Na rua, 27°C e sol de cegar. Nas salas, um calor, a ponto de distribuírem garrafinhas de água gelada (raridade em Paris. A maioria prefere sem gelo) e leques baratos. Na moda, sinceramente, temperatura morna. É difícil surpreender quase no fim da semana de coleções. Mas sempre há algo a destacar, já que para participar de um evento destes é preciso ter um talento absurdo e algum sucesso com os compradores internacionais.
Duas marcas francesíssimas, Céline e Hermès, se enquadram neste resultado meio mais ou menos. Para quem se abalou até um distante clube de tênis, a Cèline assinada pela Phoebe Philo valeu pelos muitos looks de calças, pelas mangas arredondadas, principalmente pelas blusas com franzidinho no decote e ajustadas por cintões. Outra coisa boa é a quantidade de bolsos, sempre bem-vindos. O corte trench reforça o estilo sóbrio, em brancos e vinhos. Em compensação, uns três looks brancos com interferências em coral deram uma acordada em quem já estava cansada de tanto trench, paletós e calças. Não são grande coisa, mas segundo o comentário de uma compradora, devem vender bem. Bonitinho mesmo é o top branco com babado enviesado na barra, tem cara de verão. Pelo menos verão brasileiro.
Hermès tem um porém: eu gostava quando era feita pelo Gaultier. Cada desfile incrível, os couros deslumbrantes. Agora é Christophe Lemaire quem assina, tenho que acostumar com o jeito mais calmo dele. Em vez da soturna Salle Freyssinet, que dava altos efeitos, o desfile foi no elegante museu Jeu de Paume. Em lugar das jaquetas e saias de couro, a inspiração foi meio oriental, já que havia paletós Mao, mangas largas, vestes tipo quimono. Muita alfaiataria e saias longas brancas - devem ser de linho - com bainhas abertas. Um lote de casacos laranja, um toque de azulão e a coisa se perdeu mesmo nos final, nos vestidinhos de seda com alças finas e saias curtas enviesadas. Ah, os lenços! Os de seda, cobiçados, fizeram blusas de cós e gola em preto. Mas havia outros, brancos, amarrados na nuca, cobrindo os cabelos. Saudades do Gaultier.
Falando em oriental, Issey Miyake lotou a tenda na Concorde. Para mostrar plissados e estampados? Nããão: começou por ternos claros (isto é, alfaiataria, mas fiquei com vergonha de repetir a palavra), com mangas ou calças abertas, shorts, uns cortes de pelerine, arredondados nos ombros. Depois, veio o melhor, o que traz ideias para a vida real. Derivados das roupas esportivas, ou de academia, leggings com recortes transparentes! Coloridos, sinuosos, ótimos. Vão inspirar a turma da Lycra® e do tule. Acabou sendo melhor do que os origamis e dobraduras típicos da marca. Renovar é preciso.
Quando há tempo, devem ser vistos os salões - principalmente o Tranoï, que ocupa as salas do subsolo do Museu do Louvre - e os show-rooms. O problema é correr de um lado para o outro e arriscar perder um desfile. Como hoje havia dois na região da Concorde, deu para visitar rapidamente a mostra da grife Paule Ka, na rue Saint Honoré. Serge Kajfinger, o autor metade brasileiro, recebia uma pequena multidão com drinks e a loja foi transformada em uma selva com mesinhas onde estavam as modelos. Detalhe principal: o crochê! Em galões de casaquinhos, em cinturas ou no biquíni inteiro, usado com saia de plástico transparente. Nos pés, sandálias com tiras subindo pelas pernas, em verniz vermelho ou douradas. E a tarja preta, onipresente nesta semana? Sim, lá estava ela, nas golinhas das blusas franzidas. Foi a graça do dia, junto com os leggings do Miyake. O restante, ainda precisa esquentar.
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