Viciados largam tratamento e voltam às "cracolândias"

Apenas cinco dos 23 dependentes químicos encaminhados para tratamento durante a Operação Rosa dos Ventos, realizada pela Polícia Civil, em Cuiabá, continuam as sessões de terapia. O restante deixou as unidades de tratamento e voltou para as imediações do Terminal Rodoviário de Cuiabá, formando o que se convencionou classificar de "cracolândia".

 A  operação Rosa dos ventos foi realizada no dia 30 de junho, na região do bairro Alvorada, próximo à Rodoviária, um dos pontos mais críticos de venda e uso de drogas na Capital. No total, 14 hotéis das imediações foram vistoriados e quatro interditados.

Voltaram às ruas de Cuiabá 18 usuários de drogas, antes mesmo de completarem um mês de internação. A informação foi checada pelo MidiaNews nas comunidades terapêuticas Valor da Vida e Limar. Segundo o diretor da primeira, Gonçalo Agnalon, o trabalho foi realizado da melhor maneira possível, mas o estado avançado de dependência química dificulta que os pacientes aceitem o tratamento.

"Fizemos o tratamento da melhor forma possível. Eles receberam tratamento psicológico, participaram de terapias, foram bem alimentados e tinham condições de largarem o vício. Não podemos obrigar a continuarem o tratamento, não é assim que funciona. A maior vontade tem que partir do recuperando. Eles resolveram largar o tratamento e voltar às ruas, infelizmente não tivemos como impedir", informou Agnalon.

Ele ressaltou que continua com três dependentes em tratamento e que os esforços se concentram na recuperação dos que estão tentando viver longe das drogas. "Ainda estou trabalhando com três internos, que nos foram entregues durante a Operação Rosa dos Ventos. Queremos que eles se recuperem para provar que todo esse trabalho não foi em vão. Os esforços continuam, todos os dias. O tratamento é sempre um dia de cada vez", explicou o terapeuta.

Já na comunidade Valor da Vida, que estava abrigando 11 mulheres e seis homens, apenas um casal continua o tratamento. A monitora Paula Neno, disse ao MidiaNews que não havia como continuar as terapias, já que, em alguns momentos, as internas chegaram iniciar uma briga.

"Infelizmente, apenas uma das garotas continua com o tratamento, ela é mais velha, e mostra que deseja seguir uma vida sem drogas. As outras falavam sempre em ir embora e foram saindo aos poucos. É uma terapia que só tem resultado com a força de vontade deles mesmo. Aqui elas tinham quadra de esportes, cama quentes, comida na mesa, piscina, banhos e atenção. Algumas só faziam questão de usar a piscina e logo foram perdendo o interesse", disse a monitora.

Fim das "cracolândias"

A operação policial Rosa dos Ventos visa a combater as "cracolândias" existentes em Cuiabá. A Prefeitura Municipal foi parceira na ação e fez um contrato de 12 meses para fornecer tratamento de recuperação dos dependentes químicos, conhecidos na região como "zumbis".

O valor pago por cada interno é de R$ 750 mensais. O período de cada internação deve durar, pelo menos, quatro meses.

A população cuiabana, que acompanha o crescimento do índice de "zumbis", aceitou bem a iniciativa.

Grande parte dessas pessoas é detida, mas não passa por tratamento de dependência química: são liberadas em seguida e passam a praticar novamente crimes, na maioria das vezes, para sustentar o vício.

Por meio da Delegacia de Repressão a Entorpecentes (DRE), a Polícia Civil realizou, nas primeiras horas da manhã do dia 30 de julho, uma megaoperação de combate ao tráfico e uso de drogas, no bairro Alvorada, na região do Terminal Rodoviário de Cuiabá.

Denominada "Rosas dos Ventos", operação teve a participação de 200 agentes - entre policiais civis e militares e bombeiros. Pelo menos 300 apartamentos de hotéis na regiao foram revistados, no cumprimento de 14 mandados de prisão e de busca e apreensão.

Hóspedes e proprietários de 14 hotéis de Cuiabá, localizados próximo a Rodoviária, foram surpreendidos com a realização da operação, que visa a coibir o consumo e tráfico de drogas na região.

A ação teve início por volta das 5 horas da manhã, com a chegada dos policiais na base da Polícia Civil, no centro da Capital. Às 5h30, os coordenadores e chefes de equipe se reuniram no auditório para receber as últimas instruções, antes de sair para o cumprimento dos mandados de busca e apreensão, no bairro Alvorada.

“Pretendemos, com esta operação, cumprir os três pilares da Lei Anti-Drogas. Começamos ontem com ação preventiva com a retirada das ruas de 40 dependentes químicos que ficavam na região.

Eles foram encaminhados para a Delegacia Especializada de Repressão a Entorpecentes e, depois, levados para comunidades terapêuticas. Hoje, vamos trabalhar a repressão com a retomada do território”, explicou a coordenadora da operação, delegada Cleibe Aparecida de Paulo, na ocasião.

O promotor de Justiça que coordenou os trabalhos no Gaeco, Marco Aurélio de Castro, alertou aos policiais para que ficassem atentos aos quartos que servem de apoio aos proprietários dos hotéis.

“Muitos desses estabelecimentos são utilizados apenas como fachada para o tráfico de drogas. Daí, a importância de vocês realizarem vistorias criteriosas nos locais que servem de apoio aos proprietários”, disse o promotor.