Aéreas comemoram resultado, mas aeroportos deixam a desejar
Neste ano, as companhias aéreas brasileiras estão celebrando bons resultados com números expressivos e projetando investimentos grandiosos para 2012, além de esperar por uma demanda maior no mercado doméstico. As boas novas, no entanto, contrastam com a infraestrutura ainda precária e preocupante dos aeroportos no Brasil.
Com a proximidade de eventos como a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016 no país, os holofotes se voltam para as unidades e os problemas se mostram ainda mais evidentes. Os terminais se tornaram alvos constantes de críticas de organizações como a Fifa e o Comitê Olímpico Brasileiro (COB).
Em outubro do ano passado, o presidente do COB e do Comitê Organizador dos Jogos Olímpicos do Rio 2016, Carlos Arthur Nuzman, demonstrou preocupação com a situação dos aeroportos brasileiros ao criticar o atraso nas obras de ampliação e modernização das unidades do país.
Segundo declarou Nuzman na ocasião, a questão dos aeroportos é uma unanimidade no país. "O destaque que veio do último relatório da Comissão de Avaliação foi sobre os aeroportos. Esta talvez seja a grande preocupação", declarou.
A Fifa também demonstrou por mais de uma vez sua insatisfação com as condições dos principais aeroportos do país. Após o Mundial da África do Sul, em julho do ano passado, o secretário-geral da federação, Jerome Valcke, disse que o Brasil estava "atrasado em tudo", incluindo aeroportos. Em junho deste ano, as críticas continuaram. Valcke chegou a dizer que o Brasil ainda não tem aeroportos adequados para sediar o mundial.
O dono do grupo OGX, Eike Batista, também se pronunciou sobre a questão no mês passado e disse que o Brasil vive um momento de crescimento econômico que deve se estender pelos próximos 20 anos, mas que esbarra em "doces" problemas, como as condições dos aeroportos brasileiros.
O presidente da Assoc iação Brasileira de Agências de Viagens (Abav), Carlos Alberto Amorim Ferreira, também criticou neste mês a situação dos aeroportos que, para ele, têm problemas sérios de infraestrutura.
"Cinco anos de caos aéreo e muito pouco foi feito até agora. A maioria dos aeroportos que vai receber os jogos da Copa já opera hoje com capacidade máxima. Além disso, a infraestrutura é uma situação preocupante. O Brasil bem-sucedido não pode dar espaço para improvisações, puxadinhos, remendos, para desafios que se apresentam urgentes hoje e que serão insustentáveis daqui a três anos [quando a Copa do Mundo de 2014 será realizada]".
Além disso, em maio do ano passado, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) apontou em levantamento que ao menos dez aeroportos em cidades-sede da Copa 2014 operaram acima da capacidade em 2009. Entre eles o de Guarulhos (SP), Congonhas (SP) e Juscelino Kubitschek (DF), que junto com o Galeão (RJ) concentram 49% do fluxo aéreo de passageiros no p aís.
Segundo o levantamento do Ipea, o aeroporto de Cumbica, em Guarulhos, recebeu pedidos de pouso e decolagem simultâneos 22% acima de sua capacidade no ano passado. Os índices de Congonhas e JK foram ainda maiores - 41% e 25%, respectivamente.
Em janeiro deste ano, o governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, teceu duras críticas ao Aeroporto Internacional do Rio de Janeiro (Galeão) afirmando que a unidade é a "pior do país e uma vergonha". Cabral chegou a chamar o Aeroporto do Galeão de "rodoviária de quinta categoria" e "uma vergonha para o Rio de Janeiro".
Também em janeiro deste ano, levantamento da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) elegeu o aeroporto internacional Santa Genoveva, em Goiânia, como o pior do país. A unidade foi considerada na pesquisa com passageiros o mais precário do Brasil entre os 22 maiores. Em uma escala de zero a dez, o terminal ficou com nota 2,3. A avaliação levou em conta 16 itens.
O governo espera ainda que o número de passageiros nos aeroportos brasileiros durante o verão, a alta temporada do turismo, aumente 20% em relação ao mesmo período do ano passada. A estimativa foi divulgada este mês pelo ministro da Secretaria de Aviação Civil, Wagner Bittencourt. De janeiro a julho deste ano, o setor também cresceu 20%.
"De janeiro a julho, em relação ao mesmo período do ano passado, o Brasil cresceu 20% e a China, 7,8%", comparou Bittencourt na ocasião. Segundo a Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (Infraero), 155 milhões de brasileiros passaram pelos aeroportos do país em todo o ano passado.
Apesar do forte aumento, ele disse que não há preocupação com gargalos que possam atrapalhar os embarques e desembarques no verão. "Não [me preocupa], porque estamos nos preparando para isso. Já tivemos várias reuniões com as companhias aéreas, com a Anac, com a Infraero e com o Dcea [Departamento de Controle do Espaço Aéreo] para nos prepararmos para essa época. Teremos outra reunião no mês que vem". Segundo ele, a melhoria de gestão nos aeroportos é um trabalho conjunto voltado ao bom atendimento dos passageiros.
Enquanto a proximidade de eventos importantes que serão sediados no país põe em xeque a eficiência dos aeroportos brasileiros, a TAM Linha aéreas é apenas uma das companhias que anunciaram bons resultados na última semana e planos de investimentos no Brasil.
No último dia 19, a brasileira divulgou uma ocupação de 85,3% em seus voos internacionais em setembro, segundo melhor resultado na série histórica e índice recorde para o mês.
Segundo o comunicado, que citou dados da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), o crescimento de 8,2% da demanda e o aumento de 6,9% da oferta foram as causas desta alta na ocupação em voos internacionais. Os dados confirmaram a TAM como a aérea brasileira líder nesse segmento, com 88,6% do mercado em setembro.
