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Sexta - 29 de Julho de 2011 às 08:43

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O brasileiro tem exagerado em refeições calóricas com poucos nutrientes e deixado a desejar no consumo de alimentos naturais. À tradicional dieta de arroz e feijão foi incorporado o abuso de sal, açúcar e gordura saturada, principalmente entre a população urbana. Enquanto isso, a ingestão diária de frutas, legumes e verduras ficou abaixo do recomendado para mais de 90% da população, mostra a pesquisa Análise do Consumo Alimentar Pessoal no Brasil, divulgada ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Segundo o levantamento, realizado a partir de uma amostra de domicílios da Pesquisa de Orçamentos Familiares 2008-2009, a grande maioria dos brasileiros não consome os 400 gramas diários de frutas, legumes e verduras recomendados pelo Ministério da Saúde. A quantidade equivale a três porções de frutas e três de verduras e legumes por dia.

Praticidade acaba influenciando escolhas

Diariamente, 40% da população come algum alimento fora de casa, segundo o estudo do IBGE. O consumo médio de calorias fora do domicílio corresponde a aproximadamente 16% da ingestão calórica total dos brasileiros. O índice é maior nas áreas urbanas, entre os homens e indivíduos na faixa de renda familiar per capita mais elevada.

Praticidade e rapidez são vantagens relatadas por quem opta por refeições fora de casa. Para o bancário Cláudio Carneiro Júnior e a esposa, a advogada Carolina Máximo, a rotina de trabalho influencia os momentos de refeição. Nos dias úteis, arroz, feijão e salada estão presentes no prato do casal no intervalo do almoço, quando comem em restaurantes próximos ao trabalho. No entanto, quando chegam em casa, seguem o perfil dos entrevistados na pesquisa: consumo de produtos industrializados como pizzas, biscoitos e salgados. “Não compramos muitas frutas e verduras, porque acaba estragando. Geralmente, comemos isso no buffet dos restaurantes”, conta Carolina.

Fast-food

Muitos consumidores, no entanto, nem sempre optam por refeições saudáveis fora de casa. Nos shoppings, a opção dos brasileiros por produtos industrializados é observada de forma mais intensa. Com três de seus quatro filhos na praça de alimentação, a locutora Hismara Missino Acosta mantém uma rotina que se repete pelo menos a cada 10 dias: comer sanduíche, batata frita e refrigerante. Entre degustar a comida caseira e a opção de comer fora, ela diz que sair para passear e fazer lanches agrada mais aos pequenos.

Para os primos Davdy Luís, 16 anos, e Mayana Gonçalves, 12 anos, o almoço em casa, com a família, é bastante saudável. Ainda que tenham sido entrevistados enquanto degustavam grandes sanduíches, eles dizem que este comportamento não é uma rotina e que há tempos não optavam por um lanche rápido. A mãe de Mayana, a profissional autônoma Silvana Luiza Luís, diz que, apesar de comprar frutas e verduras com frequência, à noite o cardápio saudável muda. “Comemos lanches como pizzas ou cachorro quente feito em casa”, afirma. Para beber, segundo a filha, a praticidade entra no cardápio doméstico, com refrigerantes e sucos – de caixinha e também em pó.

Os produtos mais consumidos fora de casa são cerveja (item citado por 63,6% dos entrevistados), salgadinhos industrializados (56,5%), salgados fritos e assados (53,2%) e bebidas destiladas (44,7%). (DT e BMW)

A falta desses nutrientes é ainda mais preocupante entre os adolescentes, que são os que menos consomem saladas e que abusam de bolachas, macarrão instantâneo e chocolate. O consumo médio diário de açúcar total entre os adolescentes foi cerca de 30% maior do que o dos idosos e entre 15% e 18% superior ao dos adultos.

A consequência da má alimentação é que menos vitaminas são consumidas. Segundo o estudo, praticamente todos os brasileiros consomem menos vitaminas D e E do que o recomendado – a quantidade varia conforme a idade. Outra deficiência é com relação ao cálcio: dos 10 aos 13 anos, por exemplo, 96,4% dos meninos e 97,2% das meninas registraram ingestão abaixo do valor mínimo diário recomendável, de 1.100 mg.

Os hábitos alimentares têm algumas pioras com o aumento da renda. A ingestão de alguns componentes de uma dieta saudável, como arroz, feijão, peixe fresco e farinha de mandioca, diminui à medida que aumenta o rendimento familiar per capita, diz o estudo. Também é elevado o consumo de pizzas, salgados fritos, doces e refrigerantes. Por outro lado, foram registrados aumentos no consumo de frutas, verduras e laticínios diet/light.

Riscos

A má alimentação traz riscos à saúde e deixa médicos em alerta. Marcio Mancini, chefe do Grupo de Obesidade do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, observa que as consequências já são vistas no curto prazo, através do aumento do sobrepeso e obesidade e de doenças crônicas, como diabete, colesterol e gordura no fígado. A médio prazo, explica, surgem doenças associadas à obesidade e a longo prazo aumenta a necessidade de leitos hospitalares, por causa de enfarte e derrame cerebral.

“Eu sou pessimista. A tendência é piorar [o hábito alimentar], principalmente porque a tendência do indivíduo na escolha de um alimento não é levar em conta se é saudável ou não. Escolhe por preço, prazer e conveniência”, diz Mancini. Para o cardiologista Ever­ton Cardoso Dombeck, do Hospital Costantini, em Curitiba, os maus hábitos alimentares têm relação com a correria do dia a dia. “A pessoa prefere comer um sanduíche que sentar e comer um prato com arroz, feijão, salada, grelhado.”

Para reverter o quadro, a professora de Educação Nutricional da Universidade Federal do Paraná Regina Maria Ferreira Lang defende o retorno do prazer às refeições e da preparação dos pratos em família, além da conscientização da população desde cedo. Segundo ela, os hábitos alimentares são formados até os 2 anos de idade.

Bons exemplos

A pesquisa do IBGE mostrou bons exemplos entre a população. Um deles é que a frequência de consumo de produtos industrializados diminui com a idade. Além disso, a população rural consome mais arroz, feijão, peixes frescos, farinha de mandioca, manga, açaí e batata-doce na comparação com o meio urbano.

As informações da pesquisa devem ajudar o governo federal na implantação de políticas públicas. O Ministério da Saúde está desenvolvendo um plano nacional de prevenção e controle à obesidade e outro de enfrentamento a doenças crônicas não transmissíveis para este ano.

 






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