Sampras chegara em Wimbledon com 29 anos anos e uma abstinência de títulos que já durava um ano, desde o hepta na própria grama inglesa, no ano anterior, quando obtivera a 13ª coroa de Grand Slams. Federer, por sua vez, vinha nos seus 19 anos e tinha como currículo um único título, obtido em Milão, naquele mesmo ano, e um histórico que mesclava ímpetos de genialidade com descontroles emocionais.
O jogo
Federer, diferentemente do estilo predominante de hoje, entrou em quadra disposto a enfrentar Sampras à maneira do adversário: saque e voleio. A paridade do jogo se anunciou de imediato, com confirmações de serviço que levaram o jogo ao tie-break. Nele, Federer prevaleceu no detalhe, fechando em 9-7 o set de desempate.
A segunda parcial seguiu marcada pelo equilíbrio. O jogo se desenvolvia ao estilo clássico do tênis, repleto de saques, voleios e passadas. A primeira quebra decisiva veio quando Federer sacou em vantagem contra no 5/6, ao errar um smash rente à rede e ver Sampras empatar o jogo.
O troco do suíço veio na mesma moeda. Sampras sacou em 4/4 do terceiro set e, tendo que vencer o ponto para tirar o break point do suíço, fez um grande saque, mas errou ao jogar longe um smash quase colado à rede. O americano levou as mãos à cabeça. No game seguinte, Federer confirmou o saque com um ace e abriu 2 a 1.
O quarto set foi uma reedição do andar do primeiro. As chances apareceram, mas o equilíbrio foi mantido, e os dois jogadores novamente chegaram ao 6/6. Nessa vez, porém, Sampras mostrou-se incisivo e deixou Federer longe da vitória. No ponto do set, sacou aberto em 6-2 e voleou curto na cruzada; Federer correu, tentou a contra-deixada, mas não conseguiu evitar o novo empate do jogo.
A igualdade do jogo se refletia no quinto set até que Federer, após sacar em 5/5 e confirmar o serviço, jogou a pressão para o lado de Sampras.
Sacando para manter o sonho do oitavo título de Wimbledon vivo, Sampras se deparou com um Federer inspirado e decisivo no momento mais crucial da partida. O americano sacou aberto em 15-40, mas, dessa vez, Federer se adiantou na devolução; o tiro cruzou ao lado de Sampras, que só pode acompanhar o winner do suíço, que se ajoelhou em quadra.
A partida de 2 de julho que encerrou uma série de 31 vitórias seguidas de Sampras em Wimbledon terminou em 7-6 (9-7), 5-7, 6-4, 6-7 (2-7), 7-5, disputados em 3 horas e 41 minutos. Dos 370 pontos disputados, 190 (51%) venceu Federer, e 180 (49%) Sampras. Foram 51 aces (um a mais para o americano), e somente 5 quebras em 60 games disputados (uma a mais para o suíço). Foi a única partida profissional entre o americano e o suíço.
Impacto
A derrota significou o fim do reinado de Sampras em Wimbledon, onde perdera pela última vez nas quartas de final de 1996. Um ano depois, em 2002, Sampras voltou ao All England Club, onde acabou eliminado na segunda rodada. Foi o penúltimo Grand Slam da carreira, encerrada com o campeonato no US Open de 2002, quando derrotou Andre Agassi, estabelecendo o então recorde de 14 coroas de Slams.
Para Federer, a vitória deu um impulso derradeiro de confiança que lhe faltava. No ano seguinte, ele conquistou três títulos, incluindo o primeiro Masters. Em 2003, veio o primeiro Grand Slam, justamente em Wimbledon, sobre o australiano Mark Philippoussis. Nessa ocasião, mesmo jogando contra um sacador e voleador, Federer adotava um estilo centrado no jogo de fundo de quadra, embora mesclado com rápidas e eficientes subidas à rede.
Os resultados de Federer foram crescendo tão rápido que, em 2004, quando já acumulava quatro Slams, falava-se que poderia ultrapassar o recorde de Sampras. A aposta era alta, mas se cumpriu em 2009, quando ganhou a 15ª coroa ao vencer Wimbledon pela sexta vez, derrotando Andy Roddick em uma batalha decidida em 16/14 no quinto set. Federer também ultrapassou o número geral de títulos no circuito profissional: são 67 (número que pode aumentar) contra os 64 de Sampras.
Tendo desenvolvido um jogo mais completo e adaptável a quadras lentas, Federer também ultrapassou Sampras nos resultados no saibro, incluindo um título em Roland Garros (2009), torneio no qual Sampras no máximo beliscou uma semifinal. Na grama, todavia, a disputa é parelha: 10 títulos para Sampras, e 11 para Federer.
Em Wimbledon, o duelo histórico entre ambos persiste. Sampras detém o recorde absoluto de sete títulos, seguido de perto pelos seis de Federer, que sonha em ultrapassá-lo. Em 2001, depois da vitória, o suíço contou a jornalistas que, antes da partida, haviam lhe dito que, naquele ano, poderia vencer o americano. Resta saber se Federer ainda irá, nos anos que lhe restas, vir a superar também o recorde do lendário Sampras na grama sagrada de Londres.
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