Denúncia do MPF diz que esposa de desembargador era assediada até por advogados de outros Estados
Célia Cury é considerada elo central do grupo criminoso
A advogada Célia Maria Aburad Cury, casada com o desembargador José Tadeu Cury, é considerada pelo Ministério Público Federal como um dos "elos centrais" do esquema criminoso que envolvia venda de sentenças por membros do Tribunal de Justiça de Mato Grosso e Tribunal Regional Eleitoral.
"Pode-se apontar Célia como a estrutura central do grupo criminoso, tendo em vista que a ela se ligam tanto os destinatários finais dos pedidos (neste caso, os magistrados, sejam nas negociações efetivas de venda de sentença, sejam nos casos de exploração de prestígio) como os clientes/intermediadores (...) e os parentes de desembargadores", afirma o MPF.
Na denúncia encaminhada ao Superior Tribunal de Justiça, o subprocurador-geral da República, Eugênio José Guilherme de Aragão, relata a participação de cada "integrante da quadrilha".
"Célia Cury tem um cuidado exacerbado com as conversas ao telefone. Tenta não mencionar nomes nem números de processos, lançando mão de códigos de substituição simples como forma de disfarçar as conversas suspeitas", afirma na denúncia, a cuja cópia MidiaNews teve acesso.
No documento, Aragão relata que Célia tem um escritório de advocacia onde trabalha seu genro, Rodrigo Vieira Komochena, e que ela já teve como sócio Alessandro Jacarandá.
"Por ser casada com desembargador, Célia possui trânsito fácil entre os magistrados e, ao longo da investigação, foi possível identificar sua proximidade com o juiz convocado Círio Miotto, bem como os desembargadores Evandro Stábile e Carlos Alberto Alves da Rocha", diz o subprocurador.
Segundo investigação feita pela Polícia Federal, com acompanhamento do MPF, a advogada Célia Cury "mantém contato estreito" com parentes de magistrados.
"É o caso de Fernando Ojeda, filho do desembargador Donato Fortunato Ojeda; Maísa Izabel Saddi Ornellas de Almeida, filha do desembargador Manoel Ornellas de Almeida, e Tiago Vieira de Souza Dorileo, neto do desembargador aposentado Ernani Vieira de Souza", relata a denúncia.
No suposto esquema levantado através da Operação Asafe, ficou demonstrado, também, que a advogada e se utilizava de servidores do TJ-MT para obter detalhes sobre processos, "com a atuação especial de Jarbas Rodrigues do Nascimento, servidor lotado no gabinete do desembargador Tadeu Cury, bem como de sua filha Talita Carvalhosa Camargo, servidora lotada no gabinete do desembargador Guiomar Teodoro Borges".
Procurada
A denúncia, que está sendo analisada pela ministra Nancy Andrighi, do Superior Tribunal e Justiça (STJ), relata que, "pela fama adquirida, Célia é procurada por advogados diversos, inclusive, de outros Estados, a fim de obter decisão favorável em processos complexos".
"Isso demonstra a que ponto chegou a certeza de impunidade, reforçado pelo fato das dezenas de outros contatos identificados na investigação solicitando apoio para decisões favoráveis, que acabaram não tendo acompanhamento total por motivos diversos (as partes desistiram, o período de interceptação terminou/demorou a ser deferido, mudanças na distribuição, etc.)", afirma a denúncia.
O MPF afirma que o prestígio da advogada também era grande junto ao TRE. "Principalmente, por seu estreito relacionamento com o presidente da casa, o desembargador Evandro Stábile", diz a denúncia.
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