Valor médio de venda da energia está 43% abaixo do mínimo necessário para manter as usinas funcionando
PCHs não têm condições de competitividade
Para que uma Pequena Central Hidrelétrica (PCH) instalada em Mato Grosso consiga equilibrar suas contas, é preciso comercializar a energia produzida por um preço mínimo de R$ 144,00 por megawatt/hora (MWh) ao ano. A conta é feita pelo presidente do Sindenergia, Fabio Garcia, a partir de uma projeção que considera um empreendimento com potência instalada de 15 MW orçado em R$ 90 milhões – dos quais 70% financiados.
A conta não teria nada demais não fosse pela comparação com os valores mais recentes da energia comercializada em leilões no Brasil. Em meados de agosto, o preço médio de venda de energia para fontes hidrelétricas ficou em R$ 102,07 por megawatt/hora (MWh) – ou seja: 43% abaixo do mínimo necessário para garantir a sustentabilidade de uma PCH média. “Essa matemática não fecha. Hoje é mais rentável e menos arriscado manter os recursos no banco do que investir nesse formato de negócio”, avalia Fabio Garcia.
Após o último leilão de energia, percebe-se um movimento de desânimo entre investidores, motivado por questões conjunturais diretas e indiretas ao setor de energia. Um dos aspectos que tem influenciado o mercado hoje é o alto custo das obras – causado pelo aquecimento do setor imobiliário e de construção civil. Hoje, calcula-se que o chamado custo civil dos empreendimentos responda por 60% do projeto total de uma pequena central hidrelétrica. Outros aspectos sobre os quais o empreendedor não tem gerência e que contribuem para a fragilidade desse setor de geração de energia são as questões ambientais e o prolongado e custoso processo de estudo de uma PCH.
Consideradas fontes limpas de energia, as PCHs são usinas que geram energia a partir do aproveitamento da água até 30 MW. Essa geração ocorre de forma distribuída e em pequenos municípios do Estado, o que confere segurança energética. Outra consequência positiva desse modal de energia é o aquecimento econômico impulsionado pela geração de empregos e prestação de serviços demandados durante as obras. Além disso, há vantagens indiretas, como as melhorias na infraestrutura das cidades e o aumento na arrecadação municipal e estadual.
Mato Grosso hoje conta com 49 PCHs em operação, localizadas em 34 municípios. Sozinhas, as PCHs respondem por 57% de todos os empreendimentos de geração de energia do Estado e geram 645,9 MW – volume que corresponde a 42% de toda a energia gerada em Mato Grosso. Os dados são da Aneel e do Ministério de Minas e Energia, elaborados pelo Sindenergia – sindicato que reúne empresas de toda a cadeia produtiva da energia.
ENTENDA O CÁLCULO
O empreendimento: uma usina com potência instalada para 15 MW, tendo um fator de capacidade de 55% (volume a ser gerado na média, considerando aspectos não gerenciáveis, como variação dos níveis de água e questões climáticas). A projeção seria de geração de 72.270 MWh/ano em média.
O investimento: R$ 90 milhões, o que equivale a uma aplicação de R$ 6 milhões/MW. Desse total, a simulação considerou 70% de financiamento e 30% de fontes próprias do investidor. Além disso, projetou-se uma inflação anual de 6%.
Valor mínimo de venda da energia: R$ 144,00/MWh/ano
Valor médio de venda atual: R$ 102,27/MWh/ano
Resultado: uma diferença de 43% a menos!
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