Professora viu jovem africano ser espancado até a morte por PMs e consultor, dentro do Rola Papo
Testemunha teme represália e ganha proteção policial
A professora Janaína Monteiro Pereira já está recebendo proteção policial. Desde a última quarta-feira (5), um oficial do Grupo de Operações Especiais (Goe) faz a escolta da testemunha ocular do espancamento que levou à morte do africano Toni Bernardo da Silva, no último dia 22 de setembro, na Pizzaria Rola Papo, no bairro Boa Esperança, em Cuiabá.
Janaína disse ao MidiaNews que tem recebido muitas ligações de pessoas que a chamam de "corajosa". A professora disse ter receio dessas ligações e teme sofrer represálias. "Muitas pessoas ligam, falam que sou corajosa e, na verdade, isso me dá medo. Até que ponto essa coragem pode ser prejudicial?", indagou.
Desde que prestou depoimento oficial na Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa, na noite do crime, o Estado ofereceu à professora o Serviço de Proteção à Testemunha. Janaína recusou o serviço oferecido pela Secretaria de Justiça, pois necessitaria mudar de Estado e isso mudaria toda a vida e a rotina de sua família.
"Não sei de quantas pessoas eles vão lembrar na vida, mas acho que vão se lembrar de mim. Não tiro da minha mente que eles querem me punir. Quero alguma forma de proteção. Se policiais no Rio mataram a juíza, por que não vão matar a Janaína?", observou a professora.
Janaína afirmou que não sofreu nenhum tipo de ameaça pelos envolvidos, que estão presos.
Depoimento polêmico
A professora, que é vizinha da pizzaria, em seu depoimento - ratificado em entrevista coletiva, na última segunda-feira (3) -, deu detalhes do espancamento que levou à morte do estudante de Guiné-Bissau (África Ocidental), ex-aluno de Economia da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT).
Ela contou que, naquela noite, saiu de sua residência para procurar um cartão bancário que acreditava ter perdido e se deparou com uma multidão na frente do Rola Papo. Ao se aproximar, Janaína disse que viu Toni deitado no chão, com as mãos nas costas, totalmente imobilizado e sendo agredido pelos policiais Higor Marcel Mendes Montenegro, 24, e Wesley Fagundes Pereira, 24.
Janaína revelou que os policiais estavam muito alterados e que, quando ela pediu para que as agressões parassem, os dois reagiram de forma ríspida e ela também temeu ser agredida.
"Eu pedi para eles pararem com a agressões, e avisei que estava chamando a Polícia. Eles se identificaram como policiais e continuaram a agredir o rapaz, mesmo ele estando imóvel. Um dos policiais pulou na minha frente e gritou: "Eu que sou bandido? Agora, eu que sou o bandido nessa história?". Fiquei desesperada", disse a professora.
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