Os partidos políticos espanhóis encerram nesta sexta-feira a campanha para as eleições gerais do domingo em um ambiente de profunda crise econômica e com o país submetido ao assédio dos mercados financeiros, enquanto Bruxelas recomenda a Madri que "ajude a si mesma". As cartas parecem já estar sobre a mesa para estas eleições, nas quais todas as pesquisas assinalam como claro vencedor o opositor Partido Popular (PP) que, dirigido pelo conservador Mariano Rajoy, tem todos os reflexos para desbancar do poder o Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE), no governo desde 2004.
Os quase cinco milhões de desempregados (mais de 21% da população economicamente ativa) e a crise econômica que se instalou de maneira especial na Espanha foram os principais protagonistas de uma campanha também marcada pelas tentativas do candidato socialista, o ex-ministro e ex-vice-presidente Alfredo Pérez Rubalcaba de encurtar a distância que separa o PSOE do PP nas pesquisas.
Rubalcaba aproveitou nesta sexta-feira para voltar a acusar Rajoy de utilizar a crise da dívida como principal instrumento desta batalha política e insistiu em que só os socialistas podem parar "o poder absoluto da direita". "Esta direita só é parada com um PSOE forte. É preciso concentrar os votos da esquerda, porque uma esquerda fraturada e fragmentada é uma esquerda débil, que não vai poder defender os direitos dos trabalhadores frente a esta direita difícil, a mais difícil da Europa", afirmou o ex-ministro do Interior em discurso feito em Punta Umbría (Huelva, sul do país).
Rubalcaba se referiu ao fantasma de uma direita que, disse, poderia monopolizar "um poder absoluto" se vencer no próximo domingo. Seu oponente do PP, em um comício também realizado em Huelva, pediu "um apoio em massa" no domingo para enviar uma mensagem de confiança para a Europa, para os mercados e "para as taxas de risco" da dívida da Espanha, que alcançou nos últimos dias níveis muito perigosos e desconhecidos até agora.
Embora já passada boa parte do dia tenha se moderado, nesta sexta-feira houve momentos em que a taxa de risco espanhola - o indicador que mostra a confiança que a dívida soberana cria nos mercados, em comparação com os bônus mais seguros do mundo, os alemães - superou a da Itália. "Deixaram-nos duros", disse Rajoy, em referência ao estado das finanças espanholas após o governo socialista.
Ele reconheceu que, se as urnas o confirmarem como próximo presidente do governo espanhol, deverá adotar "decisões que não serão fáceis, porque já não é mais tempo de frivolidades ou de frases engenhosas", o que segundo sua opinião caracterizou o atual governo de José Luis Rodríguez Zapatero. Em outras declarações feitas a uma emissora de rádio, Rajoy assinalou sua esperança de que os mercados financeiros que pressionam a dívida espanhola deem "um mínimo de margem" ao vencedor das eleições.
"A Espanha quer estar no euro, que faz parte de um projeto político irreversível", disse o líder de centro-direita, terá dificuldades se for o novo chefe do governo, como já deixou claro a própria Comissão Europeia. O porta-voz econômico do governo do bloco, Amadeu Altafaj, assinalou em Bruxelas que "todas as instituições europeias estão ajudando ativamente a Espanha, embora o mais importante, certamente, continua sendo que a Espanha se ajude a si mesma".
Diante da urgência de colocar sua gestão em andamento o mais rápido possível, Rajoy pediu ao Executivo que está saindo que não tome "nenhuma decisão" interina, se não for "produto do acordo e com o único interesse de defender o que importa para os espanhóis". Ele explicou que não tinha chegado a nenhum acordo a respeito com o ainda presidente do governo, o socialista José Luis Rodríguez Zapatero.
Sobre este assunto, o ministro porta-voz, José Blanco, disse que a lei impede encurtar o prazo previsto para que o atual governo seja substituído pelo novo, embora tenha garantido que, até que isso ocorra, o presente Gabinete dialogará com o partido que vencer as eleições caso seja necessária alguma medida urgente. Lembrou que o decreto de convocação das eleições diz que a constituição do Parlamento se realizará no dia 13 de dezembro e que, a partir dessa data, se iniciará o mecanismo para a posse.
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