Exportação industrial perde rentabilidade
O enfraquecimento do dólar e o aumento dos custos de produção provocaram a queda da rentabilidade da maioria dos setores exportadores brasileiros no primeiro semestre deste ano, afetando principalmente a indústria.
O cenário preocupa o governo, que na última quarta-feira anunciou novas intervenções no mercado de câmbio para tentar conter o derretimento da moeda americana. Para esta semana, é esperado o anúncio de um pacote de incentivos para exportadores de manufaturas.
Dos 24 setores monitorados pela Funcex (Fundação Centro de Estudos de Comércio Exterior), 19 amargaram perdas de rentabilidade na primeira metade de 2011 ante o mesmo período de 2010 (ou 79%). A queda da rentabilidade significa que os produtores têm registrado retorno menor sobre investimentos.
Na média, a rentabilidade das exportações brasileiras subiu 5,4% no primeiro semestre, mas puxada principalmente pelos ganhos maiores dos setores de petróleo, minério e agropecuária.
Segundo o economista-chefe da Funcex, Fernando Ribeiro, a valorização do real afeta todos os exportadores igualmente. Já o aumento dos salários, explica, prejudica principalmente a indústria, setor mais intensivo em mão de obra. Além disso, os produtores de manufaturas também vêm sofrendo com o encarecimento dos insumos.
Como a demanda global por produtos industrializados está fraca (devido à vacilante recuperação econômica dos países desenvolvidos), as empresas não estão conseguindo repassar boa parte do aumento de custos para os preços finais.
O setor de vestuário, por exemplo, viu sua rentabilidade em real encolher 8,8%, enquanto os exportadores de veículos perderam 7,8%.
"O resultado é que os produtores de manufaturados vão deixar de exportar. A quantidade de exportadores já vem caindo", diz José Augusto de Castro, vice-presidente da AEB (Associação de Comércio Exterior do Brasil).
Segundo o Ministério do Comércio Exterior, a fatia dos manufaturados na pauta de exportações recuou de 61% em 2002 para 38% hoje.
Castro afirma que o problema da indústria vai além do câmbio. Segundo ele, o setor tem dificuldade em competir no exterior devido ao crédito caro, à alta carga tributária e à baixa eficiência da infraestrutura do país.
NA MESMA
Os dados da Funcex revelam que o Brasil vende para fora hoje a mesma quantidade de manufaturados que exportava em 2004. Ribeiro observa que mesmo quando o dólar estava acima de R$ 2, até meados de 2007, a exportação cresceu pouco.
"E nossas exportações vêm se recuperando lentamente após as quedas de 2008 e 2009. Hoje, apesar da quantidade de exportações mundiais já ter voltado ao nível de antes da crise, exportamos 15% menos manufaturados do que em 2007", disse.
O diretor de comércio exterior da Fiesp, Roberto Giannetti, diz que a entidade está ansiosa com relação às medidas que o governo pretende anunciar nesta semana: "O governo Dilma já tem sete meses e muito pouco foi feito", disse. "Tínhamos uma expectativa muito melhor."
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