Até alguns anos atrás, as pautas dos programas esportivos brasileiros pareciam decididas em cima de assuntos pontuais ou de alguma modalidade que se destacasse mais no país naquele momento. Mas esse espaço vem se mostrando não só cada vez mais eclético, mas também analítico. Prova disso é o Super-humanos, quadro que estreou no Esporte Espetacular no último dia 25 e que acerta em cheio tanto no que diz respeito à superação dos limites do homem ¿ tema recorrente no esporte ¿ quanto aos avanços da Ciência e da Medicina na busca por uma vida melhor para todos. Bem conduzido pelo repórter Guilherme Roseguini, o projeto mostra que o interesse por essa área pode ir além da adrenalina das competições.
Já no primeiro episódio, o quadro mostrou a que veio com a história do britânico Lewis Gordon Pugh. Trata-se de um aventureiro capaz de nadar por 20 minutos em áreas onde qualquer humano - que não fosse "super" - congelaria em cerca de cinco minutos. Mas ele, com um incrível poder de concentração, faz seu corpo produzir calor suficiente para elevar sua temperatura em até 2º e, assim, retardar o processo de hipotermia. A discussão ali não é só mostrar que um homem é capaz de mergulhar em águas congelantes. Ele provavelmente não descobriria essa habilidade com tanta facilidade não fossem as graves consequências do aquecimento global, que vem formando rios em áreas que, até alguns anos atrás, eram compostas apenas por gelo.
Habilidades raras como a de Lewis vêm sendo estudadas há anos por cientistas do mundo inteiro. E não se trata apenas de entender o que se passa nesses indivíduos especificamente, mas principalmente perceber o que essas descobertas podem trazer de melhor para a vida dos "aparentemente normais".
A simpática canadense Olga Kotelko, por exemplo, consegue, aos 92 anos, ter uma rotina de fazer inveja em muita gente com metade da sua idade. Praticante de atletismo há 15 anos, ela atinge marcas que mesmo competidoras com 10 anos a menos que ela jamais conseguiriam. Isso porque seu organismo envelhece em um ritmo diferente do padrão. Tanto que ainda tem todas as suas células funcionando em pleno vapor, enquanto pessoas com mais de 70 anos costumam ter de 1 a 2% delas mortas.
O mais curioso é que, ainda que essas super-habilidades sejam apresentadas pelo ponto de vista esportivo, a real discussão por trás das reportagens é o quanto essas pessoas podem mudar o rumo dos humanos. Desde reduzir o número de mortes por problemas relacionados à temperatura corporal a, por exemplo, avançar mais na busca pela tão sonhada fonte da juventude. Ou, no caso dos assuntos dos próximos episódios, entender como desenvolver o cérebro a ponto de memorizar meio milhão de jogadas de xadrez. E se adaptar tão bem a uma prótese a ponto de ser o melhor de seu país no atletismo, mesmo depois de perder a perna esquerda em um acidente. Discussões que são mais espetaculares que esportivas.
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