O líder do governo na Câmara, Cândido Vaccarezza (PT-SP), disse nesta terça-feira que o governo não vê risco de perder o apoio do PR por causa da decisão da presidente Dilma Rousseff de efetivar Paulo Sérgio Passos como ministro dos Transportes.
A efetivação de Passos contrariou o PR, que pretendia fazer indicações para o sucessor de Alfredo Nascimento, que renunciou na semana passada após denúncia de um suposto esquema de cobrança de propina comandado pelo próprio partido na pasta.
"O PR não entrou nessa aliança agora, nem entrou por nenhuma razão oportunista. O PR é nosso parceiro, de nossa campanha já para o Lula, antes do Lula ser presidente", disse Vaccarezza a jornalistas após almoço com líderes aliados na Câmara, ao qual o representante do PR não compareceu.
O líder do Partido da República na Casa, deputado Lincoln Portela (MG), alegou problemas partidários para justificar sua ausência, disse Vaccarezza. Mas, à Reuters, Portela admitiu ver como "problema" a maneira com que Dilma gerenciou a crise no Ministério dos Transportes. "Fico chateado não pelo PR. Fico chateado pelo meu governo, que eu queria que tivesse uma relação melhor com a base", disse ele, que citou falta de "habilidade política" na relação do Executivo com a Câmara.
Na segunda-feira, antes da efetivação de Passos, um membro do PR revelou que haveria um movimento interno, capitaneado pelo secretário-geral do partido, o deputado Valdemar da Costa Neto (SP), para abandonar a base de sustentação do governo.
Coro por emendas
No encontro desta terça-feira, acompanhado pela ministra Ideli Salvatti (Relações Institucionais), os parlamentares reclamaram da demora na liberação de emendas e restos a pagar, reivindicação que virou coro entre deputados.
"Até agora foram liberados zero de emendas e nunca um governo teve tantas vitórias no Parlamento quanto o governo Dilma nesses seis meses", disse Vaccarezza.
Ideli agradeceu o empenho da base nas votações na Câmara e teria se comprometido a estudar a questão das emendas nas próximas duas semanas, período de recesso no Congresso.
Em meio à crise com o PR, o líder do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN), levou um bolo para o almoço com as bandeiras de PT e PMDB, além das imagens de Dilma e do vice-presidente, Michel Temer.
A queda do ministro dos Transportes
Uma reportagem da revista Veja do início de julho afirmou que integrantes do Partido da República teriam montado um esquema de superfaturamento de obras e recebimento de propina por meio de empreiteiras dentro do Ministério dos Transportes. O negócio renderia à sigla até 5% do valor dos contratos firmados pelo ministério sob a gestão da Valec (estatal do setor ferroviário) e do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit). O esquema seria comandado pelo secretário-geral do PR, Valdemar Costa Neto. Mesmo sem cargo na estrutura federal, ele lideraria reuniões com empreiteiros e consultorias que participavam de licitações do governo no ramo. Pelo menos dois assessores diretos do então ministro, Alfredo Nascimento (PR), foram afastados dos cargos. Também deixaram suas funções o diretor-geral do Dnit, Luiz Antônio Pagot, e o diretor-presidente da Valec, José Francisco das Neves.
O PR emitiu nota negando a participação no suposto esquema e prometendo ingressar com uma medida judicial contra a revista. Nascimento, que também negou as denúncias de conivência com as irregularidades, abriu uma sindicância interna no ministério e pediu que a Controladoria-Geral da República (CGU) fizesse uma auditoria nos contratos em questão. Assim, a CGU iniciou "um trabalho de análise aprofundada e específica em todas as licitações, contratos e execução de obras que deram origem às denúncias". Apesar do apoio inicial da presidente Dilma Rousseff, que lhe garantiu o cargo desde que ele desse explicações, a pressão sobre Nascimento aumentou após novas denúncias: o Ministério Público investigava o crescimento patrimonial de 86.500% em seis anos do filho do ministro, Gustavo. Diante de mais acusações e da ameaça de instalação de uma CPI, o ministro não resistiu e encaminhou, no dia 6 de julho, seu pedido de demissão à presidente.
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