Um levantamento feito pelo Grupo Gay da Bahia (GGB) posicionou o Estado como líder do ranking da violência contra homossexuais no Brasil. Com 29 assassinatos de gays, lésbicas e travestis em 2010, a Bahia se mantém no topo da lista pelo segundo ano consecutivo, seguido por Alagoas, com 24 mortes, e São Paulo, com 23. Em 2009, o Estado liderou o ranking ao lado do Paraná, ambos com 25 casos registrados.
A pesquisa do GGB também mostrou que o número de casos de agressão seguida de morte de homossexuais também aumentou no Brasil nos últimos dois anos. Foram registrados 260 casos em 2010, contra 198 contabilizados pela ONG em 2009. Nos últimos cinco anos, o aumento chega a 113%, "o que é um genocídio", afirma o antropólogo e fundador do GGB, Luiz Mott.
Para Mott, não há uma explicação sociológica para o fato de a Bahia liderar o ranking. No entanto, o pesquisador observa que o alto índice de assassinatos de homossexuais no Brasil, considerado o maior do mundo, pode estar ligado, historicamente, à escravidão. "A homofobia no Brasil tem muito a ver com a violência que herdamos da escravidão, quando tínhamos "machos" muito violentos para manter a população dominada", disse o pesquisador.
Último caso registrado na Bahia, o assassinato do estudante de psicologia Isaac Matos, 24 anos, encontrado sem vida no apartamento que dividia com o companheiro em Salvador, ainda não foi solucionado pela polícia. No entanto, o pesquisador sugere que o estudante pode ter sido vítima da chamada homofobia cultural, "aquela que transmite o estereótipo de que todo gay é frágil, vulnerável; de que os vizinhos e policiais não vão se importar com a vítima e os juízes vão absolver os criminosos". Motti diz que esse tipo de pensamento torna os homossexuais "vítimas preferenciais".
Só neste ano, segundo dados parciais do GGB, a Bahia já contabiliza 11 assassinatos de homossexuais. Com 15 casos já registrados, Pernambuco ultrapassou os demais Estados neste ano e lidera, por enquanto, o ranking, como em 2008, seguido por São Paulo, com 14 casos.
Números não significam maior homofobia
O antropólogo e pesquisador Osvaldo Fernandez adianta que os dados são absolutos e revelam o número de casos, mas não confere a esse ou aquele Estado o status de mais homofóbico. Segundo ele, para se afirmar isso, seria preciso relacionar esses números com o total da população sexual ativa de cada região e, a partir desse coeficiente, tirar alguma conclusão.
No entanto, para Fernandez, os números confirmam a premissa de que pelo menos um quarto da população do Brasil é antidemocrática e autoritária e a violência contra homossexuais no País, fruto da discriminação e do preconceito, é estrutural. Isso quer dizer que os LGBTs (Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transgêneros) são colocados em uma posição subordinada e não têm, ainda, seus direitos como cidadãos respeitados.
Estudioso do assunto, Fernandez sugere ainda algumas medidas que devem ser adotadas com vistas a inibir a discriminação de homossexuais. "É preciso que haja o acréscimo de componentes disciplinares sobre orientação sexual e sexualidade no currículo dos professores e o projeto político pedagógico das escolas devem incorporar uma preocupação com o desenvolvimento psico-sexual dos estudantes, por exemplo, entre outras", afirmou.
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