travessas do loteamento que a margeia.
Segundo denúncia feita ao MPE, o Governo do Estado teria se aproveitado da proximidade da obra para fazer um "agrado" ao ex-governador e hoje senador, asfaltando a lateral e os fundos das futuras instalações da Amaggi.
A denunciante, que se identifica como funcionária pública, afirma que viu os mesmos caminhões e funcionários da Constil realizarem o asfaltamento do entorno da futura sede do grupo de agronegócios.
A denúncia também relata o fato de caminhões do DNIT (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes) estarem sendo usados na obra. O senador Maggi foi padrinho de Luiz Antônio Pagot, que comandou o órgão até julho deste ano, mas foi demitido pela presidente Dilma Rousseff (PT) por suspeitas de irregularidades.
"Situação atípica"
"É muito estranha essa coincidência. Já instauramos o procedimento e o Ministério Público vai investigar essa situação", afirmou o promotor de Justiça Célio Joubert Furio, coordenador do Núcleo de Defesa do Patrimônio Público e Probidade Administrativa.
Segundo ele, o Governo do Estado será notificado a apresentar todos os documentos referentes à licitação e à obra de pavimentação.
"A questão fundamental é sabermos todos os detalhes do projeto de execução da obra. Se esse asfaltamento (no entorno da obra da Amaggi) estava no projeto original, se foi um complemento inserido ou não no contrato, se houve autorização de algum servidor público para o asfaltamento do local e se o serviço foi pago com recursos públicos", afirmou Furio.
Para ele, a denúncia, mesmo anônima, apresentou a "razoabilidade" necessária para justificar a investigação.
"O fato, a narrativa e a forma como foram apresentados os elementos justificam uma investigação sobre o que está acontecendo. Trata-se de uma situação muito atípica", avaliou.
O promotor Célio Fúrio informou que, inicialmente, o Grupo Amaggi não será convocado para prestar esclarecimentos. "O nosso foco, a partir de agora, será a esfera pública. Se, mais para frente, o Ministério Público diagnosticar irregularidades, poderemos convocar a empresa", disse.
Outro lado
Na última quinta-feira, a reportagem entrou em contato com a assessoria de imprensa do Grupo André Maggi e solicitou um posicionamento sobre a denúncia. Até o fechamento desta matéria não houve retorno.
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