País se tornou referência no desenvolvimento desta cadeia, após descoberta de petróleo no Mar do Norte, há 40 anos
Missão brasileira visita setor de óleo e gás da Noruega
Intensa cooperação entre pesquisa, indústria e governo, desenvolvimento de uma forte cadeia de fornecedores, internacionalização crescente das empresas e altos investimentos em inovação tecnológica e em bem-estar social. Essas são as principais lições da Noruega no que se refere ao desenvolvimento da cadeia produtiva de petróleo e gás (P&G), observadas por uma missão brasileira que foi ao país nórdico para conhecer o seu modelo de governança, modelos de negócios e a gestão do fundo com base nesse setor.
Em plena fase de debates sobre a exploração do pré-sal brasileiro e o desenvolvimento da cadeia nacional de fornecedores, a experiência norueguesa chamou a atenção de representantes da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), dos ministérios do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC) e de Minas e Energia (MME), do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e da Petrobras que visitaram o país. Em Oslo e Stavanger, o grupo visitou órgãos de governo, associações da indústria e empresas que compõem os clusters industriais ligados ao setor de P&G no país.
“Entre os principais destaques do modelo norueguês de exploração de petróleo estão o envolvimento do Parlamento na discussão sobre o desenvolvimento da indústria, a apropriação da renda do petróleo para a sociedade, a interação entre atores privados e públicos, o apoio estatal à pesquisa e desenvolvimento (por meio de financiamentos e incentivos fiscais) e a criação de um fundo soberano que hoje já registra mais de US$ 600 bilhões”, elenca o coordenador da área de Energia da ABDI e também coordenador executivo da missão, Jorge Boeira.
Com estratégias agressivas de capitalização, fusões, aquisições e identificação de nichos de mercado, várias empresas norueguesas se tornaram players globais no setor de P&G – pelo menos 14 delas já atuam no Brasil. Por sua vez, o Estado norueguês apoia a formação e a consolidação de clusters industriais especializados, como os dos setores naval, subsea, tecnológico, de serviços de apoio e de engenharia. “Essa cadeia já emprega 250 mil pessoas (cerca de 5% da população do país), sendo 100 mil empregados diretos. E novos clusters estão em desenvolvimento”, diz Boeira.
Cenários diferentes
Apesar do sucesso verificado, o modelo norueguês para desenvolver fornecedores do setor de P&G é de difícil reprodução integral no Brasil. “Na Noruega, essa cadeia produtiva reponde por 21% do PIB, 25% das receitas estatais, 26% dos investimentos e 47% das exportações. No Brasil, o cenário é outro. Possuímos um parque industrial mais complexo e diversificado, o que implica uma maior necessidade de coordenação de ações”, explica Clayton Campanhola, diretor da ABDI.
De acordo com Campanhola, os investimentos em pesquisa e inovação são cruciais para o desenvolvimento desta indústria no Brasil. “Devemos também dar suporte à formação de clusters e arranjos produtivos e criar mecanismos financeiros e modelos de negócios inovadores. Além disso, as operadoras devem investir significativamente no consolidação da cadeia nacional de fornecedores”, diz.
O diretor do Departamento de Política de Exploração e Produção de Petróleo e Gás Natural do MME, José Botelho Neto, aponta a forte interatividade entre as instituições de P&G como um aspecto fundamental. “Fiquei impressionado com a união do setor na Noruega. Os números são os mesmos para todos, as instituições conversam entre si, os centros de pesquisas são integrados ao complexo produtivo e tudo funciona perfeitamente bem entre o governo e a indústria. Temos que iniciar essa mesma prática aqui no Brasil”, afirma.
Para o coordenador-geral do MDIC e também coordenador institucional da missão, Carlos Eduardo Macedo, a visita brasileira à Noruega abriu portas para o diálogo entre os dois países neste setor. “Uma das nossas principais metas era estabelecer contatos com áreas de governo, o que foi um grande sucesso. Coletamos dados para a nossa política industrial e avaliamos estar no caminho certo. A partir de agora, cabe a nós colocar em prática o que foi observado, aprendido e que é válido para o Brasil”, conta.
A missão brasileira foi realizada pela ABDI entre os dias 20 e 24 de junho, por meio do Projeto de Apoio à Inserção Internacional de Pequenas e Médias Empresas (PAIIPME), iniciativa que é fruto de um acordo de cooperação entre Brasil e União Europeia para a inserção competitiva das pequenas e médias empresas (PME) brasileiras no mercado europeu.
O PAIIPME contou com um orçamento de 44 milhões de euros (metade proveniente de fundos não-reembolsáveis da União Europeia e metade proveniente de entidades brasileiras públicas e privadas). O MDIC, órgão brasileiro beneficiário dos recursos europeus destinados ao PAIIPME, delegou à ABDI a responsabilidade de executar as atividades de implementação e gestão do Projeto, que já beneficiou mais de 2,5 mil PME.
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