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Repórter News - reporternews.com.br
Internacional
Segunda - 03 de Outubro de 2011 às 21:26
Por: ESTEBAN ISRAEL

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A paralisação na Bolívia de uma obra brasileira de 420 milhões de dólares, rejeitada por grupos indígenas, expõe a volatilidade de alguns lugares da América Latina e pode se repetir conforme construtoras brasileiras acelerarem sua agressiva expansão regional.

 

 

A oposição a uma rodovia de 300 quilômetros que a empreiteira OAS pretende abrir na Amazônia boliviana gerou uma situação delicada para Evo Morales, primeiro presidente indígena da história da Bolívia.

 

Além do mais, o incidente pôs em xeque a ambição do Brasil de obter um acesso ao oceano Pacífico para exportar para a China. A rodovia da discórdia, no coração da Bolívia, é parte de uma rede que conectaria o Brasil a um porto no norte do Chile.

 

"À medida que o Brasil amplia sua influência, com uma maior presença física na América Latina, irá encontrar mais situações desse tipo", disse Karen Hooper, analista para América Latina da consultoria Stratfor Global Intelligence, em Austin, nos Estados Unidos.

 

Da Guatemala à Argentina, construtoras brasileiras como a OAS estão envolvidas em dezenas de projetos, financiados pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), cujos desembolsos na América Latina chegaram a 870 milhões de dólares neste ano.

 

Na Bolívia, o governo brasileiro prevê financiar 80 por cento da construção da rodovia, o que os indígenas veem como um caminho para a chegada de narcotraficantes e madeireiros clandestinos.

 

Os indígenas iniciaram uma marcha de protesto com a intenção de chegar a La Paz, mas foram dissolvidos com violência pela polícia na metade da manifestação, em um incidente que levou à demissão de dois ministros. Depois disso, Morales prometeu submeter a obra a um referendo, cuja data ainda não foi acertada.

 

A OAS não se manifestou sobre o assunto.

 

"WAÑUCHUN CARRETERA"

 

As manifestações fizeram aflorar um sentimento anti-Brasil, cuja embaixada em La Paz tem sido alvo de protestos sob os gritos de "¡Wañuchun carretera!" ("Morte à rodovia", numa mistura de quéchua e castelhano).

 

Alcides Vaz, do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília, destacou que as empresas brasileiras estão acostumadas a certos níveis de risco.

 

"A projeção dos nossos interesses econômicos nos países vizinhos está sujeita a essas vicissitudes", disse o analista. "As empresas entendem que estão atuando em países onde estão sujeitas a várias formas de instabilidade."

 

De fato, não é a primeira vez que uma construtora brasileira encontra problemas na América Latina.

 

A Odebrecht foi expulsa do Equador em 2008 por se negar a indenizar o Estado por problemas em uma obra.

 

Morales em 2007 cancelou um contrato com a brasileira Queiroz Galvão para construir uma rodovia na Bolívia, e em 2006 expulsou do país uma siderúrgica do investidor Eike Batista, o homem mais rico do Brasil, acusado de operar ilegalmente na Bolívia.

 

E pode também não ser a última, levando em conta que o BNDES tem uma carteira de projetos avaliada em 17,2 bilhões de dólares na América Latina.

 

"O Brasil tem muito a oferecer à região em termos de investimentos, e não é o tipo de investimentos que esses países estão recebendo de outras fontes. Portanto, é difícil dizer não, mas ao aceitar isso, os países abrem novas feridas em nível doméstico", disse Hooper, da Stratfor.

 

"Pela maneira como essa influência está sendo implementada, o Brasil vai se deparar com o mesmo problema repetidamente. Não é necessariamente algo terrível. Os países estão recebendo capital e estão ainda obtendo rodovias", acrescentou.

 

Depois de enviar em agosto o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva à Bolívia para tentar dissipar os protestos, o governo brasileiro disse nesta semana que confia em um "entendimento sobre o traçado da rodovia."

 

"Temos de dar tempo até que esta situação evolua ... Não acho que tenhamos chegando a um ponto sem volta", disse Vaz, da UnB.





Fonte: REUTERS

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