Esportivo une desempenho estonteante, beleza, conforto e ainda traz porta-malas de 455 litros
Audi RS 5: o capeta azul voador
A gama RS – do alemão RennSport, ou Racing Sport, em inglês – surgiu em 1994 na perua RS 2, considerada por muito tempo a mais veloz do planeta. O lendário esportivo, que teve pouquíssimas unidades comercializadas no Brasil, era fruto de uma parceria entre Audi e Porsche. De lá pra cá a linha RS cresceu, dando origem a carros tão dignos de sonhos quanto o RS 2, que ainda faz muito marmanjo babar. E depois de tantos modelos, com características bem distintas e sempre raros por aqui, eis a obra prima: RS 5.
E quem é o RS 5? Não se trata da versão esportiva do cupê A5. Esse é o papel do S5. O RS 5 é a configuração AINDA MAIS esportiva do A5; a versão possuída por forças ocultas; o A5 se comportando da maneira mais insana e mal educada possível.
É inevitável para nós, reles mortais, pensar que os R$ 435.000 pedidos pelo RS 5 (sem opcionais) comprariam um bom apartamento. Se você abrir mão de sala, quarto, cozinha e banheiro e decidir morar no cupê, terá alguns confortos. Os principais equipamentos de série são: apoio lombar com ajuste elétrico para bancos dianteiros, ar-condicionado digital trizona, bancos dianteiros com aquecimento e do tipo concha, revestimento interno em couro, computador de bordo com display colorido, piloto automático, suporte ISOFIX para banco dianteiro, teto solar, compartimento do motor em fibra de carbono, rodas aro 20, faróis bi-xênon e lanternas de LEDs, airbags frontais e de cortina, e freio de estacionamento eletromecânico, entre outros. Mas, sinceramente, senti falta de ajuste elétrico de altura e profundidade do volante por esse preço.
Além dos equipamentos, sua futura casa terá alguns toques de decoração interessantes, como detalhes internos em fibra de carbono, pacote de luzes e soleiras das portas em alumínio com o logo RS 5. Tapetes com a logomarca RS 5 são opcionais. Há também o sistema de áudio Bang & Olufsen, de altíssima qualidade. Mas não se culpe por quase nunca usá-lo como deveria: há sons muito melhores para serem ouvidos.
Entre roncos e bufadas
Você não simplesmente entra no RS 5 e segue pro trabalho. A coisa não é tão simples assim. Guiá-lo é praticamente um evento, que começa quando apertamos o botão de partida. O monstruoso 4.2 V8 de 450 cv já acorda resmungando, bravo, desafiando você. E até tentando te pôr medo, arrisco dizer, porque não é na primeira acelerada que você se dá conta do poder do RS 5. Você crava o pé no acelerador e logo já recua, assustado com sua reação.
Só depois de alguns minutos de conversa e apresentações, como alguém que inicia uma nova amizade, chega a hora de encarar o demônio azul e pisar fundo. Com 43,8 kgfm de torque, é natural que todos a bordo sejam arremessados para trás com uma força que não sentimos todos os dias. A velocidade vai aumentando vertiginosamente graças ao estupendo trabalho da transmissão S-Tronic de sete marchas, sempre primorosa. Como já dissemos anteriormente, é difícil imaginar algo mais rápido. Não, os elogios não são exagerados – você dirá o mesmo quando experimentar um câmbio desses, num carro desse.
Ainda extasiado com o comportamento do cupê, o motorista se dá conta de que guiava apenas no modo Normal – ou seja, o que já estava excelente, ficaria fascinante. O Audi Drive Assist permite a escolha de mais dois estilos: Comfort ou Dynamic – esse último poderia ser rebatizado de Demoniac. Nele, as reações do carro ficam ainda mais esportivas. O volante fica mais duro, suspensão idem, e o câmbio eleva o giro do motor entre uma reduzida e outra. A “bufada” que o motor dá, sem exageros, talvez assuste quem está na calçada.
Como em todo RS, este carro vem com tração integral. Calçado em rodas de aro 20 e dotado de um recurso na tração Quattro que joga até 85% da força nas rodas traseira (normalmente vão 60% para as de trás e 40% para as da frente), o RS 5 faz qualquer curva virar reta. Chega a ser um movimento mecânico, que não requer a menor habilidade do condutor: basta acelerar e virar; ele faz o resto. Num travado mas instigante circuito, a cada curva forçava o cupê a sair de sua trajetória, mas ele insistia em continuar nos trilhos. E quando, finalmente, ele não resistiu a tantos golpes violentos para esquerda e direita e escapou, foi fácil e simples colocá-lo de volta no rumo certo. Venha babando e ele entra equilibrado na curva, e sai dela com uma sede tremenda, ignorando seus 1.725 quilos.
A contrapartida, claro, vem na bomba de gasolina (premium, por questão de bm senso). Apenas “assoprando” o acelerador, conseguimos a marca de 8,3 km/l na estrada e 4 km/l na cidade. Bom, mas alguém esperava algo diferente?
Ao final de um duelo entre homem e máquina, seu nível de adrenalina está bem alto, mas suas mãos não estão suadas, graças ao volante propositalmente forrado em camurça. Basta aliviar a pressão das abas do banco concha, botar o Audi Drive Assist no modo Comfort e curtir o acabamento impecável e o som de alta qualidade.
O RS 5 não é o melhor nem mais divertido esportivo do mundo. Ferraris e Lamborghinis são mais divertidos, mas também muito mais indóceis, caros e nada práticos. O RS 5, embora custe muito dinheiro para os padrões brasileiros, permite altas doses de diversão, semelhantes à dos esportivos mais radicais, sem custar tanto quanto eles. É um dos últimos degraus entre bom senso e insanidade. Ou melhor, o último degrau onde a insanidade é opcional.
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