Apoio de policiais a traficante é investigado no Rio
A cúpula da Segurança do Rio investiga se um delegado ajudou na tentativa de fuga do chefe do tráfico da Rocinha Antônio Francisco Bonfim Lopes, o Nem, 35.
O governo quer saber quem seriam os policiais que, segundo Nem disse em depoimento informal à Polícia Federal, recebiam propina de cerca de R$ 500 mil por mês.
"Espero que essa pessoa revele o que ela sabe tanto em relação a desvios de conduta de agentes públicos, quanto na arquitetura do tráfico", disse o secretário de Segurança, José Mariano Beltrame.
Na noite da captura de Nem, na quarta, um dos membros do Batalhão de Choque chegou a furar o pneu do Toyota Corolla que transportava o traficante para impedir que o delegado Roberto Gomes Nunes, da 82ª DP (Maricá), seguisse com o veículo para a 15ª DP (Gávea).
O tenente Disraeli Gomes disse em depoimento à Corregedoria que o delegado surgiu acompanhado do inspetor Fernando Ribeiro de Carvalho Mussi, no local em que o carro de Nem estava parado, na Lagoa, zona sul.
Ele tentou "dispensar todos alegando que a ocorrência seria dele" e impedir a abertura do porta-malas. Insistiu em levar o veículo para a delegacia da Gávea. Houve discussão entre os policiais.
Após ser acionado, o delegado da PF João Luiz Caetano de Araújo chegou ao local e ordenou que o porta-malas fosse aberto. Nem foi preso com três homens. Nunes disse que não comentaria o caso e desligou o telefone. Mussi não foi localizado.
O subchefe da Polícia Civil, Fernando Veloso, disse que sabia da presença dos policiais. Segundo ele, um advogado de Nem entrou em contato com um policial para informar que ele se renderia com a garantia de sua integridade física. As negociações ocorriam há cerca de dez dias.
Antes de deixar a favela, o advogado teria feito contato para a rendição em troca de Nem apontar o nome dos policiais que recebiam propina.
O traficante disse que faturava, em média, R$ 1 milhão por mês com o tráfico e que metade era distribuída para policiais. Ele não deu nomes.
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Nem tem cabeça raspada em seu primeiro dia na cadeia |
UPP
O governo do Rio vai instalar neste domingo uma UPP (Unidade de Polícia Pacificadora) na favela da Rocinha (zona sul). A medida acontece após a prisão de Nem, apontado como chefe do tráfico na favela.
A UPP da Rocinha será a 19ª do Rio. A favela é uma das maiores do Rio, e sua pacificação é considerada chave para a política de segurança da gestão de Sérgio Cabral (PMDB).
PRISÃO
O traficante Nem estava no porta-malas de um Toyota Corolla, que foi parado pela polícia a poucos quilômetros da favela. Segundo os policiais que participaram da prisão, eles suspeitaram do veículo porque a suspensão estava baixa --indicando alguma carga no porta-malas.
Nem portava cerca de R$ 180 mil no momento em que foi preso. O dinheiro estava dividido em notas de real (59.900) e de euro (50.500 ou R$ 120 mil).
Segundo a polícia, o veículo foi parado pela primeira vez por volta das 23h na estrada da Gávea, uma das saídas da Rocinha. Estavam no carro dois advogados e um motorista, que se identificou como cônsul honorário da República Democrática do Congo.
Ele alegou imunidade diplomática, não permitiu que o carro fosse revistado e disse que, como autoridade, deveria ser atendido na 15ª DP (Gávea). Diante dessa afirmação, veículos da PM passaram a escoltar o Corolla até a delegacia.
Quando passavam pela Lagoa, na altura do Cinépolis Lagoon, o veículo parou e, segundo os policiais, os suspeitos ofereceram R$ 20 mil como propina. O comboio seguiu em frente e, na altura do Clube Naval, fez uma nova parada.
"Um dos advogados se identificou como pai do cônsul e foi ele quem ofereceu R$ 20 mil. Ele disse que na mala tinha R$ 1 milhão e [perguntou] se aquilo resolvia tudo", disse o tenente Ronald Cadar, que estava no grupo.
Após nova recusa dos policiais, o suposto cônsul disse que só abriria o porta-malas do carro na Polícia Federal. A PF foi acionada e os agentes que foram ao local abriram o porta-malas e encontraram o traficante Nem. Todos foram presos e levados à sede da PF na zona portuária do Rio.
A PF diz que entrou com contato com o Ministério das Relações Exteriores para verificar a identidade do suposto cônsul. A Embaixada do Congo em Brasília disse desconhecer qualquer relação entre o homem e o traficante, mas que ainda que aguarda dados da PF para se manifestar oficialmente.
Colaboraram CIRILO JUNIOR e FERNANDO MAGALHÃES
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