O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso disse nesta segunda-feira que não se surpreendeu com a denúncia sobre cobranças de propinas no Ministério do Trabalho. "Espero que a (presidente) Dilma (Rousseff) continue limpando (o governo), porque está muito ruim. Mas não me surpreende porque toda a política está metida de tal maneira nesse jogo de favorecimentos e benesses, que é uma pena", afirmou. A declaração foi dada logo depois que FHC deixou um encontro organizado pelo Instituto Teotônio Vilela, onde a cúpula do PSDB se reuniu para discutir propostas para uma agenda para os próximos 20 anos.
Segundo a última edição da revista Veja, o PDT, partido de Lupi, teria transformado o setor de controle da pasta em instrumento de extorsão de ONGs, parlamentares e servidores públicos, com propinas que chegariam a 15% do valor cobrado por cursos de capacitação profissional. O ministro afastou o assessor especial Anderson Alexandre dos Santos, coordenador-geral do programa Qualificação e apontado como o operador do suposto esquema. Lupi divulgou nota na qual afirmou que "não compactua com nenhum tipo de desvio de recursos públicos" e abriu sindicância para apurar a existência de irregularidades neste setor do ministério.
Durante o evento, o senador Aécio Neves (PSDB-MG) disse que o partido tem o dever de denunciar, mas também propor soluções para o País. O senador lamentou a acusação de que 75% dos cargos de livre provimento no Ministério do Esporte tenham sido ocupados por "militantes do partido e não por pessoas que tenham qualquer familiaridade com o tema". Aécio defendeu um "choque de profissionalização" na administração pública federal e uma nova postura do governo.
"É preciso que o governo pare de reagir apenas às denúncias da imprensa e passe a agir internamente e dê demonstrações claras de que quer enxugar a máquina pública, quer diminuir os gastos correntes e investir, efetivamente, em gestão pública de qualidade que não vemos no Brasil nos últimos anos", disse o senador tucano.
Durante o encontro que reuniu representantes do PSDB de várias regiões, especialistas indicaram gargalos e desafios em diferentes áreas. A modernização do sistema de segurança pública, com a reforma das polícias, foi apontada como medida essencial para o avanço de outras áreas sociais, como a saúde e educação. Os tucanos também trataram de propostas de valorização da poupança e do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), como formas de estímulo a uma taxa de juros menor em médio prazo.
Aposentadoria
Em relação ao sistema previdenciário brasileiro, o economista Marcelo Caetano identificou pontos que precisam ser debatidos para preparar o País para 2050, quando a projeção é que o percentual de pessoas com mais de 60 anos, que hoje representam 10% da população, passe a 35%. "Vai ficar cada vez mais caro porque as pessoas estão envelhecendo. Mas a previdência vai ter que continuar existindo, mas são necessários alguns ajustes para que a sociedade consiga se adaptar e não pagar cada vez mais impostos ou sacrificando gastos em outras áreas relevantes, como saúde e educação".
Para ele, o governo tem que reavaliar as idades de aposentadoria que ainda são muito baixas na opinião do especialista, além de repensar diretrizes sobre benefícios como pensão por morte e a vinculação do valor de aposentadoria com a política de ganho real do salário mínimo. O economista, que destacou que hoje são gastos 12% do Produto Interno Bruto (PIB) para sustentar o sistema, lembrou ainda que é preciso repensar os benefícios do funcionalismo público.
"Existem aposentadorias muito elevadas quando você olha o serviço público, são aposentadorias de R$ 15 mil, em média. Tudo bem que as pessoas se aposentem com esse valor, mas isso não deve vir do Orçamento do governo, deve vir de sua própria poupança. É preciso uma reforma, com criação de previdência complementar do serviço público. O próprio governo federal, sabiamente, vem tentando fazer, assim como alguns governos estaduais e municipais", disse o economista.
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