Especialistas dizem que acidente no Rio deve servir de alerta para riscos ambientais
Indústria do petróleo vacila na hora de conter vazamentos com rapidez
Desenvolver uma resposta capaz de conter um vazamento de óleo no mar com a agilidade necessária para reduzir danos ambientais ainda é um grande desafio para a indústria do petróleo, que desempenha atividade de alto risco, cuja matéria-prima principal é potencialmente "suja" e envolve perfurações em regiões ultraprofundas, em pressões altas e com volumes gigantescos de gás.
Especialistas ouvidos pelo R7 são categóricos ao afirmar que, embora qualquer empresa que explore petróleo esteja suscetível a vazamentos, elas ainda não dispõem de técnicas e procedimentos adequados para reduzir os impactos ambientais em caso de acidentes.
No golfo do México (EUA), cerca de 800 milhões de litros de óleo vazaram de forma contínua por quase três meses, causando a morte de 11 operários e um enorme dano ambiental no litoral de quatro Estados americanos.
Mestre em Planejamento Energético pela UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) e sócio-diretor da consultoria Centro Brasileiro de Infraestrutura, o economista Adriano Pires afirma que o vazamento na bacia de Campos (norte fluminense) deve servir de lição para o Brasil, que despontará entre os maiores produtores de petróleo do mundo a partir da exploração da camada pré-sal.
- Está na hora de refletir de forma sensata sobre o desafio que temos pela frente. Esse acidente mostra que transformar petróleo do mar em riqueza não é tão simples. O que se verificou tanto naquele megavazamento nos Estados Unidos, como nesse na bacia de Campos é que, na hora em que vaza, há uma grande dificuldade em se conter de maneira rápida e muita demora em coletar o óleo que vazou.
A Chevron, empresa responsável pelo vazamento, demorou seis dias para tomar as primeiras providências para conter uma fenda aberta a 1.200 m da superfície durante uma perfuração no campo do Frade, na bacia de Campos.
A petroleira americana não tinha os equipamentos necessários para detectar o vazamento e precisou emprestar da Petrobras, que detém 30% do campo de Frade em sociedade com a Chevron, dois robôs capazes de fazer imagens submarinas. Para a ANP (Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis), a empresa também demorou a adotar o plano de emergência e não repassou as informações sobre o acidente para a agência.
Demora em conter vazamento
Nomeado perito pela PF (Polícia Federal), que abriu um inquérito para investigar o acidente, o oceanógrafo David Zee, professor da Uerj (Universidade do Estado do Rio), ressalta que as ações tomadas pela empresa após o vazamento surtiram pouco efeito.
- Deveria ter sido retirada grande parte desse óleo e isso não aconteceu. Não foi nem a empresa que descobriu o vazamento, foi a Petrobras. Ou seja, não atendeu ao primeiro quesito do Plano de Emergência Individual, que é a capacidade de detectar um vazamento. Também não vimos barreiras de contenção, nem um barco que retirasse uma quantidade significativa de óleo.
Sem uma resposta rápida nas 48 horas após o início do vazamento, a única alternativa que restou foi a dispersão mecânica, quando navios despejam jatos de água para espalhar a mancha. Segundo Zee, essa alternativa “deveria ser a última opção”.
- Esse vazamento mostrou que não temos capacidade de dar uma resposta adequada e à altura da segurança que o meio ambiente marinho precisa para explorar petróleo nessa profundidade. Essas empresas têm plena capacidade de mudar rapidamente sua postura quanto a esse aspecto. Tem tecnologia, recursos e gente qualificada. O que precisa é exigir que isso seja feito. Esperamos que isso seja um bom sinal para que se invista em segurança e garanta o futuro do pré-sal e da indústria offshore no país.
Petrobras: episódio não altera planejamento
O presidente da Petrobras, José Sergio Gabrielli, disse na quarta-feira passada (23) que o acidente não muda o investimento em segurança previsto pela estatal para a exploração do pré-sal.
- O grande investimento é na prevenção, na mudança de cultura dos funcionários e nos respeito aos procedimentos.
A ANP determinou a proibição das atividades de perfuração de poços da Chevron no país, 16 dias após o vazamento, por considerar que a empresa foi negligente.
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