Para readequação do projeto, Prefeitura retira monumentos, túmulos e bancos
Padronização no cemitério de Balneário Piçarras provoca polêmica
O representante comercial Ivan Luiz Gruner, 40 anos, não acreditou quando chegou ao túmulo da mulher, no Cemitério Jardim Municipal de Balneário Piçarras. Uma caixinha usada para colocar velas e um porta-vasos, feitos de mármore foram arrancados pela Secretaria de Obras do município.
— Meu sogro me ligou na quarta à tarde para falar disso. Vim direto de Navegantes, onde estava trabalhando, para ver o que aconteceu. Estou indignado —, afirmou.
O sentimento de Ivan é o mesmo de outras centenas de moradores que têm parentes enterrados no local. Uma medida da Prefeitura, que pretende readequar o cemitério ao projeto original, de 1996, provocou revolta. A intenção é manter o padrão paisagístico do lugar, não permitindo a construção de túmulos, bancos e outros monumentos, a não ser a lápide assentada sobre a grama.
Quando percebeu que os objetos não estavam no lugar, Ivan procurou o zelador do cemitério, mas ele não estava.
— Quero saber quem mandou fazer isso. Custava me ligar? Até o prefeito tem meu telefone, o número da minha casa, o número da minha sogra. Isto é um desrespeito —, reclamou.
Ao perceber um amontoado de entulhos embaixo de um pinheiro, foi tentar achar o que foi tirado do túmulo da mulher.
— Isso é um material caro, é mármore. E agora, quem vai arcar com meu prejuízo? —, questionou Ivan.
O representante comercial lembrou que, em 2006 quando a mulher morreu, já havia outros túmulos que estariam desrespeitando o projeto original.
— Meu sogro viu e achou que ficaria bonito e não teria problema. Aliás, eu até concordo que se queira manter um padrão, mas que avise a população antes —, declarou.
Outro que estava revoltado era o empresário Carlos Roberto Ribeiro, 53 anos, que já registrou boletim de ocorrência para tentar impedir que o túmulo do pai seja alterado.
— Eu ajudei a construir o cemitério. Nossos parentes têm o direito de descansar em paz —, disse. Na quarta, ele colocou uma faixa em cima do portão de entrada: “Não mexa com nossos mortos. Cemitério não é ponto turístico.”
Protesto, agressão e bate-boca
Segundo os moradores, na semana passada o prefeito Umberto Teixeira teria mandado os funcionários da Secretaria de Obras tirarem os túmulos que estariam em desacordo com o projeto original. Revoltadas, algumas pessoas organizaram um protesto na segunda-feira e chegaram a depredar a sepultura da mãe do prefeito.
Como ele teria se recusado a ir até o cemitério para falar com os moradores, estes foram até na frente da Prefeitura. O bate-boca entre moradores e funcionários públicos terminou com um rapaz preso e o assessor de imprensa agredido.
O rapaz teria quebrado um poste e foi levado até a delegacia. Ele já foi solto e deve responder por depredação do patrimônio público. Já a mulher que agrediu o assessor pode ser processada por lesão corporal.
Segundo a assessoria da Prefeitura, o prefeito não foi até o cemitério porque tinha outros compromissos e teria sugerido para os moradores formarem uma comissão que ele a receberia na terça-feira, mas eles não aceitaram a proposta. E negou que a Prefeitura não divulgou que faria as mudanças no cemitério. O aviso teria sido feito por meio de jornais e rádios da região.
Nesta quarta, o prefeito divulgou um comunicado oficial, criticando as manifestações dos moradores.
— Lamentamos o desrespeito e a falta de civilidade demonstrada por um pequeno grupo. Vandalismo, desacato e intolerância deslegitima qualquer manifestação pública. Cabe a Justiça punir tais atos criminosos.
O prefeito também explicou a intenção de padronizar do cemitério.
— O padrão começou a ser quebrado de forma gradativa nos últimos anos, por conta da omissão do poder público, que tolerou a instalação de tais ornamentos em favorecimento a uns poucos com maior poder econômico.
E emendou dizendo que “a maior parte da população aprova e segue os padrões estabelecidos.”
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