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Terça - 01 de Novembro de 2011 às 21:17

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Sem chamar muita atenção ao fato até agora, um dos principais grupos que promovem o casamento homossexual vem adotando um tom interessante que reconhece implicitamente a relação complicada entre os americanos gays e outro grupo minoritário que não está firmemente do lado deles.

Duas semanas atrás a Campanha por Direitos Humanos (HCR) inaugurou um novo esforço para influir sobre a opinião pública em todo o país, lançando um depoimento em vídeo - que, por enquanto, está sendo distribuído na internet - em que Cory Booker, o prefeito de Newark, defende o casamento homossexual, que ainda não foi legalizado em Nova Jersey.

Na semana passada foi lançado outro depoimento, este da atriz e comediante Mo"Nique. E esta semana está sendo divulgado o mais recente dos vídeos, que, como os outros, provavelmente se tornará comercial de TV mais adiante. É estrelado por Julian Bond, ex-presidente da NAACP (Associação Nacional para o Avanço das Pessoas de Cor).

No início de sua atuação, o esforço da HCR, intitulado Americanos em Favor da Igualdade de Casamento, destacou três americanos negros conhecidos. Isso não foi feito por acaso.
Em algum mundo perfeito, em que a natureza humana seja menos confusa e a história seja menos cheia de tensões, todas e quaisquer pessoas que já tivessem sofrido discriminação se uniriam atrás de uma grande bandeira comum antidiscriminação.

Em nosso mundo, porém, há divisões e até mesmo tensões entre diferentes grupos minoritários, e a luta pela legalização do casamento entre pessoas do mesmo sexo - hoje permitido em seis Estados e em Washington - topa com resistência especial de afro-americanos.

É um assunto que os defensores dos direitos dos gays, além de seus muitos defensores negros, não têm prazer em discutir, já que foca uma divisão que eles gostariam que não existisse. Mas pesquisas de opinião indicam que o apoio ao casamento homossexual deixa a desejar entre os americanos negros.

Em 2008 a população da Califórnia aprovou a Proposição 8, que proibiu o reconhecimento do casamento homossexual no Estado, por maioria de 52% dos eleitores. As análises da votação sugerem que entre 58% e 70% dos eleitores negros foram a favor da proibição.

Em abril passado, enquanto a campanha bem sucedida pelo casamento homossexual no Estado de Nova York foi ganhando força, uma pesquisa feita com eleitores do Estado pelo Instituto de Pesquisas do Siena College constatou que 62% dos eleitores brancos e 54% dos latinos eram a favor do casamento homossexual, mas apenas 46% dos eleitores negros pensavam o mesmo.
E em Maryland, onde é quase certo que o casamento homossexual seja debatido no próximo ano, uma sondagem recente da Gonzalez Research & Marketing Strategies revelou uma divisão entre os moradores do Estado, com 48% a favor e 49% contra. Entre os moradores negros do Estado, contudo, 41% eram a favor e 59% eram contra.

A Câmara dos Deputados de Maryland já discutiu no início deste ano um projeto de lei de legalização do casamento homossexual. A lei foi aprovada no Senado, mas encontrou resistência na Câmara, que acabou por não votá-la. Os partidários dela disseram que uma das razões disso foram as manifestações de ultraje de pastores negros e o efeito negativo disso em um Estado cuja porcentagem de residentes negros, 29,4%, é muito mais alta que a porcentagem nacional (12,6%) ou a de Nova York (15,9%), segundo o censo de 2010.

O governador democrata de Maryland, Martin O"Malley, prometeu apresentar um novo projeto de lei em 2012. Mas um dos pastores, Emmet C. Burns Jr., que é também deputado democrata, disse que vai combater a nova lei proposta.

Como Burns, muitos afro-americanos que se opõem ao casamento homossexual o fazem por motivos religiosos. "Esta é uma comunidade composta de muitas pessoas que fazem uma interpretação literal da Bíblia", disse Bond em entrevista telefônica recente, acrescentando que essas pessoas colocam uma ênfase "equivocada e exagerada" sobre determinadas referências à homossexualidade feitas na Bíblia.

Mas também é importante reconhecer que as pessoas que fazem lobby pelos direitos dos gays já provocaram a irritação de afro-americanos ao se aproveitarem de argumentos e linguagem ditos do movimento dos direitos civis.

Wade Henderson, presidente da Conferência de Liderança sobre Direitos Civis e Humanos, observou a existência de frases como "o gay é o novo negro" e disse que as tentativas de equacionar a perseguição aos americanos gays e negros podem ser "profundamente ofensivas".

Os afro-americanos foram escravizados. Durante sua luta brutal pela justiça, não puderam esconder o que os diferenciava das outras pessoas, disse Henderson em entrevista telefônica. Quando gays e lésbicas passam por cima de detalhes como esse, ele falou, isso parece "uma falta de respeito pela experiência negra neste país".

Os anúncios da campanha Americanos em Favor da Igualdade de Casamento não passam uma impressão de desrespeito. Parecem ser altamente inteligentes, frutos de um movimento que está sabendo cada vez melhor exatamente quem precisa convencer e qual é a melhor maneira de fazer isso.

O anúncio de Booker não menciona o homossexualismo. Booker fala sobre amor e liberdade.

Bond, em seu anúncio, não fala em "direitos civis". Ele discute "o que é certo e justo", além de "compromisso e famílias estáveis".

Bond me disse que acha triste que os negros possam ser um obstáculo ao fim de qualquer discriminação, incluindo a discriminação contra o casamento de gays e lésbicas.

Devo acreditar que a possibilidade de isso acontecer se tornou menor que antes, precisamente porque ele e os arquitetos da campanha Americanos em Favor da Igualdade de Casamento não a estão ignorando.






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