Na Bolívia, milhares marcham em defesa do presidente
Milhares de pessoas começaram nesta quarta-feira uma jornada de mobilizações em apoio ao presidente boliviano Evo Morales, uma resposta à marcha dos indígenas amazônicos que se opõem à construção de uma estrada que cortará um parque nacional na Bolívia.
Camponeses, indígenas, mineiros e funcionários públicos fazem uma marcha entre as cidades de El Alto e La Paz, onde ainda nesta quarta-feira o presidente deverá participar da concentração em defesa do governo e do "processo de mudanças" que lidera na Bolívia.
Uma das representantes dos produtores de coca, Leonilda Zurita, disse à imprensa local que a mobilização tem o objetivo de defender Morales e a construção da estrada.
A imprensa local divulgou que funcionários de entidades governamentais disseram ter sido obrigados a participar das manifestações, inclusive levando terceiros, sob ameaça de sanções.
Na terça-feira, o presidente boliviano antecipou que o dia 12 de outubro também seria um dia de reflexão, em alusão à data da chegada de Cristóvão Colombo na América, em 1942, o que ele já chamou, em outras ocasiões, de "invasão europeia".
ADIAMENTO
A Câmara dos Deputados da Bolívia, dominada pelo partido do presidente Evo Morales, aprovou na terça-feira um projeto de lei rejeitado pelos indígenas amazônicos porque só adia e não cancela definitivamente a construção da estrada que partirá em dois uma reserva nacional.
A lei, aprovada pela maioria governista na Câmara, estabelece a suspensão temporária da obra no Território Indígena Parque Nacional Isiboro Sécure (Tipnis) enquanto se consulta os nativos da reserva natural sobre o projeto.
"Com essa norma jurídica, abre-se a possibilidade legal à consulta na medida em que nossos companheiros mobilizados pedirem e se suspender toda a construção", disse à imprensa o presidente da Câmara dos Deputados, o governista Hector Arce.
Apesar da rejeição dos indígenas que exigem o veto definitivo da construção no Tipnis, a lei já passou pelo Senado, onde governo também tem maioria.
"Nossa decisão é clara, a estrada não deve atravessar o Tipnis", disse o dirigente aimara Rafael Quispe à "Radio Pan-americana". Quispe acrescentou que, antes de consultar os habitantes da reserva, o governo deveria anular o contrato com o Brasil, que financia o projeto.
ENTENDA A POLÊMICA
Construída pela empreiteira brasileira OAS com financiamento do BNDES, a estrada, com valor de US$ 415 milhões, tem 306 km e o trecho que causa polêmica deve atravessar o Tipnis (Território Indígena Parque Nacional Isiboro Sécure), uma reserva natural em áreas amazônicas de 1,2 milhão de hectare.
A marcha dos indígenas amazônicos, que dura mais de dois meses, partiu da região com destino à capital, La Paz, como forma de protesto ao governo do presidente Evo Morales, que no fim de setembro suspendeu a obra até que um referendo seja realizado consultando as comunidades locais.
Os indígenas, no entanto, rejeitam a consulta popular porque acreditam que os plebiscitos --que devem ser realizados em dois Estados onde produtores de coca leais a Morales são maioria-- deveriam ter como eleitores somente as comunidades indígenas diretamente afetadas pela estrada.
Eles argumentam que a obra pode levar à ruína da reserva ecológica e à invasão da área justamente pelos produtores de coca, planta base para fabricar cocaína.
O ápice da crise, após 40 dias de intensos protestos de indígenas, militantes e civis por todo o país, ocorreu no dia 25 de setembro, quando o governo ordenou uma violenta ação policial --usando gás lacrimogêneo e cassetetes-- para conter cerca de 1.500 manifestantes.
Dois ministros e vários outros funcionários deixaram o governo após a polêmica em torno da operação.
Ainda no fim de setembro o Itamaraty defendeu a obra, dizendo tratar-se de uma estrada importante para a integração boliviana.
Já a empreiteira brasileira OAS, construtora da estrada, disse também no fim de setembro que confia que o governo local chegará a um acordo com as comunidades indígenas.
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