A pedra resgatada do fundo do mar no Sul da Ilha de Santa Catarina nesta quinta-feira deve se tratar de um símbolo que era frequentemente utilizado no século XVI para demarcação de posse.
Pedras encontradas no mar em Florianópolis seriam usadas para demarcar posse de fortalezas

Possivelmente, a pedra seria cravada em frente a uma das fortalezas que seriam construídas no Estreito de Magalhães pelos espanhóis, segundo informações do historiador Amílcar D´Avila de Mello:

— A pedra encontrada e as outras ainda submersas poderiam compor o dintel do pórtico de uma ou de ambas as fortalezas a serem contruídas no Estreito de Magalhães. Era comum que tais pedras fossem gravadas com o brasão real e nome do monarca que tinha ordenado a sua construção — afirma.

Mergulhadores do Projeto Barra Sul — grupo que faz pesquisas arqueológicas subaquáticas em Florianópolis — encontraram a pedra de 800 quilos no fundo do mar, perto da Praia de Naufragados, no Sul da ilha. A peça, em formato quadrangular, foi esculpida em alto relevo com o escudo das armas da Espanha.

No local, ainda estão submersos uma outra pedra, com inscrições em latim e citando o rei Felipe II da Espanha; dois ornamentos em formato circular e um canhão, com mais de três metros de comprimento.

Para os pesquisadores do projeto, as peças são provenientes da embarcação chamada de "La Provedora" (que significa barco de carga), que naufragou em 1583 no litoral catarinense. Pesquisas preliminares indicam que a embarcação saiu da Espanha com os materiais que seriam usados para a construção de duas fortalezas no Estreito de Magalhães, no Chile.

La Provedora

A nau La Provedora fazia parte de uma expedição preparada pelo rei Felipe II para povoar e fortificar o Estreito de Magalhães dos ataques de piratas e corsários ingleses em 1581.

— Esse foi o primeiro plano de segurança estratégica hemisférica: a expedição era composta por 23 navios. A navegação era muito penosa, coordenar tantas pessoas em uma região inóspita era uma tarefa quase impossível com os recursos existentes na época — explica Mello.

A expedição contava ainda com 1400 soldados, 43 famílias, mais de 300 pessoas entre homens, mulheres e crianças, 12 frades franciscanos e um grupo de 50 oficiais de fortificação, engenheiros, pedreiros ferreiros e carpinteiros, segundo informações do Projeto Barra Sul.

Ao longo do caminho, as embarcações foram naufragando ou sendo abandonadas, e chegaram a barra sul de Santa Catarina em dezembro de 1582 com apenas 13 navios. Lá, pemanecem por 22 dias e na saída, no dia 7 de janeiro de 1583, a nau La Provedora naufragou.