Jornal de Murdoch teria grampeado ex-premiê britânico Gordon Brown
O jornal "The Sunday Times", que pertence ao magnata australiano Rupert Murdoch, 80, tentou grampear telefones de Gordon Brown quando ele era primeiro-ministro do Reino Unido, informaram vários veículos da imprensa britânica nesta segunda-feira.
A revelação ocorre em meio à crise ocasionada pelos grampos telefônicos de outro jornal do grupo Murdoch, o "The News of the World", que saiu de circulação após uma última edição neste domingo.
Uma investigação da cadeia pública de TV aponta que o jornal, do grupo News International, tentou obter informações pessoais sobre Brown, como documentos e um histórico de suas chamadas telefônicas, em busca de dados financeiros.
Jornalistas do "The Sunday Times" tentaram acessar mensagens de voz, conta bancária e histórico médico da família de Brown, de acordo com a BBC.
Segundo a rede, investiga-se agora se a informação de que Brown comprou a baixo custo uma casa que pertencia a Robert Maxwell, que foi publicada na primeira página do jornal, foi obtida depois que um funcionário do de "The Sunday Times" obtivesse cerca de 2.000 dados bancários do ex-primeiro-ministro.
De acordo com o jornal "Guardian", também há indícios de que Brown foi espionado durante mais de dez anos, desde quando era ministro de Finanças até quando já era premiê.
O "Independent" informa que Brown deve fazer um comunicado sobre o caso em breve
NEWS OF THE WORLD
O escândalo do "News of the World" eclodiu em 2006, após a revelação de que alguns jornalistas supostamente recorriam aos grampos para interceptar comunicações de famosos e mensagens de voz em celulares.
Entre outros, foram grampeados as linhas dos atores Jude Law e Sienna Miller, do vice-premiê John Prescott, além dos príncipe Harry e William.
A maior parte das escutas da publicação foram realizadas pelo detetive Glenn Mulcaire. De acuerdo com o jornal britânico "Guardian", dez membros da Família Real britânica foram alvos dos grampos.
Em 2007, a BBC revelou que o jornal pagou a um funcionário da Família Real para obter telefones de contato de membros da monarquia e seus amigos.
Na sexta-feira (8), o caso ganhou outra proporção com a prisão do ex-diretor do "News of the World", Andy Coulson. Ele foi liberado no mesmo dia após pagar fiança.
O escândalo levantou questões sobre as relações entre políticos e membros da imprensa, incluindo o primeiro-ministro do Reino Unido, David Cameron, que havia contratado Coulson como seu assessor e conselheiro.
NEGOCIAÇÃO
Ontem, Murdoch, 80, dono do conglomerado de mídia News Corporation, reuniu-se com Rebekah Brooks, numa demonstração de apoio à executiva considerada pivô do escândalo de escutas ilegais que forçou o fechamento do jornal neste domingo.
Tido como o principal responsável pela decisão de encerrar as operações do jornal após seus 168 anos de atividade, Murdoch deve tentar de todas as formas impedir que o escândalo afete as negociações em torno da BSkyB (British Sky Broadcasting), a empresa de TV por assinatura que seu grupo pretende comprar, num negócio de US$ 19 bilhões.
O governo britânico já declarou que as negociações devem ser atrasadas devido à crise.
Pouco após sua chegada, ele se reuniu com Brooks em seu apartamento londrino. Ao término da conversa, os dois saíram sorrindo para os fotógrafos.
Executiva de confiança do australiano, Rebekah Brooks chefia a News International, empresa que gerencia todos os jornais britânicos pertencentes à News Corporation, entre eles o tabloide "The Sun", o "Times" e o "Sunday Times".
O "News of the World" circulou sua última edição após ser acusado de ter ordenado grampos ilegais em telefones de membros da realeza, celebridades e parentes de vítimas de terrorismo e de soldados mortos no Iraque e no Afeganistão.
No Reino Unido, crescem as pressões para que Brooks --que era diretora do tabloide na época em que os grampos teriam sido realizados-- abandone seu cargo. Com o fechamento do tabloide, mais de 200 perderam seus empregos.
QUEBRA DOS PADRÕES
Em sua última edição, o "News of the World" admitiu ter "quebrado os padrões" que tentava manter e mencionou os grampos telefônicos.
"Nós mantínhamos padrões elevados, nós exigíamos padrões elevados, mas, agora estamos sabendo, dolorasamente, que durante um período de alguns anos até 2006, alguns dos que trabalhavam para nós, ou em nosso nome, abandonaram de forma vergonhosa estes padrões. De forma simples, perdemos nossa direção. Telefones foram grampeados, e por isso, este jornal pede desculpas", afirma o último editorial da publicação.
O editor do jornal, Colin Myler, disse a um grande número de repórteres concentrados diante da redação do "News of the World" que ele lamentava profundamente o encerramento do periódico.
"Isto não é onde nós queríamos estar e não é onde nós merecemos estar, mas como tributo final a 7,5 milhões de leitores, isto é para vocês e para a equipe, obrigado.
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