ANÁLISE-Nova crise econômica pegaria mundo em pior situação
Com o mercado financeiro tomado por volatilidade e o crescimento econômico minguando, autoridades em todo o mundo podem ser forçadas mais uma vez a trabalhar contra uma crise, como fizeram em 2008 e 2009. Mas, dessa vez, as opções são menores.
Os bancos centrais têm menos espaço para afrouxar a política monetária do que há três anos. Os governos, com menos recursos, não podem mais bancar gastos como antes e o desarranjo político em alguns países pode tornar mais complicada a cooperação internacional.
"O que dá para fazer? Em política monetária, claramente ninguém concorda com ninguém. Em política fiscal, estão todos bloqueados", disse o economista do Deutsche Bank Gilles Moec.
Em alguns pontos, a situação global não está nem perto da gravidade de 2008. Os bancos se fortaleceram desde o colapso do Lehman Brothers e o mundo ainda está longe de uma recessão. O JPMorgan pode ter cortado nesta semana a previsão de crescimento dos Estados Unidos em 2012, mas ainda trabalha com estimativa de expansão de 1 por cento do país.
As ações globais despencaram quase 10 por cento no mês passado, mas o índice MSCI das bolsas mundiais ainda está 90 por cento acima da mínima de 2009.
"Conheço pessoas que dizem que isso se parece muito com 2008, mas eu não acho que seja o caso. Em 2008 havia bancos falidos", disse o economista do Nomura Jens Sondegaard.
Ainda assim, a tendência mudou claramente para pior. Os índices de atividade em todo o mundo caíram para perto ou abaixo da linha de equilíbrio que separa a expansão da contração. Nesta semana, o juro dos bônus britânicos atingiu o menor nível já registrado, salientando o nervosismo dos investidores e o cenário ruim de crescimento.
Em alguns pontos, a situação é mais preocupante do que em 2008: há o risco de um rebaixamento da nota de crédito dos Estados Unidos, além de um ataque do mercado de bônus à Itália, terceira maior economia da zona do euro, que colocou em questão a viabilidade da zona do euro no longo prazo. O preço das ações de bancos nos Estados Unidos e na Europa estão de volta aos mesmos níveis da época do colapso do Lehman.
"A diferença (entre 2008 e agora) é que essa não é apenas uma crise monetária e bancária, agora você tem uma crise monetária, bancária e soberana", disse a analista da Natixis Sylvain Broyer.
A surpreendente decisão do banco central suíço de reduzir os juros nesta quarta-feira para combater a rápida apreciação do franco foi vista por alguns analistas como um possível precursor de esforços combinados no Grupo dos 20 --maiores economias do mundo-- para estabilizar os mercados.
Uma cúpula do G20 em Londres em abril de 2009 conseguiu restaurar a confiança dos mercados após demonstrar a cooperação entre os líderes mundiais e prometer 1,1 trilhão de dólares para instituições financeiras em todo o mundo.
Agora, no entanto, pode ser mais difícil para os governos mostrar a mesma solidariedade.
O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, perdeu força política e viu suas opções em economia diminuírem após a batalha para elevar o teto da dívida do país.
Alguns grandes países estão ainda mais adiante no ciclo eleitoral, complicando as decisões. Importantes eleições estão para ocorrer nos Estados Unidos, na Alemanha e na França nos próximos dois anos, além de uma troca de comando na China.
"A margem de manobra dos governos é muito menor agora do que na última crise", disse o economista-chefe do banco de investimentos Saxo Bank, Steen Jakobsen.
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