Ausências de astros de outros países e momento bom de atletas nacionais fazem dos brasileiros uma força em Guadalajara
Brasil vai ao México como um dos grandes do esporte continental
Sessenta anos depois da primeira edição dos Jogos Pan-Americanos, o Brasil poderá participar em Guadalajara, na terceira ocasião na história em que o evento é realizado em território mexicano - a Cidade do México o recebeu em 1955 e em 1975 -, em situação única: a de protagonista.
A ausência de várias dos principais nomes do continente no esporte mundial - como no nadador americano Michael Phelps, o velocista jamaicano Usain Bolt, a equipe masculina de basquete dos Estados Unidos - fará de atletas nacionais como o nadador Cesar Cielo, as saltadoras Maurren Maggi e Fabiana Murer, o cavaleiro Rodrigo Pessoa e a remadora Fabiana Beltrame - todos campeões olímpicos e/ou mundiais de seus respectivos esportes - protagonistas.
Mas, fazer previsões de resultados é para o Brasil é tarefa inglória. Com a realização do evento no mês de outubro (normalmente ocorre em julho), vários atletas estarão em ação após disputarem as principais competições do ano - caso, por exemplo, do atletismo, da natação e da ginástica, que tiveram Campeonato Mundial, ou do basquete, que teve Pré-Olímpico.
A exceção é apenas a campeã olímpica do salto em distância Maurren Maggi, que colocou o Mundial em segundo plano e estabeleceu como principal meta na temporada o tricampeonato no evento continental.
Outras modalidades, como o vôlei, disputarão vaga para Londres na sequência da competição no México.
Outros motivos que fazem a previsão de resultados uma tarefa difícil são a posição do Comitê Olímpico Brasileiro (COB) de não fazer prognósticos ou revelar quanto gastou na preparação nacional - o País foi anfitrião da última edição da competição, em 2007, no Rio de Janeiro, ocasião que contou com investimentos inéditos na história do esporte nacional.
A delegação brasileira não será pequena em Guadalajara. Antes da crise dos cortes por superlotação da Vila Pan-Americana construída na cidade anfitriã da disputa, a previsão era de 522 atletas, 220 técnicos e preparadores, 31 profissionais da área médica e 40 da área administrativa para participação em 40 modalidades nos Jogos.
Passaporte para Londres. O evento será decisivo para 12 modalidades, que terão em jogo não só o lugar mais alto do pódio como a vaga na próxima Olimpíada. O ouro garante participação em Londres para o triatlo, o handebol, os saltos ornamentais, o hóquei sobre a grama, o nado sincronizado, o polo aquático, o tênis, o tênis de mesa e algumas provas da canoagem.
No caso do tiro esportivo (fossa e skeet),ouro e prata valem passagem para a Inglaterra. Hipismo (já classificado pelo desempenho no Mundial) e Pentatlo têm vagas para os melhores das Américas do Norte, Central e do Sul. Em relação ao judô, os resultados no México valem para o ranking olímpico.
O evento também será oportunidade para competidores do atletismo e da natação obterem os índices para ir a Londres.
Mexicanos sofrem com problemas de estrutura
Os mexicanos ainda não sabem exatamente qual será o custo total dos Jogos Pan-Americanos - estima-se um aumento de pelo menos 30% do orçamento inicialmente previsto, que era de 5 bilhões de pesos mexicanos (R$ 670 milhões) -, mas a sede do torneio tem passado grandes dificuldades para cumprir prazos e superar problemas de organização.
Tanto que o presidente da Organização Desportiva Pan-Americana (Odepa), Mario Vázquez Raña, nunca teve pudor em criticar os rumos da competição - e ele é mexicano. Para o dirigente, Guadalajara não terá os "melhores Jogos da história", como havia anunciado.
"Há muito tempo digo que isso não iria ocorrer. Para poder organizar os melhores Jogos da história, Guadalajara teria de superar o Brasil", afirmou Raña, que não citou que o Rio também teve muitos problemas com o cronograma de construção das sedes e, especialmente, com o estouro do orçamento - estimado em R$ 300 milhões, ultrapassou os R$ 4 bilhões.
A poucos dias do início dos Jogos, parte das sedes ainda recebiam operários para os últimos ajustes. A situação mais preocupante é a do estádio de atletismo, que só recebeu a última camada do piso da pista na semana passada - as provas começam no dia 23. As sedes do rúgbi, dos esportes aquáticos e do remo também passaram, em algum momento, dificuldades com seus prazos de execução.
Mas a construção do estádio foi uma das mais problemáticas do Pan. Entre 2008 e 2010, o local em que a arena seria construída mudou três vezes, por causa de questões políticas e ambientais. No fim, o terreno de uma antiga unidade esportiva, no município de Zapopan, foi escolhido.
Na mesma cidade da região metropolitana de Guadalajara foi erguida a Vila Pan-Americana, inaugurada na última terça-feira. Os prédios, que receberão cerca de 6 mil atletas, também tiveram de mudar de lugar - na proposta original, o alojamento seria construído na zona central de Guadalajara, que depois mostrou-se inadequado.
Os trabalhos começaram em dezembro de 2010, mas não sem contratempos. Em maio, um juiz do estado de Jalisco determinou o embargo das obras, motivado por reclamações de moradores. Segundo eles, a construção comprometeria a distribuição de água potável no município.
Distante quase 20 quilômetros do centro de Guadalajara, a Vila não será utilizada por algumas delegações. É o caso do handebol do Brasil, que ficará em hotel próximo do ginásio onde jogarão as equipes feminina e masculina. / Amanda Romanelli com agências internacionai
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