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Nacional
Sexta - 12 de Agosto de 2011 às 15:28

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Com a previsão de uma oferta de milho apertada no maior produtor mundial, os Estados Unidos, preços em elevados patamares e novas tecnologias à disposição, incluindo sementes transgênicas, o Brasil pode finalmente seguir um caminho mais sólido para elevar de forma significativa a produção do cereal, segundo especialistas presentes na Bienal de Negócios da Agricultura Brasil Central.

No curto prazo, uma safra menor que a esperada nos Estados Unidos, que colhe mais de 300 milhões de toneladas, ou seis vezes mais do que o Brasil, pode abrir maiores possibilidades de exportação para o país, já que outros produtores não têm tanto excedente para atender a uma crescente demanda global advinda do maior consumo de carnes.

Mas uma maior produção nacional, além de permitir que o país possa atender a crescente demanda global por milho —a começar pela China, que voltou a importar desde o ano passado- seria garantia de suprimento para a indústria de carnes brasileira, que já lidera as exportações em bovinos e frangos.

"O Brasil tem condições de crescer no milho na mesma proporção que cresceu na soja", disse o ex-ministro da Agricultura Alysson Paulinelli, ganhador do The World Food Prize, em 2006, pela sua participação no desenvolvimento da agricultura no Cerrado.

Segundo Paulinelli, atualmente presidente da Abramilho (associação dos produtores de milho), o Brasil que já é o terceiro exportador global do cereal teria a condição de produzir 200, 300 milhões de toneladas.

"O Brasil tem um potencial americano no milho", disse Paulinelli, acrescentando que para isso o milho precisaria de políticas públicas e mais investimentos do governo para que a Embrapa possa desenvolver mais pesquisas, o que ela deveria fazer em parceria com as multinacionais de biotecnologia, segundo o ex-ministro.

De acordo com ele, já há produtores brasileiros que colhem o mesmo volume por hectare dos produtores norte-americanos, entre 10 a 12 mil kg por hectare, mas muitos ainda então em um nível tecnológico inferior, o que termina por prejudicar a média nacional de produtividade, que está um pouco acima de 4 mil kg/ha.

"O Brasil ficou sem políticas públicas para o milho, não há nenhum plano para o Brasil aumentar a sua produção de milho," afirmou o ex-ministro, no intervalo de uma das palestras da bienal, realizada em Goiânia.

Ele acrescentou que os bilhões de reais gastos pelo governo nos últimos anos para apoiar o escoamento da produção excedente de milho para o exterior não integram uma política adequada, e poderiam ser mais bem gastos em logística.

"Até o ano passado, o governo não financiava o milho tecnificado em sua totalidade", exemplificou.

TECNOLOGIA

Atualmente, o milho em Goiás está remunerando 2,4 vezes mais do que a soja, rendendo a um grande e tecnificado produtor do Estado quase 2 mil reais por hectare, contra 800 reais para a soja, de acordo com o diretor da consultoria Céleres, Anderson Galvão.

Esse é um exemplo, segundo Galvão, de que o Brasil pode quebrar o estigma de que "não sabe produzir milho".

De acordo com Galvão, esse ganho no milho que pode incentivar mais produtores a plantar o cereal está ligado em parte à maior adoção da biotecnologia, com variedades resistentes a insetos e herbicidas —o Brasil está no quarto ano de plantio comercial do cereal geneticamente modificado, e a safra de verão 2011/12 terá área GM de 54 por cento do total.

Para ele, o momento atual de preços firmes e oferta apertada nos EUA —que recentemente reduziu a sua previsão de relação de uso/consumo do cereal para o menor patamar desde 1995— pode estimular a produção nacional, na medida que o país deverá exportar mais, ocupando parte do que os EUA deixarão de exportar.

"Quem tem milho para exportar? Europa? Não tem. China, não tem, está se tornando importadora. África do Sul, não tem. Argentina, não tem. Não tem outra alternativa a não ser que o Brasil ocupe, se não todo, pelo menos um pouco do espaço deixado pelos Estados Unidos," disse Galvão.

Ele acrescentou que as exportações de milho do país, que já estão ganhando força em agosto, deverão se intensificar no quarto trimestre de 2011 e no primeiro de 2012. "Trabalhávamos com uma previsão de exportação de 9 milhões de toneladas, mas tem chance de voltar para 10 e talvez beliscar as 11 do ano passado. Dez eu começo a falar que é provável," disse.

A Céleres já trabalha com um plantio no Brasil na safra verão em 11/12 de 8,4 milhões de hectares, contra 7,6 milhões de hectares da temporada passada, quando o país perdeu bastante área para a soja.

Mas ele já crê em um crescimento na primeira safra de pouco mais de 1 milhão de hectares ante 10/11.

"Não vai muito mais do que isso porque o produtor já está com os insumos comprados, a margem de manobra agora é pequena. Mas vai ser uma safra com tecnologia, não tem saída," disse ele, acrescentando que o produtor vai tentar otimizar a sua produção e deverá elevar o plantio na segunda safra também.

O presidente da Federação da Agricultura de Mato Grosso do Sul, Eduardo Corrêa Riedel, concorda com o consultor. Embora o Estado plante praticamente apenas soja no verão, na segunda safra os sul-mato-grossenses deverão caprichar no milho.

"Cada vez mais a tendência é usar uma média para alta tecnologia", disse Riedel, acrescentando que o cenário positivo permite cada vez mais investimentos na lavoura.





Fonte: Reuters

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