O "Estado" apurou que a conta corrente indicada na mensagem está em nome de entidade ligada ao grupo de José Rainha Júnior, dissidente do MST que também foi preso na operação
Carta aberta pede dinheiro para ex-chefe do Incra investigado pela PF
Uma carta aberta distribuída a um extenso mailing pela internet pede contribuição financeira para a defesa do ex-superintendente do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) em São Paulo, Raimundo Pires da Silva, um dos envolvidos na investigação da Operação Desfalque, desencadeada em junho deste ano pela Polícia Federal. Na ocasião, foram presos servidores terceirizados do Incra e líderes sem-terra, entre eles José Rainha Júnior, dissidente do Movimento dos Sem-Terra (MST), sob a acusação de desvio de recursos da reforma agrária. Silva foi conduzido coercitivamente à sede da PF em São Paulo para prestar depoimento e acabou perdendo o cargo.
O texto elogia a atuação do ex-superintendente e afirma que ele e seus "companheiros" são vítimas de ataques e do já antigo processo de criminalização da reforma agrária. "Foi exatamente por agirem em defesa de seus ideais, no cumprimento dos princípios da administração pública e pela eficiente implantação da reforma agrária no Estado de São Paulo que essas pessoas sofrem hoje questionamentos de suas ações como gestores e técnicos", diz a carta. A carta lembra que Raimundo dedicou-se exclusivamente aos cargos que ocupou na administração pública e nunca foi homem de posses, por isso terá dificuldade financeira para contratar sua defesa.
Informa ainda que seus colegas criaram um fundo de arrecadação e agradecem "toda e qualquer contribuição". Silva dirigiu o Incra paulista de 2003 a 2011. Os indiciados na operação da PF foram enquadrados por crimes como extorsão, apropriação indébita, peculato mediante erro de outrem, formação de quadrilha, inserção de dados falsos em sistema de informação, além de crimes ambientais. A PF flagrou, por exemplo, conversa telefônica entre servidores terceirizados do Incra no interior pedindo que fossem "ajeitadas notas frias" com comerciantes para cobrir despesas pessoais.
A Polícia Federal informou que a lei prevê o amplo direito de defesa e, caso algum acusado não tenha recursos para a defesa, pode obter assistência da defensoria pública. Silva não foi localizado pela reportagem, mas um familiar informou que ele nada sabia sobre o pedido de contribuição. O Estado apurou que a conta corrente aberta pelo Banco do Brasil para o recebimento de contribuições está em nome da Federação dos Empregados Rurais Assalariados do Estado de São Paulo, com sede em Araraquara. O telefone da federação estava fora de operação. A entidade é ligada ao grupo de José Rainha Júnior, um dos líderes presos na operação e que, até esta quinta-feira, 18, não tinha sido libertado.
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