Wagner Rossi defende aumento da produção agrícola e diz que país vai dar sua contribuição para garantir segurança alimentar às nações mais pobres
Brasil apóia plano de ação para o G20
O Brasil defende que as 20 nações mais ricas do mundo se unam em torno da segurança alimentar mundial. No início dos debates promovidos em Paris pelo G20 Agrícola, o ministro da Agricultura, Wagner Rossi, disse que os países mais desenvolvidos precisam construir um consenso para assegurar o fornecimento de alimentos para todos os povos do mundo. “O Brasil está ao lado dos países do G20 para combater a fome e a insegurança alimentar. Nós, países produtores de alimentos, podemos nos colocar ao lado daqueles (países) que mais precisam”, declarou.
Em nome do governo brasileiro, o ministro manifestou apoio à criação de uma reserva alimentar humanitária de emergência para situações de calamidade. “O Brasil está pronto para assumir a sua parte para aumentar a oferta de alimentos para o mundo”, anunciou. “Temos mais de 120 milhões de hectares de terras já antropizadas que podem e devem ser reincorporadas ao processo produtivo e ambiental”.
Wagner Rossi lembrou que a presidenta Dilma Rousseff colocou como um dos grandes desafios de seu governo a erradicação da miséria. O ministro destacou que, nos últimos oito anos, 30 milhões de brasileiros saíram da situação de pobreza, durante o governo Lula, e ascenderam à classe média. “Estamos trabalhando para aprofundar esse processo de incorporação de mais pessoas à cidadania”, afirmou.
Preços
“O Brasil tem uma visão muito clara do enfrentamento da volatilidade dos preços agrícolas. O país entende que as altas dos preços nos últimos anos compensam em parte aquilo que perdemos no passado”, declarou Rossi no plenário do G20 Agrícola, presidido pelo ministro da Agricultura da França, Bruno Le Maire. “Mas o grande instrumento para o enfrentamento da volatilidade dos preços agrícolas é o aumento da produção de alimentos. É pela ampliação da oferta que o problema precisa ser enfrentado”.
A proposta de combate à volatilidade dos preços das commodities foi levado ao palco do G20 pelo presidente da França, Nicolas Sarkozy. Na abertura do encontro, na noite de quarta-feira, fez um discurso duro, declarando que os mercados agrícolas são os menos transparentes de todos os mercados do mundo.
“Um mercado sem regras não é um mercado, mas uma loteria na qual a sorte sorri aos mais cínicos”, disse Sarkozy, no Palácio do Eliseu, diante das delegações participantes da reunião. A questão da segurança alimentar é uma das prioridades de sua gestão à frente do G20. É a primeira vez que o grupo, que reúne 85% da produção agrícola mundial, debate questões específicas sobre o setor agrícola.
Wagner Rossi disse que o assunto é delicado, mas importante. “Precisamos discutir a temática da relação do mercado financeiro e dos alimentos. Levar isso para o G20 já é uma vitória, porque podemos trabalhar para aumentar a segurança alimentar e ampliar a de renda dos produtores”, apontou. “Não é um tema já resolvido, mas o fato de estar na agenda política dos países mais importantes do mundo é uma vitória. Cumprimento o ministro Le Maire por incluir este tema”, afirmou o ministro.
Informações
Em sua intervenção, Rossi destacou que a presidenta Dilma Rousseff é favorável à criação de um banco de dados com informações sobre a produção global de alimentos, um dos ítens da agenda apresentada pela França. “No Brasil, todas as informações estão disponíveis nos sites oficiais, como o do próprio Ministério da Agricultura. Todos os dados sobre safra, zoneamento agrícola e produção, além de pesquisas, estão absolutamente disponíveis. É obrigação de todos nós fazermos isso”, comentou.
Ele também formalizou o apoio à proposta de criação de instrumento de monitoramento da produção agrícola global. Wagner Rossi disse que o governo brasileiro acha positiva a adoção de mecanismos que permitam assegurar mais transparência dos mercados, como a instituição do chamado Sistema de Informação dos Mercados Agrícolas (SIMA).
O sistema seria administrado pela Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO). O objetivo é integrar dados oficiais dos países para observar os níveis mundiais da produção de alimentos, consumo e estoques. A iniciativa contaria com um serviço integrado de previsão do tempo, por meios do uso comum de satélites. A proposta francesa, contudo, enfrenta a resistência da China.
O ministro da Agricultura da Argentina, Julián Dominguez, lembrou em sua intervenção que os países integrantes do Mercosul compartilham informações sobre a produção agrícola de seus países. Ele mencionou que os ministros têm um foro apropriado para discussões, o Conselho Agropecuário do Sul (CAS). “O flagelo da fome precisa ser enfrentado com a criação de instrumentos comuns pelos nossos países”, apontou o ministro argentino.
Pesquisas
Wagner Rossi destacou que o aprofundamento de pesquisas sobre o trigo – um dos temas debatidos pelo G20 – pode beneficiar diretamente o Brasil. “Estamos dispostos a colaborar. A Embrapa, nosso instituto de pesquisa oficial, pode e vai contribuir”, comentou. Ele lembrou que o país é autossuficiente na produção de todos os ítens de sua cadeia alimentar, com exceção do trigo, produto do qual o país importa 50% do que consome.
“O Brasil é a única experiência intensa de agricultura tropical consolidada. Temos a peculiaridade de contar com uma agricultura vigorante, cuja característica principal é o equilíbrio, com o agronegócio e a agricultura familiar”, disse Rossi, ressaltando a participação nas discussões do ministro do Desenvolvimento Agrário, Afonso Florence, que também integra a delegação brasileira.
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