"Sabíamos que alguma coisa catastrófica tinha acontecido", conta.
"Não acreditava que tinha sobrevivido", diz bombeiro resgatado no WTC
Eu não podia acreditar que tinha sobrevivido. A devastação era tão inacreditável, que eu não conseguia acreditar que tinha sobrevivido". Este foi o primeiro pensamento que passou pela mente do chefe de batalhão do Corpo de Bombeiros de Nova York, Jay Jonas. Hoje com 30 anos de serviço, ele foi um dos únicos 20 sobreviventes do desabamento da Torre Norte do World Trade Center, que desabou após terroristas lançarem um avião no prédio em 11 de setembro de 2001. Cerca de 3.000 pessoas morreram nos ataques.
Em entrevista ao G1, Jonas contou detalhes sobre o momento do desabamento e o drama de ter ficado preso nos escombros da torre de mais de cem andares. "Eu me lembro de cada minuto quando a Torre Norte começou a desabar. Nós estávamos no quarto andar. Eu tentava achar uma cadeira para acomodar uma senhora [que havia sido resgatada]. O tremor era muito violento, um andar atingindo o outro. Isto causava uma tremenda vibração e um barulho enorme."
Jonas conta que era possível perceber a aproximação do desabamento. "À medida que o desmoronamento ia chegando mais perto, o barulho ia ficando mais próximo e a vibração ficava cada vez mais violenta. Havia um barulho de aço retorcido. O desabamento provocava um vento como se fosse um tornado. E com esse vento vinham muitos detritos, que nos atingiam vindos de diferentes direções. Tentamos nos proteger da melhor forma que podíamos, esperando pelo grande pedaço de concreto que a qualquer momento nos atingiria, o que acabou não acontecendo."
Milagre"
O pedaço de concreto acabou não atingindo o grupo, que ficou vivo no vão da escada B da Torre Norte. Segundo ele, a sensação foi de que isso tudo aconteceu em 2 minutos. Como não podiam deixar o local, ficaram presos durante 4 horas sem contato nenhum com o exterior.
Nós não tínhamos a menor ideia de como as coisas estavam lá fora. Sabíamos que alguma coisa catastrófica tinha acontecido, mas não tínhamos noção de quanto a situação era ruim. Jonas contou ainda que havia muita fumaça e que, enquanto permanecia sem poder sair do local, houve uma explosão perto de onde estavam. "Essa foi uma das situações que tivemos que enfrentar", completou.
De três a quatro horas depois do desabamento, a fumaça começou a se dissipar e a luz do dia entrou por um vão da escada. "Com a luz do dia, conseguimos ver uma área que não tínhamos visto antes. Por ali, conseguimos abrir um buraco e sair salvando também a mulher que tínhamos encontrado no 20º andar", contou.
Para ele esse momento ter sobrevivido a uma situação tão perigosa não tem explicação. "Eu só posso dizer que foi sorte", comentou. O episódio desses sobreviventes ficou conhecido como o "Milagre do Vão da Escada B".
Trabalho de resgate
Jonas havia ido ao WTC atuando como capitão do Ladder Companhia 6, uma das primeiras que chegaram ao local. Ele estava no lobby do prédio quando o segundo avião atingiu a Torre Sul e recebeu ordens do vice-comandante dele para começar a resgatar as pessoas que estavam no local.
Segundo ele, todo o trabalho era árduo, e entre as dificuldades encontradas havia a impossibilidade de usar os elevadores no socorro às vítimas. "Quando o grupo tentava subir pelas escadas da Torre Norte, soube que a Torre Sul tinha desabado", disse.
No caminho, os bombeiros iam encontrando pessoas que buscavam uma saída. "Em determinado momento, na altura do 20º andar, encontramos uma mulher que estava muito nervosa - Josephine." Quando encontrou os bombeiros, Josephine Harris já havia descido vários andares. Com muito esforço, ela estava descendo desde o 50º piso. Ainda tinha sequelas de um atropelamento que sofreu meses antes do atentado.
"Ela não podia andar. Eu decidi que iríamos salvá-la. Nossos homens então começaram a carregá-la. Fomos até o quarto andar. Foi quando a torre em que estávamos começou a desabar." A mulher ficou salva do desabamento junto com os bombeiros, e foi resgatada com vida após ser retirada dos escombros.
Jones comemora a sorte que o grupo teve de se salvar mesmo estando no local do desabamento, mas o sentimento dele se divide quando lembra dos companheiros que perderam a vida nos resgates. "Infelizmente, bombeiros morreram trabalhando. Eu me sinto mal por ter perdido tantos amigos", contou. Segundo Jonas, o Corpo de Bombeiros de Nova York perdeu em 39 minutos, 343 integrantes.
Perto de completar dez anos do atentado, o chefe diz que hoje faz o mesmo que fazia naquele dia. "Salvar vidas", concluiu. Josephine Harris, a sobrevivente que foi socorrida por Jay Jonas, morreu neste ano de ataque cardíaco.
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