Brasil terá o menor crescimento entre emergentes, diz FMI
O grupo dos emergentes, que desde a crise detonada pela quebra do Lehman Brothers em 2008 foi o porto seguro da expansão global, está tendo dificuldades de lidar com a exaustão das políticas de estímulo do pós-crise, o fim da era de bonança externa (preços de commodities e condições financeiras), desajustes fiscais e inflacionários, gargalos de infraestrutura e regulatórios e o esgotamento do modelo de desenvolvimento (no caso de China e Rússia), segundo a análise do FMI, que faz esta semana sua reunião anual de cúpula.
A economia indiana foi a mais sacrificada entre os emergentes, com a expectativa para o PIB caindo 1,8 ponto percentual este ano e 1,1 ponto no próximo, para 3,8% e 5,1%, respectivamente. A China teve a previsão cortada para 7,6% em 2013 (-0,2 ponto) e para 7,3% (-0,4 ponto) em 2014. Na Rússia, o recuo foi de 1 ponto este ano, para 1,5%, e de 0,3 ponto no próximo, para 3%.
- A principal notícia desta vez vem dos mercados emergentes, nos quais o crescimento desacelerou, quase sempre mais do que projetávamos. A questão óbvia é se este freio reflete fatores cíclicos ou uma redução do crescimento potencial do produto. Baseado no que sabemos hoje, a resposta é que reflete ambos, ainda que de formas diferentes para os diversos países - afirmou o economista-chefe do FMI, Olivier Blanchard, no sumário do relatório de projeções de outubro.
Para o FMI, o quadro atual representa um momento de transição no padrão da recuperação econômica, em que, apesar da taxa mais alta de expansão dos emergentes, a força de tração estará com as economias avançadas. O mundo continuará patinando, com crescimento estimado em 2,9% este ano (-0,3 ponto) e 3,6% em 2014 (-0,2 ponto). Os países ricos não sofreram alteração em suas projeções de alta do PIB _ 1,2% em 2013 e 2,0% ano que vem. Já as previsões para os emergentes recuaram 0,5 ponto este ano, para 4,5% e 0,4 ponto no próximo, ficando em 5,1%.
A principal contribuição à economia global será dos Estados Unidos, com alta do PIB estimada em 1,6% em 2013 e 2,6% em 2014. Isso significa que mais do que nunca o ritmo de recuperação mundial depende do fim do impasse político nos EUA, reabrindo o governo americano e aumentando o teto da dívida antes do prazo de 17 de outubro.
Além disso, diz o FMI, é crucial que o Federal Reserve (Fed, banco central americano) conduza adequadamente o processo gradual de saída da política monetária expansionista, que reduzirá os estímulos domésticos, aumentando a remuneração de ativos no país e atraindo de volta capitais que inundaram os mercados emergentes nos últimos anos.
Isso pode deteriorar condições financeiras e macroeconômicas em todo o mundo, particularmente nas nações em desenvolvimento. O Fundo acredita que os ajustes nos mercados financeiro e cambial observados desde maio poderão ter sido a maior parte da fatura, mas alerta que riscos de novas turbulências permanecem.
O quadro permanece estável na zona do euro, com a recessão estimada em 0,4% este ano (contra 0,5% no documento de julho) e uma expansão, inalterada, de 1% ano que vem. O FMI voltou a cobrar das autoridades europeias aceleração na implementação das reformas bancarias, financeiras e estruturais, para estimular o crescimento.
No Japão, 2013 é o momento de colheita das políticas monetária e fiscal expansionistas implementadas no primeiro semestre, a chamada Abenomics. O país deve crescer 2% _ melhor desempenho entre as maiores nações ricas _ mas não deverá sustentar o resultado, desacelerando para 1,2% em 2014. Isso porque o pacote de estímulo perderá forca e haverá elevação de imposto sobre consumo, parte do plano fiscal de longo prazo.
Na avaliação do Brasil, o Fundo afirma que a recuperação continuará moderada, ainda que haja perspectiva positiva para a retomada dos investimentos. A equipe de Blanchard acredita que a recente depreciação do real frente ao dólar elevará a competitividade externa e neutralizará parcialmente o impacto adverso do aumento do prêmio de risco associado aos bônus brasileiros negociados no exterior. O FMI alerta o Brasil e outros emergentes que os governos não devem tentar impedir a desvalorização de suas moedas.
“Tanto as desacelerações estruturais quanto as cíclicas na atividade pedem uma desaceleração da taxa de câmbio real, tudo mais mantido inalterado. Movimento deste tipo também ajudaria a compensar os déficits em conta corrente em algumas importantes economias emergentes cujos déficits são maiores do que permitidos pelos fundamentos e políticas (Brasil, Indonésia, Turquia e África do Sul)”, diz o documento do FMI.
Os juros deverão continuar subindo, diante da persistência da inflação na banda superior da meta de inflação, de 4,5% pelo IPCA, com margem de variação de 2 pontos para mais ou menos. A pressão inflacionária, avalia o Fundo, poderá segurar o consumo, motor dos últimos anos do PIB brasileiro, ao corroer o poder de compra da população. Constrangimentos de oferta, notadamente infraestrutura, e incertezas quanto às políticas públicas podem continuar limitando o ritmo de atividade.
A situação fiscal dos emergentes, segundo o FMI, se deteriorou e os países devem evitar novos pacotes de estímulo, a não ser em caso de desaceleração muito acentuada. A dinâmica da dívida pública passou a ser negativa e é hora de reconstruir espaço de manobra fiscal. O recado se aplica ao Brasil, ao qual o organismo recomenda retomar reformas estruturais.
“A urgência em agir varia de acordo com a economia: passos urgentes e decisivos são desejáveis em algumas economias nas quais o nível de endividamento já é elevado (Brasil, Egito, Hungria, Índia, Jordânia, Polônia e Malásia). Em algumas economias, riscos contingenciais crescentes aos orçamentos e à dívida pública devido ao aumento substancial de atividades quase-fiscais e déficits reforçam a necessidade de se reconstruir espaço fiscal (Brasil, China, Venezuela)”, adverte o Fundo.
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