Houve discussão durante a abordagem a um carro forte. (Foto: Reinaldo Marques/Terra)
Comércio movimentado, salões de beleza cheios e mototáxis subindo e descendo mediante ao pagamento de R$ 2. A ação da polícia na favela da Rocinha, no Rio de Janeiro, não impediu que o movimento na manhã deste sábado fosse igual ao de todo fim de semana, segundo os próprios moradores. Os policiais fiscalizaram preferencialmente motos, vans e pequenos caminhões. Até um carro-forte, de uma transportadora de valores, foi abordado e houve tensão.
O movimento normal da manhã, segundo moradores, contrasta com o clima de apreensão da madrugada. Na véspera da retomada do morro por parte das forças de segurança do Rio de Janeiro, eles dizem que muita gente ligada ao tráfico deixou o local nas primeiras horas deste domingo. Pela mata, ou em motocicletas. Suspeito de ser o chefe do tráfico na Rocinha, Antonio Francisco Bonfim Lopes, o Nem, foi preso pela polícia na última quinta-feira, quando tentava deixar a favela escoltado por policiais.
Na entrada da favela pela região de São Conrado, habitantes da Rocinha afirmaram que o destino presumido dos que deixaram o local é o vizinho morro do Vidigal, controlado pela mesma facção da Rocinha. "O movimento foi intenso a noite toda. Muita moto subindo e descendo e gente saindo. A gente acredita que a ocupação da polícia será tranquila. Quem tinha para sair já saiu", disse um garçom de 22 anos.
Aproveitando o clima de aparente tranquilidade, um grupo de seis vendedores de TV por assinatura aproveitavam para comercializar os pacotes da empresa. O sistema clandestino, o "gatonet", está fora do ar desde a tarde de sexta-feira. Quem vendia, diz que o movimento estava bom. "Se houver mesmo o corte do sinal clandestino, a nossa venda sobe bastante. Ainda mais agora, com reta final de Campeonato Brasileiro", disse o vendedor. Seu nome? "Melhor não dizer, né", diz ele, que mora no local.
Na saída do morro, nem mesmo o carro forte de uma empresa de valores escapou da revista da polícia. Quando o carro foi parado seguiu-se um diálogo insólito entre um policial e um funcionário da empresa:
"Abre a porta agora", disse o policial.
"Meu irmão. Não temos o controle das portas. É via satélite", disse o segurança.
"Abre a porta agora. Vai sair geral", devolveu o policial.
"Mas é via satélite", retrucou o segurança.
A partir daí, o segurança passou a mão no radiocomunicador e em cerca de dois minutos a porta estava aberta. Todos foram retirados do veículo e um policial portando um fuzil revistou o carro. Mais dois minutos e o veículo estava liberado.
O comando local da polícia afirmou que nem durante a madrugada e nem nas primeiras horas da manhã houve qualquer ocorrência significativa, com a prisão de traficantes ou a apreensão de drogas ou armas. A invasão da Rocinha está prevista para às 4h deste domingo.
O Nem
De acordo com o Disque-Denúncia, o chefe do tráfico da Rocinha, Antônio Francisco Bonfim Lopes, o Nem, passou por diversos setores da "carreira" de traficante. Começou como "vapor", encarregado de entregar as drogas aos compradores, depois atuou como "soldado", na proteção dos locais de venda contra a polícia e traficantes de facções rivais, até assumir a gerência de uma boca de fumo. Ele passou a controlar grande parte das vendas em 2005, junto com João Rafael da Silva, o Joca. Após a prisão de Joca, em outubro de 2008, Nem assumiu o controle da favela.
Nem tem 35 anos e mandados de prisão por tráfico de drogas, homicídio, formação de quadrilha e lavagem de dinheiro. É a primeira vez que Nem é preso. O Disque-Denúncia oferecia recompensa de R$ 5 mil por informações que levassem a sua prisão.
A Rocinha é uma das maiores favelas da América Latina e fica entre dois dos bairros mais ricos do Rio de Janeiro, São Conrado e Gávea. Segundo o Censo 2010, a favela conta hoje com 69,3 mil habitantes. Desde a madrugada de quinta-feira, a polícia faz um cerco à favela.
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