Manobra envolveu a realização de uma audiência pública e um café da manhã para jornalistas
Galindo e Pinheiro: cilada para a oposição e a imprensa
Uma manobra canhestra, e que representa bem aquilo que a política tem de pior, envolveu a aprovação da Lei que permite a privatização da Sanecap (Agência de Saneamento da Capital). O prefeito "biônico" Chico Galindo e o vereador Júlio Pinheiro, ambos do PTB, engendraram uma trama digna de folhetim de quinta categoria. Principalmente pelos lances rasteiros.
Pode-se dizer que tudo começou com as anunciadas férias de Chiquinho Galindo. À imprensa, o prefeito divulgou que iria passar uma temporada em Portugal, programa sugerido pelo tucano Wilson Santos, que recentemente fez um MBA na Universidade de Coimbra.
Ao gozar a folga, Galindo colocou o parceiro Júlio Pinheiro no comando do Palácio Alencastro. Mas, antes disso, ambos já haviam combinado que, em um curto período de algumas semanas, vários projetos seriam encaminhados e aprovados a toque de caixa pelos vereadores.
Um detalhe curioso é que Galindo ficou apenas uma semana em Portugal. E voltou a Cuiabá sem alardes, meio que às escondidas, para acompanhar de camarote a execução do plano.
O lance mais emblemático foi a aprovação do projeto relacionado à Sanecap, na última terça-feira pela manhã. O roteiro para a aprovação já previa, pelo menos, mais duas ciladas - diga-se, sem exageros, armadas para prejudicar o debate e o jogo democrático.
Audiência pública
Tudo aconteceu da seguinte maneira: a polêmica mensagem do Executivo seria apresentada na sessão matutina da Câmara.
Para evitar a discussão em plenário e calar a oposição, que certamente pediria vistas ao projeto para aprofundar o debate, os prefeitos Chico Galindo e Júlio Pinheiro tiveram uma idéia "brilhante": marcar, para o mesmo dia e horário da sessão, uma "audiência pública".
A audiência, pasmem, discutiria exatamente o nó em que se transformou o sistema de abastecimento de Cuiabá e as alternativas para a resolução de seus graves problemas.
Logo após abrir a sessão, o vereador Arnaldo Penha (PMDB) a suspendeu para que seus pares participassem da audiência, que ocorria em outro plenário, na própria Câmara.
A audiência pública, com participação de entidades de classe, funcionários da Sanecap e o procurador do município, transcorria normalmente, até que chegou a vez do vereador Lúdio Cabral (PT) fazer uso da palavra. Era mais ou menos 11h30.
O início de sua fala foi a senha para que os outros vereadores presentes começassem a sair de "fininho" do local. O destino era o plenário principal do legislativo, onde aprovariam, sob urgência urgentíssima, o projeto da Sanecap.
Café com jornalistas
A outra parte da "armação" da dupla Galindo e Pinheiro, concomitantemente, também era posta em prática. E a contento. Com a desculpa de realizar uma confraternização com a imprensa, o prefeito interino convidou os jornalistas - principalmente os que comumente fazem a cobertura das sessões da Câmara - para um delicioso "café da manhã" em seu gabinete.
Deste modo, com a oposição em outro plenário, participando da audiência pública, e dezenas de jornalistas no gabinete instalado no 7º andar do Palácio Alencastro, os vereadores tiveram toda a liberdade para "deitar e rolar" e aprovar o projeto.
Assim, sem o mínimo bom senso, desrespeitando o direito à informação, o direito ao debate e ao contraditório, pisando nos princípios mais elementares da democracia, Francisco Belo Galindo e Júlio Pinheiro atingiram seu objetivo.
Não se discute, aqui, o mérito do projeto e o processo de possível privatização da Sanecap, que mesmo diante de tal disparate será debatido.
Discute-se a forma baixa, apelativa e vergonhosa. Usaram de artimanhas dignas do atraso para fazer valer suas vontades. É lamentável. É triste. Mas é a realidade.
Que o tempo se encarregue de colocar em seus devidos lugares todos os dignos representantes que participaram desse triste espetáculo...
Nome aos bois
Dos vereadores presentes no plenário, apenas Domingos Sávio (PMDB) votou contra a aprovação da mensagem do Executivo. Lúdio Cabral (PT), Roosivelt Coelho (PSDB) e Tiago Nunes (PSDB) não votaram, pois participavam da audiência pública.
Os vereadores a seguir aprovaram a lei que prevê a privatização da Sanecap: Toninho de Souza (PDT), Everton Pop (PP), Adevair Cabral (PDT), Antônio Fernandes (PSDB), Arnaldo Penha (PMDB), Carlos Haddad (PTB), Chico 2000 (PR), Deucimar Silva (PP), Leonardo de Oliveira (PSDB), Lueci Ramos (PSDB), Marcus Fabrício (PP), Misael Galvão (PR), Pastor Washington (PRB), Professor Néviton (PRTB) e Totó César (PRTB).
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