Demora na liberação de importações obriga porto a buscar espaços alternativos, já que o pátio só tem capacidade para 6,5 mil veículos
Crise com a Argentina “prende” 13 mil carros em Paranaguá
Em Paranaguá há 13 mil veículos parados, o dobro da capacidade do porto – os dois pátios destinados para automóveis têm capacidade para 6,5 mil unidades. Segundo a superintendência da Administração dos Portos de Paranaguá e Antonina (Appa), os veículos estão sendo acomodados em outros locais improvisados ao longo do cais, mas a situação é crítica. “Não há espaço para tantos veículos. Os carros estão aguardando em áreas que não são próprias para eles. A demora na solução do problema é preocupante”, diz Aírton Vidal Maron, superintendente da Appa.
Arrecadação
Restrição afeta caixa dos estados
Os estados que sediam portos usados para exportar e importar veículos da Argentina começam a pressionar o governo federal para agilizar a liberação das cargas. Além do transtorno provocado nos terminais, a medida causa estragos no caixa dos estados, que têm adiada a arrecadação do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS). Segundo uma fonte do governo do Paraná, o estado vem tentando pressionar o Ministério da Indústria, Comércio e Desenvolvimento (MDIC) sobre o assunto. A Associação Nacional dos Fabricantes de
Veículos Automotores (Anfavea), que representa as montadoras, também tem cobrado uma solução para a liberação das cargas.
A entidade, contudo, não se pronunciou sobre o assunto. (CR)
Concessionárias ficarão sem alguns modelos
Segundo as montadoras, há possibilidade de que alguns veículos estejam em falta nas revendedoras a partir de agosto. Segundo Alain Tissier, vice-presidente da Renault do Brasil, já começa a faltar Clio, o carro mais barato da montadora. “Também é preciso lembrar que o motor que abastece a fábrica no país vizinho sai do Brasil. Se formos obrigados a diminuir a produção lá, também vamos reduzir aqui”, afirma.
Presidentes deixam solução para os técnicos
As presidentes do Brasil, Dilma Rousseff, e da Argentina, Cristina Kirchner, criaram, ontem, o Conselho Empresarial Brasil-Argentina, fórum que terá, entre os seus objetivos, resolver a questão das barreiras comerciais impostas pelos dois países desde o inicio do ano sem a interferência dos governos centrais. Os setores mais prejudicados foram o têxtil e de baterias, no caso do Brasil. Na Argentina, a maior prejudicada foi a indústria automobilística.
Protecionismo custa US$ 1 bi a empresas
O protecionismo argentino já custou pelo menos US$ 1 bilhão às empresas prejudicadas pelas licenças não automáticas, segundo reportagem publicada pelo jornal O Estado de S.Paulo. As vendas dos setores afetados caíram 45% depois da adoção das licenças, de US$ 2,15 bilhão para US$ 1,18 bilhão, de acordo com a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).
De acordo com Maron, a direção do porto terá de improvisar mais uma área para receber mais 2,5 mil veículos. “Somente um navio da Fiat, com 2 mil carros, deve chegar no próximo dia 8 a Paranaguá”, afirma. Maron diz que a Fiat não costuma usar Paranaguá, mas a montadora está com problemas para achar espaço em outros terminais. A Fiat chegou a dar férias coletivas na Argentina por conta do elevado estoque de carros no país vizinho.
A Renault tem cerca de 5 mil veículos presos em Paranaguá e outros 1,5 mil a 2 mil veículos no porto de Vitória (ES), segundo Alain Tissier, vice-presidente da Renault do Brasil. “Paranaguá está lotado e Buenos Aires também. Chegamos a ter 8 mil carros bloqueados. Conseguimos liberar um pouco, mas a situação continua crítica”, afirma. A medida afeta, por exemplo, as importações do Clio, carro de entrada da marca, e do sedã Fluence, ambos produzidos em Córdoba. “Regredimos 15 anos no comércio entre os dois países”, critica.
As restrições, embora prejudiquem principalmente os carros da Argentina, também atingem as importações do México. Estima-se que a Nissan tenha entre 2 mil e 3 mil carros presos nos portos para liberação. No porto de Santos, a Santos Brasil, que opera com um terminal privado de carros, está com o pátio com capacidade para 7,5 mil veículos cheio. A Deicmar, que também atua em Santos, tinha 1,8 mil veículos da Fiat no mês passado aguardando liberação. O porto de Vitória chegou a ter 8,5 mil veículos no seu pátio no mês passado.
Histórico
As restrições começaram em maio, quando o Brasil deixou de conceder licenças automáticas para a importação de automóveis, autopeças, pneus, produtos têxteis e de linha branca. A mudança foi uma resposta ao país vizinho, que em fevereiro passou a impor barreiras aos produtos brasileiros.
Na prática, a medida aumentou a burocracia para a importação desses produtos. Ao não conceder licença automática às mercadorias da Argentina, o governo brasileiro tornou mais lento o processo de importação. Em condições normais, o processo de nacionalização de carros e peças em solo brasileiro demora cerca de dez dias. Mas, com as licenças não automáticas, esse período pode chegar a 90 dias.
O comércio de veículos e autopeças é responsável por 50% das trocas entre os dois países, que no ano passado somaram US$ 33 bilhões.
Aumento
As restrições ocorrem em meio ao crescimento do comércio de automóveis entre os dois países. A Argentina representa 90% da movimentação de veículos no Porto de Paranaguá. De janeiro a junho desse ano, o fluxo de automóveis aumentou 38%, para 95.203 mil carros. Em 2010 foram 190.040 mil veículos, 39% mais do que no ano anterior. Do total, 91.164 foram importados e 98.876, exportados.
O governos do Brasil e da Argentina chegaram a firmar um acordo de paz em junho, com a promessa de liberar gradualmente as licenças, mas até agora o fluxo normal não foi retomado. Procurado, o Terminal de Contêiner de Paranaguá (TCP) não retornou o pedido de entrevista até o fechamento desta edição.
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