lógica não vai salvar a zona do euro
Um economista americano, alguns anos atrás, me perguntou quais eram, em minha opinião, as quatro palavras mais perigosas da língua inglesa. Ele não esperou por minha resposta. "Desta vez é diferente", exclamou.
Ele aludia à visão prevalecente segundo a qual a combinação de globalização, mercados livres e a infinita sabedoria dos bancos centrais teria gerado um ambiente econômico benigno no qual a inflação tinha sido conquistada --exceto no que dizia respeito aos preços de casas e outros bens-- e os tempos de boom iriam continuar. As lições da história econômica e financeira podiam ser descartadas; desta vez seria diferente.
Bem, quatro anos após o início do colapso financeiro de 2007-08, desta vez está sendo diferente. Após uma recessão, normalmente se espera uma recuperação nas principais economias industriais. Desta vez, porém, a recuperação está tendo que ser adiada _com a exceção, por algum tempo, da Alemanha.
Isso é uma decepção, evidentemente, para o ministro das Finanças britânico, George Osborne, que na semana passada descreveu uma reviravolta dramática com relação à visão que seu partido tem da zona do euro.
Agora nosso ministro das Finanças muito conservador é a favor de uma integração europeia maior, tendo declarado que "a lógica implacável" da união monetária é a união fiscal maior.
A "lógica implacável" não chega a ser novidade para aqueles de nós que, ao mesmo tempo em que somos pró-europeus, sempre nos preocupamos com as deficiências de uma união monetária não acompanhada de uma contraparte fiscal plena. O que é novo é o entusiasmo do ministro das Finanças com isso.
O motivo dessa mudança de postura na política do Tesouro --em oposição ao Ministério do Exterior-- em relação à zona do euro não é nem um pouco difícil de identificar. Osborne foi bastante franco quanto a isso: se a crise da zona do euro fugir de controle --lembrando que 40% de nossas exportações são feitas à zona do euro--, isso vai exacerbar o que Osborne admite ser a situação econômica "difícil" do Reino Unido.
É claro que o próprio Osborne está fazendo sua contribuição para nossa situação econômica difícil. E, se ele tivesse chegado a seu cargo alguns anos antes, é quase certo que teria se esforçado ao máximo para torná-la mais difícil ainda.
Um curso de atualização sobre a razão pela qual a política econômica teve que ser afrouxada diante da crise financeira de 2007-08 está contido em um novo artigo do economista Bill Martin ("Is the British Economy Supply Constrained? A Critique of Productivity Pessimism" [A oferta da economia britânica está constrita? Uma crítica do pessimismo na produtividade], Centre for Business Research, Universidade Cambridge).
Martin explica sua tese sucintamente: "[Depois do crash] um aumento grande na poupança por parte de famílias e empresas criou uma deficiência na demanda: os gastos dos consumidores diminuíram em relação às rendas disponíveis. Contudo, a queda resultante no PIB não foi acompanhada por gastos governamentais, que, portanto, subiram em proporção ao PIB, nem pela receita tributária, que, sendo um tanto quanto progressiva, caiu em relação ao PIB."
O aumento do déficit orçamentário amorteceu o impacto da recessão.
Há um debate em torno de quanta capacidade ociosa existe na economia, e muitas das propostas que ouvimos por parte de ministros são sobre melhorar o lado da oferta da economia.
Isso tudo é muito elogiável, mas Martin apresenta argumentos bastante fortes para dizer que ainda existe muita capacidade ociosa na economia, que está operando bem abaixo de seu potencial. O problema principal é a demanda inadequada, razão pela qual é ainda mais difícil entender ou justificar a política do governo de penúria planejada.
Está claro que o ministro das Finanças está preocupado. Também a maioria de nós está. Mas, enquanto líderes e banqueiros centrais europeus se esforçam para acompanhar as demandas incansáveis dos mercados financeiros, embora a lógica do movimento em direção a uma união fiscal possa ser "implacável", a realidade política pode ser seriamente deficiente.
As pessoas que querem o bem da zona do euro, entre as quais devemos agora incluir nosso ministro das Finanças, gostam de expressar esperança na "vontade política" dos governantes de seguirem adiante com o tipo de integração fiscal que aumentaria as chances de a zona do euro ser aceita como entidade permanente, em lugar de um experimento histórico
interessante, mas, em última análise, fadado ao fracasso.
O problema --e isso é visível nas hesitações e dúvidas semipúblicas da chanceler alemã, Angela Merkel--, é abismo entre a vontade política dos governantes da zona do euro e a vontade política de suas populações, às vezes descritas com o termo inconveniente de "o eleitorado".
Em um novo panfleto ("The Political Economics of the Euro" [A economia política do euro], Deutsche Bank Research), o economista alemão Thomas Mayer conclui que a união política é improvável. Lembrando a rejeição do Tratado de Lisboa pela França e Holanda, ele observa que o tratado representou um passo pequeno. "Comparado com isso, a renúncia permanente à soberania orçamentária (conforme o sugerido por Trichet) representaria um grande salto à frente e provavelmente seria rejeitada pela imensa maioria dos Estados membros da União Monetária Europeia".
Existe apoio crescente à ideia de converter boa parte da dívida soberana dos países periféricos em um título de dívida comum europeu, com taxa de juros muito mais baixa. Isso requer apoio fiscal. Mas adoro a ideia de que, depois de uma política de juros do tipo "tamanho único que cabe em todos" ter contribuído para a confusão da zona do euro, poderemos precisar de uma taxa de juros "tamanho único" sobre títulos a emergir desta confusão.
Enquanto isso, nas circunstâncias atuais, o acordo selado por líderes da UE na semana passada --uma extensão dos períodos de pagamento dos empréstimos, juros mais baixos e um instrumento sério de estabilidade financeira europeia-- não é nada ruim.
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