Derrotado na disputa ao Governo, ex-prefeito de Cuiabá leciona aos estudantes carentes no programa social Cuiabá Vest
Sem mandato, Wilson Santos aposta na carreira de professor

Antes considerado sucessor de Dante de Oliveira na política de Mato Grosso, graças a uma ascensão meteórica que lhe permitiu ocupar cargos de vereador a prefeito de Cuiabá, Wilson Santos (PSDB), candidato derrotado ao Governo do Estado em 2010, experimenta, pela primeira vez em 20 anos, conviver sem mandato eletivo.

Agora, em busca da sua recuperação política, sua rotina se concentra nas atividades de professor do Cuiabá Vest. Trata-se de um programa social implantado pela Prefeitura, em seu primeiro mandato, que visa apreparar estudantes de baixa renda, para conseguir uma vaga no ensino superior.

Para conhecer mais detalhes, a reportagem do Midianews acompanhou Santos, durante dois dias, para conhecer de perto sua rotina de professor.

Na segunda-feira (5), acompanhamos suas aulas nos bairros Pedra 90 e Tijucal, no período noturno, onde leciona, quinzenalmente, História do Brasil. No sábado (9), na Capela Santa Rita, bairro Centro, no período das 14h às 16h, foi a vez de acompanhar o tema "Atualidades".

A sala de aula, no entanto, não é uma novidade em sua vida. Antes de concorrer a mandatos políticos, Santos ganhou fama em Cuiabá pela habilidade com que ministrava conteúdo de história, em redes públicas e particulares de ensino médio, sendo considerado um "mestre nas salas de aulas".

"A política nunca foi uma profissão, mas uma ocupação, que um dia sabia que iria terminar. Minha profissão sempre foi a de professor, amo dar aula, e sou feliz assim", justifica.

Disposição e estímulo

Ao participar do Cuiabá Vest, Wilson Santos abandonou o uso do terno e gravata, que tanto lhe acompanharam nos tempos de parlamentar e prefeito.

Agora, uma roupa social é usada para encarar o calor de 38º, de uma tarde de sábado, em uma sala de aula refrigerada somente com três ventiladores, onde permanece por duas horas, em cima de um tablado de madeira, ensinando conteúdo exigido no Enem (Exame Nacional do Ensino Médio).

Preocupado, sempre faz questão de chegar, ao menos, 10 minutos antes do início das aulas. "Tenho que ser referência para a molecada", alega.

Seus únicos instrumentos de trabalho são gizes coloridos e apagador, usados para levar conhecimento aos estudantes, que farão a temida prova do Governo Federal, nos dias 22 e 23 de outubro. Aborda qualquer assunto em sala de aula, à exceção de política. "Não quero misturar as coisas e não peço voto a ninguém", observa.

A platéia, com mais de 100 alunos, é composta por homens e mulheres com idade de 17 a 40 anos, cujas famílias convivem com até três salários mínimos. Mas, há outro ponto em comum: todos enxergam no ingresso ao ensino superior o primeiro passo para melhorar a qualidade de vida.

Diante disso, nos intervalos em que explica detalhadamente o novo Código Florestal, violência urbana, revolta árabe, questão indígena e outros assuntos da atualidade, Santos tenta levar ânimo aos estudantes e estimulá-los a participar das aulas.

"Sou responsável em levar somente 30% do conhecimento. O restante vocês vão adquirir estudando, lendo o material de estudo em casa, abandonando atividades sociais, porque esse momento exige. Lembrem-se: o futuro de vocês está em jogo, a oportunidade é agora. Todos podem conseguir o que quiser, basta lutar", afirma.

Atuar para ajudar a classe mais humilde é o argumento de Santos para justificar seu retorno às salas de aula.

"Desde criança, tinha dois sonhos: ser professor e prefeito de Cuiabá. Deus me permitiu essas duas conquistas. No Cuiabá Vest, sou feliz em dobro porque é um programa social de minha autoria", afirma.

Santos ainda alega que não há nada que pague a felicidade de ver alunos aprendendo em suas aulas.

"É na periferia que estão as pessoas que precisam de oportunidades. É por isso que estou aqui. Não há nada mais agradável do que ver pessoas lutando por melhorias nas sua vidas e você ter participação nisso por meio do ensino. Costumo dizer que você pode perder tudo na vida, menos seu conhecimento, que é a arma mais poderosa para se sair vitorioso", diz.

Atração

Graças à visibilidade que seus mandatos políticos lhe conferiram, muitos estudantes sentem-se intimidados com sua presença em sala de aula, embora sejam instigados pelo professor Wilson Santos a sanar dúvidas nas salas de aula.

Para "quebrar o gelo", Santos, em determinados momentos, faz piada, mas procura manter o foco no aprendizado. Seu estilo de dar aula já é admirado pelos estudantes. "É um professor atualizado, que tem uma boa dialética e transmite conteúdo de forma muito fácil", afirma Antônio Carlos Loni, 49, candidato a uma vaga de Serviço Social na UFMT.

A insistência em convencer seus alunos a prestar atenção também é elogiada. "Lembro que, em 1994, ele fazia um pré-vestibular de História de graça, aos estudantes da Escola André Luiz, no bairro Consil, onde foi paraninfo da minha turma. É um ótimo professor, que merece nosso respeito", diz Elaine Cristina de Britto, 32, candidata a uma vaga de Jornalismo na UFMT.

Crescimento pessoal e profissional

Embora seja conhecido pela fama de professor de História, Wilson Santos não tem graduação nesta modalidade. Na verdade, tornou-se autodidata (aquele que aprende sozinho) em História do Brasil, Geral e até de Mato Grosso.

Este conhecimento é resultado de sua incrível vontade de aprender que carrega desde a infância. Filho de uma mãe cearense e pai baiano, que desembarcaram em São Paulo no final da década de 60, para tentar a sorte com a industrialização, Wilson Santos é natural de Dracena (SP), mas chegou a Mato Grosso com 3 anos, junto com a família, em busca de melhores condições de vida.

Na infância, aprendeu com os irmãos Elias Santos e Wilton Santos a trabalhar de jornaleiro para ajudar os pais, que mantinham uma banca de jornal no Centro de Cuiabá. "Ali, sabia que deveria estudar, e muito, para alcançar meus objetivos. Sonhava em ser professor e prefeito de Cuiabá", revela.

Com 50 anos completados no dia 26 de agosto, Santos é graduado em Direito pela UFMT (Universidade Federal de Mato Grosso). Na faculdade, deu os primeiros passos na política ao presidir o Centro Acadêmico. Também é licenciado em Ciências, o que lhe permite dar aulas de Matemática, Física e Química.

Também carrega no currículo uma pós-graduação em Gerência de Cidades pela FAAP (Fundação Armando Alvares Penteado) e outra pós-graduação em Estudos Europeus, na Universidade de Coimbra, em Portugal.

Dono de uma memória que lhe permite ensinar Pedro Álvares Cabral, Revolução Industrial, passando por álgebra, polinômios e trigonometria, Santos jura que nunca fez curso de memorização algum.

"Quando criança, queria aprender tudo na escola, o que me levou a ter uma memória forte. Isso foi se consolidando pela facilidade de aprendizagem", revela.