Na reta final, "Insensato" surpreende com desfechos inusitados
Insensato Coração se debruça em uma sucessão de desatinos. E na própria insensatez dos romances, como o nome da trama sugere. Na linha de chegada da novela, fica evidente que os desencontros amorosos se tornaram cada vez mais pungentes ao longo da história dirigida pela lente sofisticada de Dennis Carvalho.
Como o início do folhetim já foi prejudicado com a drástica mudança da protagonista Ana Paula Arósio por Paola Oliveira e do antagonista Fábio Assunção por Gabriel Braga Nunes, todo o eixo pensado pelo autor Gilberto Braga foi deslocado.
Com isso, talvez coincidentemente, a receita tenha desandado desde os romances principais, encabeçados por Marina e Pedro, vividos por Paola e Eriberto Leão, considerado um dos casais mais insossos da história da teledramaturgia. Mesmo com atuações corretas, a evidente falta de química entre os personagens desviou a atenção da história para outros núcleos, transformando o folhetim em uma enorme colcha de retalhos.
Nesta sucessão de falta de entrosamento e fracassos amorosos, a trama chega ao final com separações desastrosas. Carol e André, de Lázaro Ramos e Camila Pitanga, por exemplo, se separam após lutarem a trama inteira para ficar juntos. O mesmo ocorre com o casal de vilões Norma e Léo que, apesar de sobreviverem entre a vingança e o desejo, acabam separados na história com sentimentos muito indefinidos em ambas as vilanias.
A impressão passada à audiência é que a trama é a que menos tem a "pegada" autoral de Gilberto Braga, com seu glamour sedutor, personagens envolventes e histórias mais convincentes. A repetição de personagens já vistos exaustivamente, como a alpinista social Natalie Lamour, já vivida pela mesma Deborah Secco em Celebridade como Darlene, ou mesmo o "bon vivant" mulherengo - desta vez interpretado por Lázaro Ramos - ultimamente têm convencido pouco. Apesar de excelente ator, a pouca verossimilhança do universo de André e a forma superficial e pouco embasada do personagem designer não convenceu.
Em contrapartida, há tempos não se via Antônio Fagundes emocionar com um personagem. Bastava ele falar com propriedade o texto do simpático Raul e deixar aflorar alguns sentimentos paternos de seu personagem que ficava fácil esquecer o "ogro" Pedro de Carga Pesada. Finalmente ele livrou daqueles trejeitos e voltou a passar veracidade da forma mais genuína.
Isso ficou ainda mais evidente ao contracenar com a primorosa Natália do Vale, na pele de Wanda. Foram momentos como esse, em que Gilberto Braga e Ricardo Linhares se dedicaram aos conflitos mais humanos e mais pueris, que seguraram e seduziram a trama, cuja média de audiência na reta final foi de 42 pontos.
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