Com fraco crescimento do consumo de eletricidade e chuvas acima da média, os lagos das hidrelétricas encheram. E o país não aciona termelétricas auxiliares desde janeiro
Reservatórios estão no maior nível em 9 anos
Chuvas acima da média e uma expansão mais fraca do consumo de energia ajudaram a encher os reservatórios das usinas hidrelétricas do país, garantindo o abastecimento e eliminando a necessidade de colocar mais termelétricas em operação. De acordo com os boletins do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), os lagos dos subsistemas Sudeste/Centro-Oeste e Sul estão em seus maiores níveis para esta época em pelo menos nove anos. A última vez que o ONS teve de acionar usinas térmicas auxiliares para garantir a segurança do abastecimento de eletricidade foi em janeiro, e a tendência é de que essa situação persista até o fim de agosto, no mínimo.
Na quinta-feira passada, os reservatórios do Sul do país ocupavam em média 94% de sua capacidade máxima, patamar idêntico ao registrado nas hidrelétricas do Rio Iguaçu. Um ano atrás, os níveis de armazenamento eram de 89% na média da Região Sul e 86% no Iguaçu. Os lagos do subsistema Sudeste/Centro-Oeste – que inclui a hidrelétrica de Itaipu e é o mais importante do país – tiveram melhora ainda mais significativa, avançando de 68% para 81% da capacidade desde julho de 2010. No Nordeste e no Norte, os níveis apurados no fim da semana passada eram de 80% e 90%, respectivamente.
Desembolso menor
Confortável, o cenário atual é oposto ao observado no segundo semestre de 2010, quando a estiagem provocada pelo fenômeno climático La Niña forçou o ONS a manter térmicas extras ligadas por vários meses. Na ocasião, essas usinas – que consomem combustíveis fósseis e têm alto custo de operação – chegaram a responder por até 14% de toda a eletricidade gerada no país, algo raro. Como resultado, o país precisou gastar R$ 666 milhões em 2010 para bancar o funcionamento das térmicas por motivo de “segurança energética”, segundo informações da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE) e da Associação Brasileira de Grandes Consumidores Industriais de Energia (Abrace).
Com a normalização das condições, a fatia das termelétricas na geração de energia agora oscila entre 5% e 6% do total. Em todo o primeiro semestre, foram gastos apenas R$ 6 milhões – tudo em janeiro – para acionar usinas extras, contra R$ 118 milhões em igual período do ano passado. Sintoma da tranquilidade do abastecimento é a situação da UEG Araucária, termelétrica a gás natural instalada na região metropolitana de Curitiba. A usina, que é acionada apenas quando a situação dos reservatórios começa a preocupar, está parada desde meados de dezembro.
“Neste ano tivemos uma estação úmida bastante razoável. As precipitações geraram vazões acima da média, principalmente no sistema do Sudeste, o grande reservatório do país. Por isso, até este momento não se verificou necessidade de despachar térmicas a fim de assegurar segurança energética”, explica Fernando Umbria, assessor de diretoria da Abrace.
Consumo
Um dos fatores que contribuem para a boa situação dos reservatórios é a expansão moderada do consumo de energia. No acumulado do primeiro semestre, o uso de eletricidade cresceu apenas 3,6% em relação a igual período do ano passado; no mês de junho, a alta limitou-se a 2,2%. De acordo com a Empresa de Pesquisa Energética (EPE), do governo federal, a principal razão para o leve crescimento é a demanda da indústria, que está avançando abaixo das expectativas iniciais – e fez a EPE reduzir, na semana passada, sua estimativa para a expansão do consumo nacional neste ano, de 5,4% para 3,6%. Na justificativa para essa revisão, a estatal mencionou o crescimento mais moderado da economia, provocado pelas medidas “macroprudenciais” do governo, pela taxa de juros elevada e pelo “programa de consolidação fiscal” do Executivo federal
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