Volkswagen tenta emplacar um novo "brazíli" no Iraque
A Volkswagen do Brasil vai tentar reeditar um de seus mais inusitados sucessos comerciais dos anos 80: a exportação dos "brazíli", como ficaram conhecidos carros da marca vendidos em massa ao Iraque de Saddam Hussein.
Até hoje, segundo o governo, cerca de metade dos 170 mil modelos Passat exportados entre 1983 e 1988 ainda roda pelo país.
O candidato da vez a ser chamado pela nacionalidade ("brazíli" significa brasileiro em árabe) é o sedã pequeno Voyage, que a montadora busca emplacar junto à crescente classe média do Iraque pós-ocupação americana. No mês que vem, uma delegação da empresa vai a Bagdá inaugurar um showroom com três Voyage. Um carro já está em Erbil (norte).
"O ponto de venda é a fama do "brazíli", é claro. Acho que será possível entregar o carro aqui por uns US$ 13 mil (quase R$ 21 mil)", diz Wathiq Hindo, que intermedeia o negócio em nome da Câmara de Comércio Brasil-Iraque e de si mesmo --ele deve ser o revendedor da VW.
O valor é menor do que o consumidor brasileiro paga, cerca de R$ 30 mil pela versão de entrada. As condições serão negociadas com o governo iraquiano, que por sua vez pode ser cliente direto do negócio para revender o carro com subsídios para os taxistas que usam carros iranianos caindo aos pedaços.
CLASSE EMERGENTE
No nicho classe média, o que é um conceito novo para o país ainda devastado pelos anos de guerra e insurgência, a briga é mais dura. Um sedã coreano Hyundai Elantra é vendido por cerca de US$ 20 mil. Só que é um carro maior. E encontra-se um Toyota Corolla com dois anos de uso por US$ 15 mil em Bagdá.
O plano da montadora é vender inicialmente 50 mil unidades em dois anos --o modelo vendeu 82,7 mil unidades no Brasil em 2010.
O carro foi testado em condições iraquianas por seis meses. Se o negócio for em frente, deverá passar por adaptações ao clima. Um dos fatores do sucesso dos "brazíli" foi o fato de ter radiadores adaptados à poeira.
Enquanto isso, o Passat resiste às invasões, guerras civis e à areia do deserto com seu peculiar estofado bordô --que nenhum iraquiano entende bem o motivo de ser.
Há, claro, obstáculos. Como diz Hindo, existe uma grande burocracia das três décadas de controle estatal da economia. Como ele não diz e todo comerciante local sabe, há propina para toda transação que depende de aval governamental no país. E, claro, a insegurança e a falta de apoio local --até hoje a Embaixada do Brasil está baseada na Jordânia.
O Iraque já foi um dos maiores parceiros do Brasil, na década de 80, num relacionamento que sempre foi apontado como no mínimo pouco transparente.
Em troca de petróleo, em transações trianguladas com a Petrobras, brasileiras como a VW vendiam seus peixes. A construtora Mendes Júnior é associada a quase toda grande obra no país, e o parque bélico abasteceu o Iraque com blindados e mísseis para sua guerra contra o Irã.
Hoje, o Brasil está presente no cotidiano iraquiano principalmente no negócio de carnes --a Sadia é proeminente no mercado de frango local. A balança comercial brasileira com o país, contudo, míngua. Em 1989, Bagdá respondia por quase 7% do superavit total do país, e hoje o saldo é deficitário.
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