Decano do movimento homossexual no Brasil, o baiano Luiz Mott critica postura da Polícia Civil
Morte de homossexual em MT têm repercussão nacional
O assassinato violento do vendedor de perfumes Umbelino Silva Nascimento, o "Belo", 50, na quarta-feira (21), em Cuiabá, ganhou repercussão nacional, após a declaração da delegada Sílvia Pauluzi, da Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), de que a hipótese de crime de homofobia estava descartada das investigações. O vendedor, que era homossexual, foi encontrado morto, em seu apartamento, no Residencial Santa Inês.
Decano do Movimento Homossexual Brasileiro, o antropólogo e professor Luiz Mott, da Universidade Federal da Bahia (UFBA), contestou a afirmação da delegada e afirmou ao MidiaNews que o homicídio apresenta traços de violência típicos de um crime de homofobia.
"Crime homofóbico faz parte de crimes de ódio, cometidos contra indivíduos por causa de sua orientação sexual, religião, raça, entre outros, com requintes de crueldade: por grande número de golpes ou tiros, uso de vários instrumentos, tortura", explicou Mott, por telefone.
"Belo" foi assassinado com 40 facadas, segundo agentes da DHPP que estiveram no local. Sua orientação sexual também não era segredo. Os amigos declararam que o vendedor era homossexual, morava há 20 anos no mesmo prédio e era síndico do condomínio, no condomínio.
Apesar da brutalidade registrada no crime, a delegada Sílvia Pauluzi disse que crimes de homofobia são praticados, geralmente, por pessoas que têm aversão a homossexuais, não os aceitam e os repudiam. "Neste caso, não vislumbro essa situação (de crime homofóbico). As investigações apontam para um único autor e conhecido da vítima", disse.
No entanto, Mott acredita que, apesar de ter sido cometido por uma única pessoa e que ela não seria uma desconhecida, não significa que a hipótese de homofobia possa ser rapidamente descartada. "O conceito de crime homofóbico não está restrito à quantidade de autores que praticaram o crime", explicou.
Nada foi roubado do apartamento da vítima - o que configuraria crime de latrocínio - e não há declarações que "Belo" fosse odiado por alguém. Por essa razão, o antropólogo, que também é autor de livros que exploram a homossexualidade e os crimes cometidos contra essa minoria, apresentou uma versão alternativa para o caso.
"A maioria dos crimes contra gays é cometida por uma pessoa só. Uma hipótese é de que o autor do crime não tenha aceitado o assédio moral ou sexual e tenha reagido de maneira violenta. Isso indica que ele tinha um ódio reprimido muito grande", argumentou.
Visão distorcida
A delegada Pauluzi afirmou que as investigações realizadas pela DHPP apontam para um "acerto de contas" entre a vítima e uma pessoa conhecida, que entrou no apartamento junto com "Belo".
A delegada ressaltou que o fato de a vítima ter sido encontrada nua e não haver sinais de arrombamento na porta do apartamento reforçam essa linha de investigação.
Para Luiz Mott, "a opinião da delegada está totalmente equivocada" e "o fato de ele ter sido encontrado morto nu sugere um ato homoerótico". Ele afirmou ainda esperar que o professor Clovis Arantes, do Grupo Livre Mente em Mato Grosso, envie à delegada o livro "Manual de Coleta de informações - Sistematização e Mobilização Política Contra Crimes Homofóbicos (2000)", de sua autoria, "como uma atitude de esclarecimento".
O professor Arantes, aliás, já havia ressaltado que são vários os crimes envolvendo homossexuais e sempre da mesma forma, motivados pela falta de atenção a pontos básicos de segurança por parte das vítimas. "Infelizmente, são vários casos e não é por falta de aviso", disse.
Ainda defendendo a hipótese de crime homofóbico, Luiz Mott ressaltou que "o sujeito que fez isso é extremamente perigoso para Cuiabá" e pode acabar fomentando a prática desse tipo de crime na cidade, caso não haja a atenção necessária por parte das autoridades.
Comentários