Roberto Carlos, o Messias brasileiro em Jerusalém
Faz uns três anos que o Brasil não para de celebrar Roberto Carlos. Os pretextos são muitos: 50 anos de carreira, 70 de vida, 200 do show "Emoções".
Teve o encontro com Caetano Veloso. Depois, o especial com as cantoras. Em seguida, com os sertanejos. Neste ano a Beija-Flor ganhou o carnaval carioca com um enredo sobre o Rei. E ontem vimos pela TV o show que ele fez na quarta-feira (7) em Jerusalém.
Roberto Carlos em Jerusalém? Minha primeira reação deve ter sido a de muita gente: que papagaiada é esta? Lá vai ele para a Terra Santa cantar compungido, como se fosse o Messias brasileiro. A quarta pessoa da Santíssima Trindade.
Claro que a religiosidade se derramou pelo show inteiro. A transmissão pela TV foi intercalada com vinhetas do Rei em pontos turísticos da cidade sagrada. Quase sempre com a cara amarrada, como se tivesse comido um falafel que lhe caiu mal. Não faltou a oração no Muro das Lamentações, nem no Santo Sepulcro. Por um momento achei que ele surgiria crucificado.
Mas também não faltou a sensualidade. O septuagenário Roberto ainda manda bem em seus clássicos de motel, e muitos deles foram incluídos no repertório. Nada mais brasileiro do que essa mistura de fé e sacanagem.
As emoções eram tão pré-fabricadas que ninguém precisava que ele abrisse a boca. Glória Maria foi às lágrimas já no discurso de apresentação. Depois ainda tirou uma casquinha ao dançar com Roberto, e saiu do palco a contragosto.
O cenário era tão bom que muita gente no Twitter se perguntava se aquelas igrejas e mesquitas eram de verdade. A voz de Roberto também estava abençoada: a idade ainda não diminuiu seu controle perfeito, seu fraseado justo, sua emoção. A versão de "Eu Sei que Vou te Amar" foi a melhor que eu ouvi na vida.
Roberto Carlos fez basicamente a mesma apresentação que faz há anos, com os maiores sucessos de sua carreira e pouquíssimas novidades. O público não reclama: só quer ouvir os hits. É curioso como sua música é atemporal. Alguém lembra de cabeça em que ano saiu "Detalhes"? São canções que não marcam época: marcam vidas.
Mesmo assim, ele poderia ter saído um pouco mais de sua zona de conforto. Roberto costuma arriscar mais nos especiais de fim de ano, quando canta com seus convidados. Em Jerusalém, a maior surpresa foi uma leitura contida de "Caruso", de Lucio Dalla. Praticamente uma ária para ser cantada a plenos pulmões, a canção ganhou uma interpretação delicada e original.
O final, obviamente, foi com "Jesus Cristo". Ninguém reclamou, muito pelo contrário. Sem emplacar um novo clássico há quase 30 anos, Roberto Carlos segue reinando. Agora só falta ser canonizado.
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