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Cidades/Geral
Quarta - 09 de Novembro de 2011 às 21:29
Por: Neusa Baptista

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Cerca de 200 funcionários da empreiteira Gutierrez, uma das executoras das obras da fábrica da Votorantim Cimentos, realizaram um ato público no centro da Capital na manhã desta quarta-feira (10). Eles estão em greve desde segunda (7) em protesto contra a proposta de reajuste salarial feita pela empresa, que foi rechaçada, pois concedia reajuste de 11%, acompanhado da retirada do benefício de 25% sobre o salário a título de adicional de transferência para os funcionários de outros Estados e do adicional de hora prêmio, este último causando uma perda de R$ 110,00 nos vencimentos.

Os operários querem que seja paga a hora “in itinere”, tempo de deslocamento entre a residência e o local de trabalho, já que a grande maioria reside na área urbana de Cuiabá e precisa acordar de madrugada para estar no canteiro de obras no início do expediente, às 8 horas.

O protesto estava marcado para as 7:30 em frente à sede da empresa, na rua Joaquim Murtinho, no centro, para onde os cerca de 460 funcionários iriam com o ônibus da empresa. No entanto, a empresa não permitiu o desvio da rota do veículo, e 200 deles,  de  um dos alojamentos, seguiram em marcha partindo do bairro Alvorada, onde se encontram hospedados, até a sede da empresa, passando pelas avenidas Presidente Marques, Mato Grosso, Prainha e Dom Bosco. Toda a mobilização foi apoiada pelo Sindicato dos Trabalhadores na Indústria da Construção Civil de Cuiabá e Municípios (SINTRAICCCM) e pela Federação dos Trabalhadores na Indústria de Mato Grosso (FETIEMT), cujos presidentes, Joaquim Santana e Ronei de Lima, acompanharam a passeata.

Por volta das 10 horas, eles chegaram ao local do ato, onde cobraram a presença de um representante da empresa, que se encontrava fechada. Em frente à empresa, um aviso dizia que, devido à greve dos funcionários, o atendimento havia sido transferido para o canteiro de obras, no distrito do Aguaçu.

A empreiteira Gutierrez emprega a maioria dos trabalhadores que atuam na obra da fábrica, ao todo cerca de 460, entre pedreiros, carpinteiros, armadores e serventes. Uma grande parte deles é oriunda de outros estados, principalmente do Nordeste. Preocupados com os baixos salários e as irregularidades praticadas pela empresa, muitos pensam em pedir as contas.  O armador Joaci de Jesus Silva, que veio da cidade de Pinheiro, no Maranhão, apresenta um dos casos mais graves de desrespeito à saúde do trabalhador.

Ele teve metade do dedo mínimo da mão esquerda decepada no último dia 12 de outubro em um acidente com uma espécie de alicate para cortar arame. A empresa não fez nada além de levá-lo ao atendimento médico para fazer curativos e fornecer duas caixas de medicamento. O prazo de afastamento médico vencerá amanhã (11) e, segundo ele, a orientação da Gutierrez foi que  volte ao trabalho. “Não tive a assistência que precisava, a empresa disse que isso não era nada, que tinha cortado apenas a ponta da unha e que era para eu voltar ao trabalho”. Segundo ele, o prazo para a retirada dos pontos do ferimento também não foi respeitado, o que dificultou o procedimento. Casado e pai de duas filhas, ele conta que a família, que ficou no Maranhão, está muito preocupada com sua situação.

Pelo fato de serem horistas, grande parte dos trabalhadores acabam realizando jornadas excessivas de trabalho em busca de um salário melhor. Por isso, o aumento do valor da hora é uma das reivindicações.

Os trabalhadores também denunciam práticas inibitórias dentro da empresa. O pedreiro Osmar Alves da Silva, que está na empresa há 9 meses, precisou ir ao banco com urgência resolver uma pendência, comunicou a empresa, mas chegou a quase ser impedido de sair do prédio por um superior. “Sou contra esse tipo de coisa, a gente nunca falta e quando precisa resolver algo grave, passa por isso. Essa manifestação é justa e necessária”.

Quem veio de outros estados e está acostumado a rodar o País em busca de trabalho, reclama dos valores pagos pela Gutierrez. É o caso do pedreiro Antônio Oliveira, natural de Paraguaminas, no Pará. Ele, que já trabalhou em São Paulo, Paraná e Rondônia, conta que chegou a receber salários 10% mais altos. “Com essa greve, espero que melhore”.

O carpinteiro Ivanei Aragão, que veio do município de Pintadas (BA),  pensa em deixar o emprego devido ao baixo salário. Ele observa que mesmo obras menores de Cuiabá praticam valores mais altos. “Lá, a obra é perigosa, trabalhamos a maior parte do tempo em grandes alturas e não recebemos adicional de periculosidade”. Ele também reclama da falta de compreensão da empresa com os problemas particulares de quem é de fora do Estado, dizendo não teve a falta abonada quando precisou se ausentar para resolver um problema de saúde de um parente da Bahia.

Os trabalhadores permanecem mobilizados no hotel Telys, no bairro Alvorada, e aguardam um posicionamento da empresa.






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