O peso da indústria na economia brasileira caiu de 44% em 1980 para 26% no ano passado, segundo dados compilados pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). No entanto, para o técnico de planejamento e pesquisa do Ipea Luiz Dias Bahia, a indústria conseguiu passar por esses 30 anos de mudanças globais sem perder "musculatura", com um papel importante na economia nacional.
No mesmo período, a participação do setor de serviços no PIB subiu de 52% para 67%, enquanto a fatia da agricultura caiu praticamente à metade, de 10,89% para 5,77%. "É inegável que a indústria já não é o motor de crescimento na economia brasileira. Esse motor já é mais o setor de serviços. Isso é um fenômeno mundial", afirmou Bahia.
"Mas de 1985 para cá, a indústria como todo não perdeu importância de um ponto de vista dinâmico. As relações de compra e venda entre empresas, não para o consumidor final, continuam passando pela indústria de forma forte", disse. De acordo com o pesquisador, a queda nos preços dos produtos industriais - que derrubou as margens de lucro - e a entrada de novos concorrentes no mercado nacional, principalmente da Ásia, afetaram o desenvolvimento da indústria nacional.
A estrutura foi de certa forma mantida, longe de um exemplo de desindustrialização que ocorreu no México, de acordo com técnico do Ipea. "A indústria continua importante, e tem um tecido industrial robusto. Não é como no México, onde importam componentes, montam e exportam de volta para EUA e Canadá. Este não é o cenário brasileiro."
Importação
A participação de mercadorias importadas no consumo brasileiro chegou a 22,9%, patamar recorde na série histórica iniciada em 1997, de acordo com a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). Segundo Bahia, o avanço dos importados no mercado nacional afeta mais pontualmente algumas indústrias, como as de eletrônica, tecidos e calçados.
"São setores que sofrem muito com a concorrência externa. Fica difícil produzir internamente de maneira competitiva. Estes têm perdido capacidade dinâmica, estão importando partes importantes. Isso é preocupante", afirma o pesquisador do Ipea. Por outro lado, Bahia aponta um o crescimento importante do setor de alimentos e bebidas, metalurgia, papel e gráfica, além de petróleo.
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