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Internacional
Domingo - 29 de Setembro de 2013 às 13:35

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De repente, um mundo que se preocupa com um Estado nuclear imprevisível foi surpreendido por um novo tipo de poder.


 
Agora, é a "ofensiva de charme" do Irã que está causando uma comoção.


 
Um país cuja imagem costuma ser a de véus negros e punhos cerrados agora tem um presidente que sorri, pisca, tuíta e se aproxima do Ocidente.


 
Quando, na sexta-feira, foi divulgada a notícia de um telefonema em Nova York entre o presidente americano e o iraniano, as mídias sociais foram tomadas de excitação e euforia.


 
"Considerando o quão indolor foi (a conversa), e quantos milhões de pessoas aquilo deixou contentes, é impressionante que tenha demorado 34 anos para que essa ligação acontecesse", diz o especialista em Irã Karim Sadjadpour, do "think tank" Carnegie Endowment for International Peace.


 
Maior tabu


 
Um dos tweets mais extraordinários da conta do presidente iraniano, ( ) foi: "Em uma conversa telefônica entre os presidentes iraniano e americano agora: : "Tenha um bom dia!" e : "Obrigado, Khodahafez (Até logo, em persa)."
 
Depois de três décadas sem falar um com o outro, os líderes dos dois países parecem estar falando a mesma linguagem, ao menos em algumas das palavras usadas para completar os 140 caracteres no Twitter.


 
"O maior tabu da política iraniana foi quebrado", disse Ali Vaez, da ONG International Crisis Group.


 
Em suaviagem a Nova York durante a Assembleia Geral da ONU, o presidente Rouhani até deixou de usar um dos mais marcantes slogans anti-americanos da Revolução Islâmica. Ele se referiu aos Estados Unidos como "a grande nação", ao invés de "o grande Satã".


 
Mas como uma celebração noturna que perde seu brilho na luz do dia, o alvoroço da conversa telefônica logo perdeu um pouco da sua atração.


 
Quando o presidente iraniano e sua comitiva aterrissaram em Teerã, a série de tweets descrevendo sua conversa de 15 minutos com Obama havia sido removida de sua conta.


 
E após uma visita a Nova York que pareceu cuidadosamente coreografada, o retorno a Teerã se tormou um lembrete caótico da política "irritadiça" do Irã.


 
"Ele voltou à realidade quando pisou no solo", observou meu colega iraniano Amir Paivar, que acompanhava de Londres a chegada de Rouhani à capital.


 
A chamada para a realidade ao presidente veio da recepção que teve dos dois lados de uma população frequentemente dividida a respeito da abertura para o Ocidente. "Vida longa a Rouhani, mudança perpétua", cantava um dos lados, enquanto gritos de "Morte à América" eram ouvidos do outro.
 
Até mesmo ovos e sapatos foram atirados nele.


 
Thomas Erdbrink, do jornal americano The New York Times, um dos poucos jornalistas ocidentais em Teerã, disse que o "presidente Rouhani estava tentando sorrir, mas seguranças tentaram protegê-lo com um guarda-chuva, o colocaram dentro de um carro e saíram".


 
A proteção política foi dada pela autoridade que o recebeu - Ali Akbar Velayati, o representante do principal político do Irã, o líder espiritual aiatolá Ali Khamenei. Isso mandou um sinal de que o presidente eleito Rouhani é o homem escolhido pelo aiatolá, com poderes conferidos a ele para conseguir resultados, especialmente quando se trata de fazer diminuir as sanções que prejudicam a economia iraniana.


 
"A excitação está lá fora, mas ainda não a sentimos aqui", disse a mim um alto homem de negócios em Teerã por telefone. "Nada aconteceu ainda no que se refere às sanções."


 
Radiante


 
Ainda assim, as mídias sociais no Irã foram inundadas pelas esperanças cautelosas das pessoas de uma geração mais nova com acesso à internet, que vivem frustradas uma vida de regras e restrições.


 
Um tipo de otimismo também ficou evidente em um tweet que não foi removido da conta do presidente Rouhani. Uma fotografia mostra o clérigo de 64 anos radiante logo depois de terminar sua momentosa ligação telefônica e entrar em um avião para casa.


 
"O presidente Rouhani é um político pragmático. Ele teve a coragem de cultivar esse momento histórico para o descongelamento das relações com os Estados Unidos, mantendo a prudência de fazê-lo de um modo que reduziria os riscos de um retrocesso doméstico", disse Ali Vaez.


 
Observadores informados acreditam que o aiatolá Khamenei, conhecido por suspeitar bastante das intenções do Ocidente, deu ao presidente reformista uma janela para mostrar resultados.


 
Isso pode explicar por que o presidente Rouhani falou, com surpreendente otimismo, de um acordo nuclear nos próximos três a seis meses. Mas muito dependerá de como a comunidade internacional responde a esta tentativa.


 
"No passado, um lado estava pronto e o outro não estava. Agora os dois lados estão se movendo ao mesmo tempo", comentou Trita Parsiin, presidente do Conselho Nacional Iraniano-Americano, falando sobre anos de oportunidades perdidas para algum tipo de conversa entre os países.
 
O presidente Obama deixou claro que "ainda que haja obstáculos importantes para seguir em frente e que o sucesso não esteja garantido de forma alguma, acredito que podemos encontrar uma solução abrangente".


 
Em Nova York, Rouhani reiterou sua principal demanda em anos de conversas prolongadas sobre a questão ncuclear. "Nós nunca iremos renunciar ao nosso direito inerente de nos beneficiarmos da tecnologia nuclear pacífica, incluindo o enriquecimento (de urânio)."


 
Mas ele também enfatizou que o Irã "não deixaria nenhuma pedra sem virar" para garantir ao mundo que seu programa nuclear é inteiramente pacífico.


 
Ainda há algum ceticismo e cinismo a respeito deste novo Irã. O maior alerta veio do primeiro-ministro israelense Binyamin Netanyahu, que foi descrito pelo presidente iraniano como "um lobo em pele de cordeiro".


 
A mudança de tom será testada na próxima rodada de conversas entre o Irã e as potências mundiais em Genebra em meados de outubro.


 
O primeiro encontro em Nova York, onde o ministro das Relações Exteriores Javad Zarif, educado nos Estados Unidos, abriu a reunião e sentou perto do secretário de Estado John Kerry, mandou uma mensagem substancial de mudança ainda maior que a ligação dos presidentes.


 
No fim, a situação se resumirá a muitos meses de conversas face a face entre os dois países, com um histórico de inimizade e visões de mundo fundamentalmente diferentes, que agora perceberam que têm boas razões para se empenharem em um diálogo.


 
Certamente também haverá muito mais chamadas telefônicas mundanas e, talvez, uma série de tweets mais contidos.


 
De repente, um mundo que se preocupa com um Estado nuclear imprevisível foi surpreendido por um novo tipo de poder.





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