Entre janeiro e setembro, a taxa de ocupação da companhia em voos internacionais foi de 81,9 %, o que representa aumento de 2,6% na comparação com o mesmo período do ano anterior. Nesses meses, a TAM registrou crescimento de 15,2% da demanda internacional e alta de 11,6% da oferta.
A companhia brasileira se encontra ainda em processo de fusão com a aérea chilena LAN e no dia 21 de setembro recebeu o aval do Tribunal de Defesa da Livre Concorrência do Chile para a operação, com restrições impostas, após vários meses de análise. A decisão do tribunal antimonopólio abriu as portas para a criação da maior empresa aérea da América Latina.
No dia 10 deste mês, foi a vez da Comissão Nacional da Concorrência da Espanha (CNC) aprovar a operação. A decisão representou o fim do processo de aprovações da união das empresas na Europa, o que deixa a operação mais perto de ser concretizada, provavelmente, no final do primeiro trimestre de 2012. Antes da decisão da CNC espanhola, a fusão já tinha sido aprovada por órgãos antimonopólio de Itália e Alemanha.
A fusão entre TA M e LAN dará origem a uma das maiores empresas aéreas mundiais a Latam, avaliada em cerca de US$ 12,14 bilhões (R$ 21,35 bilhões).
Ontem, a LAN informou que a companhia aérea PAL decidiu retirar a sua apresentação ao Supremo Tribunal contra o processo de fusão com a TAM, depois de analisar em profundidade a resolução do Tribunal de Defesa da Livre Concorrência (TDLC).
"A companhia aérea PAL se absterá de apresentar qualquer objeção no Chile ou no exterior e requereu à LAN assumir as despesas incorridas no questionamento perante o TDLC e seu apelo perante o Supremo Tribunal", indicou o comunicado.
Apostando no crescimento da demanda no setor, a TAM anunciou ainda na semana passada a assinatura de contrato de compra de 32 aeronaves Airbus A320, compreendendo 22 A320neo e dez aviões da família A320, que serão entregues entre 2016 e 2018. O pedido, referente ao memorando de entendimento firmado em fevereiro deste ano, tornou a companhia a primeira operadora do A320neo n a América Latina.
"Esta compra não implica nova revisão em nosso plano de frota. Conforme anunciado em agosto último, encerraremos este ano com 156 aeronaves e chegaremos a 179 equipamentos em 2015", indicou o comunicado da TAM emitido na ocasião.
No último dia 17, foi a vez de a Anac anunciar ao mercado que a demanda por voos domésticos da GOL Linhas Aéreas aumentou 9,06% em setembro em relação ao mesmo mês do ano passado, enquanto a oferta aumentou 15,04%.
De acordo com o levantamento, no acumulado do ano (de janeiro a setembro de 2011), o crescimento acumulado da procura por voos domésticos chegou a 18,52%, enquanto a oferta cresceu 13,8%.
Os voos internacionais operados por empresas brasileiras - nos quais a TAM é líder com quase 90% do mercado - apresentaram um crescimento de demanda de 6,57% em relação ao mesmo mês do ano passado, enquanto a oferta aumentou 4,33%. No acumulado deste ano, a demanda aumentou 13,83%, contra 9,46% da oferta.
Em julho deste a no, a GOL anunciou ao mercado a compra da Webjet. Ontem, no entanto, o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) suspendeu, de forma temporária, a fusão entre as companhias. O Cade e as companhias envolvidas assinaram um acordo de preservação da reversibilidade da operação, que suspende a fusão até o julgamento do caso neste organismo, que ainda não tem data, segundo um comunicado oficial. Até a realização do julgamento será permitido que ambas companhias compartilhem voos para otimizar sua malha aérea, sempre que isto não implique na redução da capacidade operacional da Webjet, a empresa minoritária, de acordo com o Cade.
O organismo antimonopólio argumentou que o setor da aviação civil apresenta um elevado nível de concentração, que poderia aumentar excessivamente em algumas rotas após a fusão.
Além de divulgar números expressivos no terceiro trimestre deste ano, as companhias aéreas ignoram a crise financeira que assola o mundo inteiro e projetam mais cresc imento e investimentos no Brasil para o ano que vem.
A brasileira Avianca, por exemplo, divulgou na semana passada durante a maior feira de turismo das Américas, a Feira das Américas - Abav, no Rio de Janeiro, que espera um crescimento superior a 70% a partir de janeiro de 2012 em relação ao mesmo mês deste ano, expansão acima da média do mercado de aviação.
A companhia indicou ainda durante o evento que espera para o primeiro mês do ano que vem, apenas 18 meses após mudar de marca, alcançar a marca de um milhão de associados ao "Programa de Fidelidade Amigo", além da chegada de quatro novas aeronaves Airbus A320, com capacidade de transportar até 162 passageiros cada. A Avianca lançará ainda em 2012 duas novas rotas: Rio de Janeiro - Salvador e Rio de Janeiro - Recife. A expectativa da companhia é transportar 3,4 milhões de pessoas em 2012.
"Nosso crescimento será superior a 70% em passageiros transportados a partir de janeiro de 2012", projetou o presidente da com panhia, José Efromovich.
Na contramão das condições precárias de aeroportos brasileiros, a Avianca investirá US$ 1,5 bilhão até 2016 para ampliar operações e atender a crescente demanda do mercado nacional Enquanto isso, a Passaredo linhas Aéreas espera expandir até o final do ano seu atendimento para quatro novos destinos: Belém, Carajás, Santarém e Cascavel.
Segundo o presidente da Passaredo, José Luiz Felício Filho, a companhia acredita no desenvolvimento do estado do Pará.
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