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Segunda - 11 de Julho de 2011 às 21:39

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Muita coisa mudou no Oriente Médio desde que os levantes árabes começaram. Mas uma coisa que permanece constante é a obsessão dos diplomatas internacionais com o "processo de paz" entre israelenses e palestinos. Um novo esforço para arrastar as duas partes à mesa de negociações, ainda que à contragosto, foi realizado ontem. Uma reunião do Quarteto (Estados Unidos, União Europeia, Nações Unidas e Rússia), realizada em Washington, pretendia apelar por uma retomada urgente das negociações de paz.

Ninguém parecia estar dedicando a atenção necessária a um fato óbvio. Com o tumulto no Oriente Médio., iniciar uma nova rodada de negociações entre Israel e os palestinos é completamente inútil.

Falando na semana passada, Catherine Ashton, a responsável pela política externa da União Europeia, defendeu o caminho oposto, mencionando diversos motivos para que seja necessário iniciar negociações, em sua opinião. O primeiro deles eram "as mudanças na região vizinha" -o que parece ser uma descrição bastante amena para as revoluções no Egito e Tunísia, guerras civis na Síria e Líbia e desestabilização dos Estados árabes do Marrocos à Arábia Saudita.

Na verdade, são exatamente as "mudanças na região vizinha" que tornam irrelevante desperdiçar energia em um processo de paz que se transformou em questão menor.

Alguns diplomatas europeus se apegam à ideia de que a questão palestina continua a ter posição central na instabilidade do Oriente Médio. Mas essa é uma posição teológica que só pode ser sustentada por meio de desconsideração deliberada dos fatos concretos. Se há uma coisa que os levantes do Oriente Médio têm em comum é que eles nada têm em comum com os palestinos. Além disso, a despeito das ávidas previsões de muitos analistas externos, os territórios palestinos ocupados não explodiram (até agora) em insurreições ao estilo egípcio.

A principal influência da Primavera Árabe sobre a questão palestina foi alterar os cálculos das duas partes em conflito, de maneiras que tornam menos provável que aceitem o risco de negociar um acordo de paz.

Em um momento no qual os líderes árabes de toda a região estão sob ataque por serem remotos, corruptos e elitistas, seria simplesmente arriscado demais para que a liderança da Fatah, a facção palestina que controla a Cisjordânia, entrar em tortuosas negociações com os israelenses que resultariam inevitavelmente em acusações de entreguismo. Por enquanto, os palestinos parecem muito mais interessados em reconciliar a Fatah e o Hamas -e em explorar a possibilidade de buscar o reconhecimento do Estado palestino na Assembléia Geral das Nações Unidas, em setembro.

Os israelenses também estão em postura defensiva. A política regional de Israel se baseava em um tratado de paz com o Egito, relações cordiais com a Turquia, uma paz gélida com a Síria e no interesse compartilhado com a Arábia Saudita em conter o Irã. As perturbações no Oriente Médio despertam questões sobre a durabilidade de todos esses arranjos -o que torna altamente improvável que o governo israelense assuma novos riscos ao retirar seus soldados da Cisjordânia.

Existe, é claro, dúvida real sobre a vontade do atual governo israelense de trocar "terra por paz". Mas mesmo que o governo israelense tivesse um compromisso firme para com a ideia de dois Estados como solução, seus líderes hesitariam em tomar decisões de longo prazo em meio a uma situação que vem mudando com tamanha rapidez.

Uma das grandes recompensas potenciais para os israelenses, em um acordo de paz com os palestinos, é a perspectiva de que isso resulte em paz permanente com o mundo árabe mais amplo. Mas porque quase todos os regimes árabes estão oscilando, Israel não teria garantias de que essa paz seja duradoura. Também existem algumas dificuldades práticas. Qualquer acordo de paz com a Síria envolveria a devolução por Israel do território que ocupa nas colinas do Golan -mas o governo de Bashir al-Assad tem outras preocupações, no momento.

Em lugar de desperdiçar tempo tentando chegar a um acordo final de paz, a "comunidade internacional" deveria estipular metas mais modestas. O ponto crucial no momento deveria ser impedir que qualquer dos lados tome atitudes que tornem efetivamente impossível um futuro acordo de paz.

No que tange aos palestinos, isso envolveria pressionar o Hamas para que este reconheça o Estado de Israel. Sem isso, é difícil imaginar que os israelenses iniciem conversações. Do lado israelense, os Estados Unidos e a Europa deveriam adotar posição muito mais dura quanto aos assentamentos judaicos nos territórios ocupados, que continuam a se estender pelas terras que deveriam integrar o futuro Estado palestino. Em um mundo ideal, o governo Obama cortaria a assistência a Israel a cada vez que um assentamento fosse expandido. Mas em lugar disso o Congresso está exercendo pressão financeira na direção errada, os palestinos -por terem a temeridade de propor o reconhecimento de seu Estado na ONU, em setembro.

Mas a hostilidade israelense e do Congresso norte-americano ao esforço palestino nas Nações Unidas é exagerada. Uma resolução da Assembleia Geral sem apoio do Conselho de Segurança mudaria muito pouco, em termos legais ou políticos.

Ainda assim, os norte-americanos e os europeus não apreciam a ideia de serem colocados sob pressão na ONU. Isso poderia explicar sua avidez por reiniciar as negociações de paz. O plano parece ser o de iniciar um processo de paz inútil, na esperança de evitar uma declaração igualmente inútil da parte da ONU.

Enquanto isso, a verdadeira ação no Oriente Médio vem acontecendo no Egito, Líbia, Síria e no Golfo Pérsico. Até que o desfecho desses dramas se torne muito mais claro, tentar forçar progresso quanto à questão palestina é uma atividade periférica e inútil.






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