O sobrado de uma família de comerciantes em Cuiabá abriga um casal de visitantes incomum. No lustre da sala, um casal de passarinhos da espécie cambacica, originária do Cerrado, construiu um ninho repleto de gravetos, restos de folhas, gramas e até plástico.
A arquitetura do ninho deveria parecer com uma taça, mas por conta do local inusitado que o casal de aves escolheu para erguer o refúgio, o ninho ficou disforme. Na última semana, o ninho ganhou mais um morador. A espécie entrou em ciclo reprodutivo e um filhote já pia sem parar dentro do ninho pedindo comida.
O G1 visitou a residência da família Smerdech e para flagrar mãe e filhote no ninho foram necessárias três horas de observação e paciência. O lustre fica a dois metros de altura em relação ao solo. Ao longo de cada dia, a mãe cambacica sobrevoa pelas redondezas do bairro da Lixeira, na capital, em busca de pequenos insetos e restos de fruta para alimentar o filho. Duas vezes ao dia, ela cumpre a rotina de deixar o filhote cada vez mais forte.
A comerciante Maria de Fátima Smerdech contou ao G1 que só percebeu que no lustre da casa havia sido construído um ninho pela quantidade de sujeira encontrada no chão da sala. “Eu encontrei um monte de cisco no chão, olhei para cima e já tinha aquele formato de ninho”, disse. Maria de Fátima mantém desde criança, uma grande proximidade com as aves. No passado, ela já criou dois papagaios. Atualmente, ela ainda cuida de uma calopsita, que é atração do mercado.
Toda a família está envolvida com a presença do ninho na sala. Para Aparecido Smerdech, a presença das aves na casa dele representa uma grande benção. “Nos últimos anos nós temos sido tão abençoados que a escolha desses animais tão puros por nossa casa é uma grande benção”, disse em voz embargada.
A espécie
O G1 entrevistou o ornitólogo, João Batista de Pinho, da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), para saber mais detalhes a respeito da espécie. Segundo o especialista, a cambacica é uma espécie comum em Cuiabá. “Ela é comum nos quintais de Cuiabá e é uma espécie nectiva. Ela se alimenta do néctar das flores, de pequenos insetos e restos de frutas”, explicou.
O ornitólogo confessou ao G1 que estranhou a escolha da ave pelo lustre, já que a região concentra uma infinidade de árvores. “É de se estranhar muito. Pelo que eu vi, próximo da casa tem mangueiras que poderiam ser usadas como território para o ninho”, disse. Mas a varanda de dona Maria de Fátima é convidativa para aves. O local é repleto de plantas e muito visitada por aves de outras espécies, como bem-te-vis e pardais. Ela mantém um reservatório de água açucarada, um chamariz para a cambacica e outras espécies.
A cambacica é uma ave minúscula, não passa de 10 centímetros e pode viver entre quatro a cinco anos. Ela tem papo amarelo e cabeça preta com duas listras brancas paralelas. Pinho esclareceu que a ave não apresenta nenhum risco à saúde humana, por não ser migratória. Na análise do ornitólogo, a ave auxilia no combate à dengue, por se alimentar de insetos dentro da casa. Já o ninho, segundo o ornitólogo, pode ser reutilizado pelo casal de aves, caso não se degrade com o tempo.
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