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Saúde
Segunda - 01 de Agosto de 2011 às 09:05

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O consumo de leite vem aumentando nas últimas décadas no Brasil. De 1981 até hoje, a ingestão per capita cresceu 75%, chegando a 165 litros anuais, em torno de 450 ml diários, segundo dados recentes divulgados pela Associa­ção Brasileira de Produtores de Leite. Apesar dos benefícios da inclusão de produtos lácteos na dieta, o maior consumo de leite trouxe um efeito colateral inesperado: a intolerância à lactose. O problema atinge 50% das pessoas, segundo estimativas de uma pesquisa norteamericana citada pela alergologista Loraine Landgraf, diretora regional da Sociedade Brasileira de Alergia e Imunopato­logia.

É cada vez mais comum encontrar pessoas que, com o passar do tempo, desenvolvem uma sensibilidade ao leite que rende cólicas, gases e diarreias. A explicação, segundo a médica pediatra e professora da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Sheila Nogueira, é que a diminuição da tolerância à lactose – que é o açúcar do leite – aparece quando a produção da enzima lactase, responsável por sua digestão, começa a cair. “Para poder ser absorvida pelo organismo como glicose, a lactose precisa ser quebrada por essa enzima, produzida em quantidade suficiente apenas até os 3 anos de idade”, diz ela. O problema surge, segundo a pediatra, no ser humano por ser o único mamífero que continua tomando leite mesmo após tornar-se adulto.

 

 
Com o tempo, alergia pode desaparecer

A alergia à lactose, que é a dificuldade em processar a proteína do leite, é muito mais rara do que a intolerância. Ela afeta apenas 2% dos adultos, segundo a alergologista Loraine Landgraf.

“Entre crianças até os 3 anos de idade, a alergia pode atingir de 6% a 8% delas, mas o quadro pode ser revertido pelo organismo com o passar do tempo”, explica Loraine. Por este motivo, é importante acompanhar o desenvolvimento da criança e fazer exames de sangue para verificar a presença de anticorpos que agem contra a proteína do leite. “Se houver uma queda no número desses anticorpos, o médico pode liberar o consumo de leite em pequenas quantidades. Em alguns casos, a pessoa pode voltar a ingerir leite e derivados normalmente”, afirma. (AJ e DT)

Substituição

Conheça os alimentos que podem suprir os valores nutricionais do cálcio do leite:

• Brócolis

• Couve

• Couve-flor

• Repolho

• Verduras verdes escuras (menos espinafre)

• Algas marinhas

• Gergelim integral

• Amêndoas

• Feijão

Fonte: Renato Raad, ortopedista do Hospital Nossa Senhora das Graças

Diferenças

Alergia e intolerância são reações do organismo ao leite, mas elas não são iguais. Confira:

Alergia

Reação imunológica do organismo, que gera anticorpos contra a proteína do leite. A bebida de soja também pode causar reações em pessoas alérgicas. Os sintomas são: pele pipocada, nariz trancado, urticária, manchas vermelhas, olhos e lábios inchados e choque anafilático, além de desconforto gastrointestinal (vômito, diarreia e gases). O tratamento consiste na exclusão total da proteína do leite, pois a alergia é desencadeada após o consumo de qualquer alimento que leve leite em sua composição, mesmo que em baixa quantidade.

Intolerância

Reação orgânica devido ao não processamento do açúcar do leite, a lactose, pelo organismo. Quem é intolerante pode consumir alguns derivados. Caso a pessoa tenha predisposição genética, a intolerância pode se manifestar em qualquer época da vida ou então não aparecer.

Os sintomas dependem da quantidade ingerida, mas principalmente caracteriza-se pelo mal-estar gastrointestinal como vômitos, ânsia, diarreia, gases, fezes ácidas ou explosivas. Para tratar, basta eliminar ou reduzir a ingestão de lactose.

Comprimido

Mas como conciliar a recomendação de consumir leite – fonte de proteínas, vitaminas e cálcio – à intolerância natural progressiva ao produto? Scheila afirma que há duas formas de combater o problema. Uma, reduzindo a ingestão de leite e fazendo as devidas substituições nutricionais. Outra, lançando mão de medicamentos que atuam como a enzima lactase no organismo.

Esta foi a medida a qual a advogada Mariliz Müller teve de recorrer para poder comer queijo, uma de suas paixões, depois de diagnosticada a intolerância à lactose, há sete anos. Requeijão, ricota e outros tipos de queijo sempre estiveram no cardápio dela.

Segundo a alergologista Loraine Landgraf, quem é intolerante e não quer nem abandonar os produtos lácteos nem passar pelo mal-estar dos seus sintomas, deve ingerir a lactase sempre, pelo menos meia hora antes de consumir leite ou seus derivados. “A dose varia em relação ao grau de intolerância que a pessoa apresenta e a quantidade de lactose que ela vai ingerir”, diz.

Mariliz não teve problemas em adaptar sua dieta, contudo as restrições – provenientes também de ser vegetariana – causam algumas saias-justas. “Quando me convidam para jantar, digo que sou vegetariana, então a carne costuma ser substituída por uma massa com queijo. Explicar que, além disso, tenho intolerância à lactose é complicado. Por isso tomo a lactase, que facilita minha vida”, diz ela. Por mês, Mariliz gasta cerca de R$ 120 com o suplemento, mas ela vê o lado positivo da restrição: a adesão a hábitos alimentares mais saudáveis. “Todas as noites eu costumava comer sanduíche com queijo. Depois do diagnóstico me obriguei a ter uma variedade maior de alimentos como substitutos, como patê de tofu e salsicha de soja. Foi uma mudança positiva, senão eu passaria a vida toda comendo queijo quente”, brinca.

Importância

Ainda que a função do leite como fonte de cálcio para o organismo seja importante, a máxima de não exagerar também vale para esse produto. “Ele é um complemento na alimentação, mas não nos dá todos os nutrientes de que precisamos”, diz a professora de Nutrição Gisele Pontaroli Raymundo, da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR). Segundo ela, o consumo deve obedecer ao período de digestão de no mínimo duas horas após uma refeição. Se consumido logo após o almoço, o leite impede a absorção adequada de ferro presente em vegetais como o feijão. Entre desnatados ou integrais não há vilões, pois até mesmo a gordura – presente em maior quantidade no integral – tem um papel a cumprir, principalmente na dieta infantil. “A criança não deve tomar o desnatado, pois ela precisa da gordura como fonte calórica e de ácidos graxos. Entretanto, quem tem colesterol alto deve escolher essa opção.”

Não importa se o leite é integral ou desnatado quando o assunto é a intolerância. Isso porque a presença ou a ausência de gordura não interfere no aparecimento dos seus sintomas, pois a lactose está presente em ambos os produtos. “Quem é intolerante tem de tomar leite com baixa lactose ou sem este açúcar”, reforça Loraine.

Acima de um ano

Mesmo com tantos benefícios, o consumo do produto deve ser restrito a crianças acima de 1 ano, por ter mais proteína e sal e menos vitaminas e outros nutrientes que o leite materno.






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