Ministério Público investiga a fuga, que vem sendo planejada há dois anos. Promotores também descobriram que quadrilha tentou se aproximar do STF.
Escutas mostram planos para resgate de chefes de facção
Um carro capotado na estrada foi usado na fuga de presos da Penitenciária de Pacaembu, no interior de São Paulo, na manhã deste sábado (12). Eles foram perseguidos pela Polícia Militar e perderam o controle do veículo. Três fugitivos foram recapturados. Outros três detentos escaparam. Policiais da região disseram que todos são ligados à quadrilha que comanda crimes de dentro das prisões.
A cidade de Pacaembu fica na região do presídio de Presidente Venceslau, onde estão os chefes do bando, que há dois anos planejam uma fuga em massa. A investigação é do Ministério Público.
Em uma escuta gravada com autorização da Justiça, dois presos falam sobre os preparativos. Eles chamam a penitenciária de Venceslau de “cachorro-quente” ou “hot dog”.
Soriano: O Judeu, chegou oito (fuzis) ali, está sabendo? Nós estamos vendo pro velho, hot dog (cachorro quente), entendeu?
Judeu: Esses outros oito (fuzis, que iam encostar, qual que é? Você sabe qual que é?
Soriano: É o AR (AR 15).
Os promotores também descobriram que a quadrilha tentou se aproximar do Supremo Tribunal Federal. Na edição deste sábado (12), o jornal O Estado de São Paulo destacou uma gravação da advogada Maria Carolina Marrara de Matos dizendo a um preso que o irmão dela foi chamado para trabalhar no gabinete do ministro Ricardo Lewandowski e que pretendia usar o irmão para defender interesses dos criminosos.
Maria Carolina: Você tem o direito, mas aí tem essa perseguição no tribunal, e o tribunal (TJ-SP) não concede e você tem que chegar até o STF. Eu estava pensando em alguma coisa, sabe?
Daniel Canonico: É a única opção, porque dificilmente chega um benefício até esse lugar. Geralmente param no meio, desistem, montam outro. Mas tem que se tentar fazer isso aí sim.
Maria Carolina: Porque tem meu irmão, que foi chamado para trabalhar com o ministro Lewandowski. Eu até estava pensando nisso hoje para juntar vários pedidos que foram negados.
Em uma gravação, outra advogada, Lucy de Lima, diz que marcou uma reunião com um ministro.
Lucy: O João falou que eu consegui agendar com o ministro?
Edilson Borges: Me falou. Dia 14 do mês que vem, né?
Lucy: Eu escrevi um testamento para a assessora dele, para conseguir que ela agendasse. Sabe quem é esse homem que eu vou falar? É abaixo do Lula!
Segundo o Ministério Público, a advogada se referia ao ministro Cezar Peluso, que na época era presidente do Supremo Tribunal Federal. Vinte dias depois, ela voltou a falar com o preso sobre o assunto.
Lucy: Felipe, acabei de vir do homem.
Preso: E aí, doutora?
Lucy: Ele perguntou para onde aquele amigo do Felipe quer ir. Eu falei aquela (penitenciária) lá de Sorocaba, sabe? Mas ele falou para falar para qual quer ir.
Em setembro, promotores que investigam o crime organizado encaminharam a denúncia à Justiça contra 175 suspeitos e pediram que 35 chefes da quadrilha fossem para o RDD, o Regime Disciplinar Diferenciado, onde ficariam incomunicáveis. Todos os pedidos foram negados. O Ministério Público já entrou com recurso.
Neste sábado (12) houve uma nova revelação: o serviço de inteligência da Secretaria da Administração Penitenciária confirmou ter descoberto um plano de invasão da Penitenciária 2 de Presidente Venceslau para libertar chefes da quadrilha. Os presos comentaram que no próximo dia 24 iriam para casa.
O serviço de inteligência também descobriu, há 40 dias, um novo plano para matar o governador Geraldo Alckmin. Neste sábado (12), em uma visita ao Santuário de Aparecida, o governador disse que a rotina dele não vai mudar.
“Nós não pretendemos fazer nenhuma mudança em termos de segurança pessoal”, afirmou o governador de São Paulo.
O ministro aposentado Cézar Peluso disse que não recebeu pedido de audiência da advogada Lucy de Lima, nem se reuniu com ela.
A assessoria do ministro Ricardo Lewandowski afirmou que ele nunca foi procurado pela advogada Maria Carolina Marrara de Matos. Que o ministro só soube que havia um currículo do irmão dela no tribunal quando foi procurado pela imprensa, e que este currículo nem chegou a ser analisado.
A advogada Lucy de Lima admitiu que defende o preso Edilson Borges Nogueira e negou que tenha conversado por telefone com o detento.
Não recebemos retorno dos telefonemas dados à advogada Maria Carolina Marrara de Matos.
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