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Sexta - 04 de Novembro de 2011 às 14:18
Por: Vinícius Tavares/Alline Marque

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O secretário Especial da Copa (Secopa), Eder Moraes, e os empresários da empresa Global Tech - contratada sem licitação pela extinta Agecopa para fornecer por R$ 14 milhões os dez veículos Land Rover para a segurança nas fronteiras, terão muito trabalho para justificar a capacidade de a contratada entregar a "encomenda" sem dar um calote milionário nas contas públicas. Além de não ter autorização do Exército para vender sistemas de vigilância, tudo indica que se trata de uma empresa de fachada.

A reportagem do Olhar Direto foi até o Setor de Oficinas Norte (SOF), em Brasília, local onde supostamente está sediada a empresa, e teve muita dificuldade para localizar a Global Tech. No endereço apurado pela reportagem funciona a sede o Grupo Elite, do qual a Global Tech é representante, e que fornece sistemas de segurança privada para empresas de vigilância e monitoramento eletrônico. Nada indica que seja uma firma com qualificação para garantir a segurança na fronteira.

Na fachada do acanhado prédio de fundos do setor de oficinas não há nada que indique existir alguma ligação com a empresa que conseguiu dispensa de uma licitação milionária com o governo de Mato Grosso devido ao seu know how, nem sinal de que ali exista o oferecimento de tecnologia russa para resolver de vez a segurança nos mais de 700 quilômetros de fronteira seca com a Bolívia, principal justificativa do negócio.

Ao ser questionado sobre a ligação da recém-criada Global Tech com a Elite, um funcionário da empresa preferiu atender a reportagem do lado de fora do prédio para impedir que fossem vistos detalhes das dependências do estabelecimento. Ele informou que os assuntos da Global Tech são tratados por um administrador de nome Guilherme Carvalho que, segundo o funcionário, não é militar do Exército como os proprietários da Global Tech.

"Todas as informações sobre a Global Tech são passadas pelo Guilherme, que é o nosso administrador", limitou-se a informar o funcionário, que de forma desconfiada informou o número do telefone celular do gerente. "Estou aqui na empresa há apenas 15 dias e não posso dar maiores informações", completou.

O Olhar Direto apurou que o gerente reside no município de Anápolis (GO), distante cerca de 180 km de Brasília. A reportagem tentou contato diversas vezes com ele, mas não obteve o retorno das ligações.

Também foi muito difícil obter alguma informação a respeito da existência da Global Tech com funcionários de outras empresas sediadas no SOF, um setor destinado à oficinas mecânicas e a empresas da área de cimento e material de construção civil.

Algumas pessoas, que há anos trabalham na região, desconheciam a existência da empresa, o que reforça as suspeitas de se tratar de empresa de fachada. "Eu conheço a GlobalBev, que é distribuidora da Ambev, mas Global Tech não conheço", revelou um funcionário de uma locadora de veículos que pediu para não ser identificado.

Na fachada do prédio um adesivo informa os telefones e o endereço do Grupo Elite na internet. Entre os clientes do Grupo Elite estão as embaixadas da Bélgica, China e França, além de revendas de carros, distribuidoras de medicamentos, bebidas, hospitais e hipermercados.

Nenhuma alusão, porém, a produtos oriundos da Rússia nem tecnologia capaz de justificar o investimento de R$ 1,4 milhão por automóvel equipado com radar de última geração, e que foi apontado em relatório do Tribunal de Contas do Estado.

A reportagem apurou ainda que na mesma quadra onde deveria estar situada a Global Tech existe uma loja que fornece artigos como uniformes, coturnos, distintivos, acessórios e equipamentos para militares. Coincidência ou não, o fato é que a Global Tech é de propriedade de dois oficiais do Exército.

Questionados sobre a existência da Global Tech, os funcionários da loja não souberam informar, mas indicaram com exatidão o local onde funcionaria a empresa, no caso o prédio dos fundos, onde fica o Grupo Elite.

Em pesquisa ao site do Grupo Elite é possível saber que a empresa trabalha no ramo de segurança e consultoria. De acordo com informações do site, existem duas empresas ligadas ao grupo que são especializadas em controle e segurança, Elite Segurança e Marcar Segurança. Elas servem para realizar a segurança patrimonial e pessoal, escolta armada e projetos integrados de segurança.

Em nenhuma parte do site cita a existência da Global Tech e entre o rol de clientes não consta o governo de Mato Grosso, mas aparecem empresas como a Ambev, grupo Pão de Açúcar, Ponto Frio, Mercedes-Benz – Brasília Motors, Grupo Saga e Souza Cruz.

Em contato por telefone com a sede do grupo, mais uma vez a reportagem foi informada de que somente Guilherme Carvalho pode falar pela empresa. Ainda de acordo com as informações fornecidas por um gerente o Grupo Elite existe desde 1995.

A reportagem do Olhar Direto apurou que a empresa russa Gorizont, detentora da tecnologia, exigiu exclusividade com o Grupo Elite, que já teria realizado outras parcerias com a companhia internacional. A corporação seria representante exclusiva da Gorizont no Brasil e teria achado por bem criar a Global Tech para atender a demanda do governo de Mato Grosso.






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